O governo confirmou 10 casos de intoxicação por metanol, com três mortes, devido ao consumo de bebidas adulteradas, levando à implementação de medidas de alerta, investigação e reforço no atendimento de saúde pública.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, confirmou em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 30, que já há 10 casos de intoxicação por consumo de bebida adulterada com metanol. Até o momento, três óbitos foram confirmados pelo Laboratório de Toxicologia Analítica do CIATox-Campinas, com base em um novo padrão identificado a partir de 1º de setembro.
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Lewandowski explicou que o caso chamou a atenção por representar uma mudança no padrão de contaminação. "Normalmente a ingestão de metanol ocorria com relação a pessoas em situação de rua. Houve uma mudança de padrão a partir de meados de setembro, quando nós verificamos que essas intoxicações passaram a ocorrer em bares e restaurantes", afirmou. A causa apontada foi a adulteração de bebidas como whisky, gin e vodka, consumidas pelo público habitual desses estabelecimentos.
Diante da detecção do novo padrão, o Ministério da Justiça acionou seu Sistema de Alerta Rápido, criado em fevereiro de 2025. "É um sistema que busca detectar em todo o país novas drogas e imediatamente emite uma informação para todo o País, sobretudo para a rede de saúde pública", explicou o ministro.
A partir daí, uma série de medidas foi deflagrada:
- Sexta-feira: O Sistema de Alerta Rápido emitiu um comunicado para todo o País.
- Sábado: A Secretaria Nacional do Consumidor (SENACON) emitiu uma nota técnica para todos os estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas, orientando sobre os cuidados para evitar novas intoxicações.
- Segunda-feira: Foi determinada a abertura de um inquérito policial pela Polícia Federal.
Lewandowski justificou a atuação da PF pela possibilidade de a rede de distribuição do produto adulterado "transcender os limites de um único estado". "Sendo uma ocorrência que transcende limites de um estado, isto atrai a competência da Polícia Federal", declarou.
Paralelamente, foi determinado ao secretário nacional do Consumidor, Paulo Pereira, que abrisse um inquérito administrativo para apurar as violações ao Código de Defesa do Consumidor.
'Situação é anormal', diz ministro da Saúde
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, classificou como "atípico" o surto de intoxicação por metanol registrado em São Paulo e anunciou um pacote de medidas de enfrentamento. Ele explicou que o Brasil registra uma média de 20 casos de intoxicação por metanol por ano, mas apenas em agosto e setembro já foram notificados 17 casos, concentrados no estado de São Paulo.
"Se pegarmos os números de casos de agosto e setembro, é mais ou menos o que aconteceria no ano como um todo", afirmou. "De fato, nós estamos numa situação que é anormal, é diferente de tudo que a gente tem na nossa série histórica em relação a intoxicação por metanol no nosso País", destacou o ministro.
Diante deste cenário, o Ministério da Saúde vai emitir uma Nota Técnica específica para todo o País, reforçando a definição de caso suspeito, os sintomas e o protocolo de atendimento. Paralelamente, determinou a notificação imediata de casos suspeitos, sem necessidade de confirmação do diagnóstico, para os centros de vigilância de cada estado, e vai reforçar a rede de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox), que oferecem orientação 24 horas.
Padilha também detalhou os sinais de intoxicação por metanol, que diferem de uma embriaguez comum e podem surgir de 12 a 24 horas após o consumo. Ele alertou para um sintoma inicial característico, que é uma dor distinta de uma simples queimação ou azia. Outro sinal grave é "qualquer percepção de alteração visual", como enxergar flashes de luz ou sofrer perda parcial da visão, causada pelo ataque das toxinas ao nervo óptico. Padilha explicou que o metanol, ao ser metabolizado pelo fígado, se transforma em substâncias como o ácido fórmico, que são "extremamente nocivas ao sistema nervoso central".
Diante de qualquer suspeita, a orientação do Ministério da Saúde é buscar ajuda imediata. "Começou a ter sinal, sintomas, procure de imediato um serviço de saúde", afirmou, alertando que não se pode fazer qualquer tentativa de desintoxicação caseira.
O ministro reforçou que toda a rede de saúde, de postos de saúde a hospitais, está apta ao manejo inicial, que inclui hidratação intensiva para proteger os rins. No entanto, a conduta essencial é o contato imediato com um dos 32 Centros de Informação e Assistência Toxicológica do País, que orientarão o uso do antídoto específico, um tipo de etanol medicinal registrado no Brasil, cuja administração, oral ou endovenosa, varia conforme a gravidade de cada caso.
Intoxicação por Metanol
Um Guia Rápido Sobre Sinais e Ações de Emergência
1. O Que é Metanol?
O metanol (ou álcool metílico) é um solvente orgânico, incolor e volátil, altamente tóxico para o consumo humano. É frequentemente confundido com o etanol (álcool de bebidas), mas seus efeitos no corpo são devastadores.
Solventes
Removedores de tinta e produtos industriais.
Combustíveis
Aditivos e álcool de posto adulterado.
Fluidos de Limpeza
Limpadores de para-brisas e anticongelantes.
Bebidas Falsificadas
Causa comum de envenenamento em massa.
2. O Caminho da Destruição no Corpo
A toxicidade não vem do metanol em si, mas dos subprodutos venenosos que o corpo cria ao tentar metabolizá-lo.
Ingestão de
Metanol
Metabolizado no fígado
Vira
Formaldeído
(Tóxico)
Convertido rapidamente em
Veneno Final
Ácido Fórmico
(EXTREMAMENTE Tóxico)
Acidose Metabólica Severa
O Ácido Fórmico torna o sangue perigosamente ácido, colapsando as funções vitais dos órgãos.
Dano ao Nervo Óptico
Ataca diretamente o nervo óptico, causando inflamação e morte celular, resultando em cegueira permanente.
3. Sinais de Intoxicação
Atenção ao Período de Latência!
Os sintomas graves podem demorar de 12 a 24 horas para aparecer. A pessoa pode se sentir bem logo após a ingestão.
Fase Inicial (Sintomas Gerais)
- Náuseas e Vômitos
- Dor abdominal forte
- Tontura e fraqueza
- Dor de cabeça intensa
Fase Grave (Emergência Médica)
- Visão turva, embaçada ou cegueira total
- Respiração rápida e profunda
- Confusão mental e alucinações
- Convulsões e Coma
4. O Que Fazer? Aja Rápido!
AÇÃO #1: LIGUE PARA A EMERGÊNCIA
Ligue IMEDIATAMENTE para
SAMU (192) ou Bombeiros (193)
Mencione claramente: "Suspeita de Intoxicação por Metanol".
AÇÃO #2: O QUE NÃO FAZER
- 🚫 Não induza o vômito.
- 🚫 Não ofereça leite, água ou qualquer líquido.
AÇÃO #3: TRATAMENTO HOSPITALAR
O tratamento foca em impedir a formação do veneno e removê-lo do sangue. As principais estratégias são:
Antídoto: Bloqueia a enzima que cria o veneno.
Diálise: Filtra o sangue para remover as toxinas.
Cuidados de Suporte: Corrigem a acidose e estabilizam o paciente.
