Há oito anos, uma moradora de Arujá (SP) transforma sua casa em um ponto turístico natalino, investindo até R$ 30 mil em decorações, com luzes, presépios e uma casa do Papai Noel, para manter viva a magia do Natal. Ela prepara tudo com meses de antecedência junto à família, inspirando a comunidade local e emocionando visitantes de todas as idades.
Ao passar pela Rua Espanha, na cidade de Arujá, na Região Metropolitana de São Paulo, os olhos brilham e não sobram dúvidas: o Natal chegou mesmo! O motorista de aplicativo que levava a reportagem do Terra também se admirou. "Nossa, que lindo", exclamou, em voz alta. Ele se referia à casa de Dona Vera, que fica na esquina da rua localizada no Jardim Rincão, e está completamente decorada para a época e reflete toda a magia natalina.
Várias árvores de Natal, um trenzinho com um ursão de pelúcia, um Papai Noel de ponta cabeça, além de um letreiro colorido escrito "Feliz Natal" e milhares de luzes nas cores verde, amarelo e vermelho compõem a decoração escolhida para a entrada da residência neste ano. E logo em frente, do outro lado da rua, tem mais: uma casa de Papai Noel aberta todos os dias, por quase um mês, para visitação, fotos e entregas de cartinhas, e, aos finais de semana, para encontrar também com o 'bom velhinho' e fazer os tradicionais pedidos.
Apaixonada pelo Natal, a comerciante Vera Lúcia Mendonça dos Santos, 70 anos, decora a casa assim há oito anos. Mas, se contar desde quando ela morava com os pais em outra cidade e ajudava a fazer uma decoração mais simples, já são mais de seis décadas. A paulista conta que o amor pela data que celebra o nascimento de Jesus Cristo, em 25 de dezembro, já nasceu com ela. "Acho lindo, fico muito emocionada em ver as crianças gostando", afirma, com os olhos marejados.
Dona Vera, como é chamada por amigos e vizinhos, diz que o período natalino traz memórias da infância, quando ela ficava encantada com as luzes. "Desde criança, eu gostava das decorações, do brilho que tinha que, na época, era menor. Via as luzinhas, achava lindo, ia ver a decoração da cidade. Preparava a decoração de casa, a comida, minha família sempre fez questão de estar todo mundo junto. O amor começou de dentro mesmo e nunca mais parou", recorda.
Ela nasceu em Araras, no interior de São Paulo, e morava com os pais e irmãos em uma casa humilde. Mesmo com pouco recurso financeiro, Vera lembra que a mãe sempre decorava "um pouquinho" os cômodos nesse período. "Minha mãe pegava um galho no mato, colocava algodão nas pontas, depois colocava um raminho com brilho, depois as bolas. Não era essa árvore que a gente compra hoje."
A comerciante se mudou para Arujá há 40 anos. Quando já morava no município e a mãe ficou doente e internada, foi a primeira vez que ela e o pai montaram juntos a árvore de Natal da casa. "Era natural, um Pinheiro, foi uma emoção ver o meu pai colocando as bolas", comenta, emocionada.
Preparativos desde o começo do ano
Com o apoio do marido e filhos, a decoração da residência para o Natal como ela faz hoje já começa a ser pensada todo início de ano. Dona Vera pesquisa referências na internet e, no máximo, em abril, conversa com o decorador contratado para montar o projeto. "A ideia é toda minha. O pessoal dá palpite, mas quem bate o martelo sou eu", brinca.
A maioria dos itens que compõem a decoração são os que já foram comprados pela comerciante ao longo dos anos e ficam guardados na casa do Papai Noel até a época de Natal. Geralmente, ela reaproveita os materiais, mas sempre acrescenta alguma coisa nova, que é alugada. "Neste ano, agregamos as bolas coloridas, que estão lindas, a árvore de Natal vermelha, o urso que não tinha", exemplifica.
O gasto é alto, segundo Vera, mas já é esperado e vale muito a pena. De acordo com a comerciante, ela desembolsa entre R$ 20 mil R$ 30 mil por ano e não tem patrocínio. "Não dá para ser menos, porque é muita coisa. E isso já conta a decoração, a energia, os aluguéis, a pessoa que eu contrato para ajudar a ficar na casa do Papai Noel." A conta de energia elétrica sobe, mas também já é calculada: "Aumenta, mas não é muito, porque essas luzes são econômicas, quase não queimam, então não dá muita despesa."
Neste ano, o caminhão com a decoração chegou no dia 15 de novembro, e a vizinhança já estava ansiosa para saber o que apareceria. "O pessoal pensou que eu não ia fazer mais nada. Até falaram que estava tudo parado. Eles gostam, as crianças cobram, é muito bom", afirma Vera.
A 'casinha' do Papai Noel
Crianças e adultos, não importa a idade, todos ficam admirados com a casa do Papai Noel. Com cerca de quatro metros quadrados, o espaço foi inaugurado em 2017. Antes era feito de madeira, mas depois passou por uma reforma e hoje é de alvenaria. Quando inaugurou, foi uma surpresa.
"O pessoal achava que era um ponto de ônibus, uma lanchonete, porque estava tudo tampado. Aí a gente fez uma surpresa para as crianças que passavam, porque aqui ao lado tem uma escola de música", recorda Vera.
Toda na cor vermelha e com luzes amarelas, a 'casinha' deste ano encanta. Ao chegar na porta de entrada, os visitantes leem "bem-vindo a casa do Papai Noel". Pelo 'tour' dentro do espaço, há guirlandas, iluminação especial, bonecos de Natal em vários tamanhos, presépios, bem como enfeites que tocam músicas natalinas, uma árvore de Natal que vai até o teto e uma poltrona gigante à espera do 'bom velhinho'.
Esse foi o quarto ano que a auxiliar de sala Isabella Paixão de Godói, 26 anos, visitou o lugar e achou a decoração "maravilhosa". "Cada ano está melhor", diz a moradora de Arujá (SP). Ela aproveitou para tirar muitas fotos e veio acompanhada do marido e dos filhos pequenos. "É uma emoção estar com a família, é para mostrar a magia do Natal para eles."
Do lado de fora da 'casinha', outro elemento também chama a atenção: um 'correio' lotado de cartas para o Papai Noel. Quando enche, Dona Vera recolhe as cartas e leva para casa para ler com a filha. 'Tem algumas que tocam o coração. É incrível'. A comerciante revela que já atendeu alguns dos pedidos.
'Você vê a carta, toca em você. Teve uma que faz uns dois anos. A criança queria ferramentas para mexer no jardim com a avó'. Ela pediu e entreguei para avó. Fiz a ação sem me apresentar", lembra.
'Bom velhinho', violinista e muita emoção...
Neste ano, a casa do Papai Noel abriu no dia 29 de novembro e poderá ser visitada até 21 de dezembro. A entrada é gratuita. Às 18h20 em ponto, quando já está escurecendo, as luzes acendem automaticamente, todos os dias, e famílias de todo canto se aproximam para assistir ao espetáculo.
Foi a primeira vez que o casal Cíntia Tomás Cordeiro, 38 anos, e Eduardo Guzzarri, 35, com a filha pequena, foram visitar o espaço. Eles se mudaram para a cidade no ano passado e souberam da casa do Papai Noel. "Fiquei bem admirada, a gente ficou curioso para vir aqui ver", diz Cíntia. "Achei encantador, também por ser uma propriedade particular, uma iniciativa de uma moradora", completa Eduardo.
No dia da inauguração foi "muita emoção" para Dona Vera. "A rua estava cheia, as crianças esperando e eu ansiosa. Porque eu não sabia como ia ficar tudo, podia dar certo ou podia dar errado. Mas foi demais, chorei muito, porque ficou muito lindo."
"É emocionante ver as pessoas vindo. Esses dias teve um entregador, ele saiu chorando. Ele saiu com lágrimas nos olhos, eu também fiquei com lágrimas nos olhos quando ele foi embora. Ele só entrou e falou: 'parabéns, Dona Vera', coisa mais linda do mundo", acrescenta.
Para completar, o espaço recebe a visita do Papai Noel e tem distribuição de pipoca e algodão doce aos fins de semana. "Por volta das 19h30, ele estaciona o trenó na rua debaixo e vem balançando o sino, o saco cheio de balas nas costas. As crianças esperando, a fila vai até lá no vizinho. Ele vem com a assistente do Papai Noel", diz Vera.
A terapeuta de Florais de Bach, Cristina Mara de Sousa Bolletta, 59 anos, foi o primeiro Papai Noel da casa, lá em 2017. Ela conta que, por ser mulher, as crianças desconfiavam um pouco e achavam o 'bom velhinho' diferente, mas os pedidos e a 'carinha de apaixonada' dos pequenos deixaram Cristina encantada na época. Mesmo após tantos anos, teve um pedido especial, no entanto, que ela não esqueceu.
"Eu perguntei: 'Qual pedido você quer fazer para o Papai Noel?'. E ela disse: 'Eu gostaria que meus pais parassem de brigar'. Eu não esqueço disso até hoje. Isso também faz a gente ter essa reflexão, das pessoas se olharem mais, estarem mais próximas nessa festividade que é o Natal, o nascimento de Jesus", destaca Cristina.
Por volta de 20h das sextas-feiras e dos finais de semana, o violinista Paulo Arthur Rodrigues da Cunha, 47 anos, também se apresenta em frente à casa do Papai Noel. Ao som de Bate o Sino Pequenino, Hallelujah (Aleluia) e Noite Feliz, não tem olhos que não ficam fixos e se emocionam.
"O repertório é mais voltado para o Natal. O que é muito legal que eu toco aqui na parte de cima, você vê o brilho das crianças, das pessoas, com toda essa decoração, com o espírito natalino. Eu acho maravilhoso. Para mim, o que vale muito é um olhar, um brilho nas crianças, um sorriso", afirma o violinista.
Paulo, que é vizinho de Dona Vera, relata que todo ano espera a decoração e já pergunta o que vai ter de novidade. Segundo ele, o espaço mudou bastante desde a primeira vez. "Era bem simplesinho. A casa desmontava, hoje é de alvenaria mesmo, bonita, que muita gente gostaria de morar."
O violinista ainda comenta que a vizinha se tornou inspiração para outros moradores decorarem a própria residência. "Mas é difícil se comparar. Por mais que você faça uma decoração linda, é difícil chegar nesse nível de perfeição que ela busca e traz para gente aqui da cidade", diz Paulo.
A magia do Natal
O ano nem acabou e Dona Vera já tem inclusive planos para o Natal de 2026. Ela fez suspense com as ideias que pretende trazer para a decoração do próximo ano, mas adiantou que sente falta de um trenó na casa do Papai Noel.
A comerciante diz que, "enquanto tiver forças", pretende continuar com o projeto. "Nem que for só uma luzinha, vai ter no meu muro". Ela afirma que não tem pedidos para o Papai Noel no momento, apenas agradecimentos, mas deseja que o espírito Natalino e a magia do Natal continuem vivos.
"É muito importante que a magia do Natal continue, por muitos e muitos anos. E que essa coisa de cativar as crianças nunca saia do coração, dar mais atenção para as crianças, elas são o nosso futuro. Que esse espírito natalino nunca acabe. O menino Jesus está sempre entre nós." -- Dona Vera