Marcelo do Rego transformou uma trajetória marcada por dor, depressão e colapsos emocionais em um relato de superação que conecta esporte, saúde mental e propósito de vida. Essa é a base de Do Tarja Preta à São Silvestre, livro no qual o autor reconstrói, de forma direta e honesta, o caminho que percorreu do fundo do poço emocional até a retomada do sentido de viver — simbolizada pela corrida de rua e pela tradicional São Silvestre.
Pai de gêmeos, maratonista, palestrante e empreendedor, Marcelo expõe episódios centrais de sua história, como abusos sofridos na infância, o divórcio dos pais, a falência do negócio familiar, o trauma de um assalto violento, o uso de medicamentos controlados desde a adolescência e o luto pela perda da mãe. Ao longo do livro, esses acontecimentos se conectam a períodos de tristeza profunda e pensamentos suicidas, apresentados sem filtros ou romantização.
Corrida como metáfora de superação
O "Tarja Preta" do título representa os momentos de colapso emocional, a dependência de medicamentos e o esvaziamento de sentido. Já a São Silvestre surge como metáfora do movimento, da resistência e do renascimento. Mais do que uma prova esportiva, a corrida simboliza a retomada da vida com propósito, a capacidade de seguir em frente e a celebração da sobrevivência.
Essa virada pessoal deu origem ao Movimento TPSS - Do Tarja Preta à São Silvestre, iniciativa que reúne palestras, mentorias, grupos de conversa e podcast com foco na promoção da saúde mental. A missão do projeto é impactar, ao longo dos próximos 30 anos, cerca de 11,7 milhões de brasileiros que convivem com a depressão, número estimado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Parte dos royalties do livro será destinada a instituições sem fins lucrativos voltadas ao cuidado emocional.
Saúde mental em foco
Reconhecido com o Prêmio Influência Positiva no 1º Congresso Internacional das Virtudes, em São Paulo, Marcelo direciona sua mensagem especialmente aos homens, público que ainda enfrenta barreiras culturais para pedir ajuda. Dados da OMS indicam que eles representam cerca de 75% das mortes por autolesão no mundo, o que evidencia a urgência de romper estigmas ligados à masculinidade e ao sofrimento emocional.
Além do relato autobiográfico, o autor apresenta conceitos práticos de desenvolvimento pessoal, como a tríade da mudança — Hábitos, Projetos e Pessoas — e o Fluxo da Mudança, estruturado em cinco etapas: Questionamento, Mentalidade, Atitude, Hábito e Habilidade. Ele ressalta, porém, que essas práticas não substituem o acompanhamento profissional com psicólogos e psiquiatras.
No centro dessa transformação está a paternidade. Marcelo afirma que os filhos, Joaquim e Samuel, foram o principal motor para a mudança de hábitos, o resgate do autocuidado e a reconstrução do sentido da vida. A experiência de ser pai o levou a repensar padrões de masculinidade, presença afetiva e legado.
Com narrativa sensível e aplicável, Do Tarja Preta à São Silvestre não se propõe a ser um manual de autoajuda, mas um convite ao movimento para quem busca reencontrar propósito, acolher a própria dor e seguir em frente, um passo de cada vez.