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Exposição no Masp conecta arte, cultura e natureza e vai muito além de pinturas de paisagens

Em cartaz até 2026, 'Histórias da Ecologia' reúne obras de várias partes do mundo e provoca reflexão sobre crise climática e futuro

3 out 2025 - 04h59
(atualizado em 7/10/2025 às 12h11)
Resumo
A mostra "Histórias da Ecologia", em cartaz no Masp até fevereiro de 2026, é destaque no podcast Futuro Vivo e explora a relação entre arte, natureza e sustentabilidade, com artistas globais e reflexões sobre a crise climática e o futuro.
Exposição está em cartaz no Masp, na Avenida Paulista
Exposição está em cartaz no Masp, na Avenida Paulista
Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO / Estadão

O resgate da relação humana com a natureza, unindo princípios da ecologia à cultura e à arte, está no centro da mostra Histórias da Ecologia, que estreou no começo de setembro no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), região central da capital paulista, e segue até fevereiro de 2026. O tema está mais quente que nunca: a poucas semanas da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), o Brasil vem falando de sustentabilidade com frequência.

A curadoria da exposição é de André Mesquita e Isabella Rjeille, entrevistados no sexto episódio do podcast Futuro Vivo. Formada em artes visuais, a curadora, que também é editora, já realizou trabalhos para a Bienal de São Paulo e para espaços culturais como a Casa do Povo. Já André é doutor em História Social pela USP e pesquisador das relações entre arte, política e ativismo. 

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Isabella relaciona o trabalho de curadora à escuta e ao olhar, essenciais para o entendimento tanto da arte como da natureza. "A gente trabalha o tempo todo observando. Observando o que está acontecendo no mundo, observando a produção artística, a produção cultural e, sobretudo, escutando o que os artistas estão falando, o que o público está falando, o que está acontecendo no nosso entorno".

A exposição tem como objetivo expandir o conceito de ecologia, além de analisar as relações entre seres humanos e animais, plantas, rios, florestas, montanhas e fungos, por meio do trabalho de artistas, ativistas e movimentos sociais. 

Organizadas em cinco núcleos --Teia da vida, Geografias do tempo, Vir-a-ser, Territórios, migrações e fronteiras e Habitar o clima--, as obras de 116 artistas revelam não apenas os efeitos da crise climática, mas também as raízes históricas do colonialismo, do racismo ambiental e do capitalismo global sobre corpos, territórios e ecossistemas.

"Todos os catálogos que a gente produz no Masp são organizados pelos curadores, então tem um trabalho de muita reflexão", pontua André. "A gente partiu justamente do trabalho curatorial, dessa relação de pensar a ecologia como um sistema de inter-relações", diz.

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Para os curadores, entre os principais destaques da mostra está a tapeçaria criada por Melissa Cody, artista da nação Navajo, que parte da tradição têxtil indígena e a projeta para o presente com novas cores e narrativas. "Para os Navajo, estar diante do tear é estar diante do universo, então, o tear é uma ferramenta de formulação e fabricação de mundos", classifica Isabella.

Isabella Argelli e André Mesquita, curadores do Masp
Foto: Reprodução/Terra

Muito além das pinturas de paisagem

Isabella garante que todas as obras irão surpreender e provocar reflexão. "Muita gente fala: 'ah, mas só vão ter pinturas de paisagem. Vão com essa ideia de arte e ecologia, que vão lá ver várias pinturas de paisagem ou coisa assim. Não foi necessariamente o nosso foco. A gente quis justamente tirar um pouco desse modo de pensar". 

Ao contrário de concepções que isolam a natureza como entidade exterior à sociedade, como pontua o descritivo da exposição, a ecologia é compreendida como trama relacional, um campo de forças em constante transformação, que questiona dicotomias como natureza/cultura, sujeito/objeto, humano/não humano.

Essa abordagem dialoga com propostas contemporâneas de uma virada ecológica nas ciências humanas e sociais, que repensam os modos de produção de conhecimento a partir da multiplicidade de mundos e ecossistemas.

Além disso, a diversidade geográfica dos artistas escolhidos foi uma escolha consciente no trabalho da dupla — e isso tem a ver também com ecologia. "A gente estava muito preocupado em trazer trabalhos de artistas do sul global, e aí entra também esse trabalho muito cuidadoso de trazer visões de artistas que estão na África, no Japão. Trabalhos de artistas que não aparecem tanto aqui no Brasil, e leituras contemporâneas dessa questão da ecologia", continua André. 

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"Temos uma presença grande de artistas do sul global, mas não se limita aí. Tem, por exemplo, artistas da Islândia. O interessante é justamente fazer essa conexão entre norte e sul, que são conexões importantes no que a gente entende hoje, no momento que a gente entende hoje de crise climática, que não respeita limites demarcados por nós, humanos, no mapa", segue a curadora.

No episódio do podcast, os curadores do MASP também falam sobre a história da relação entre arte e ecologia e abordam os desafios do presente para a criação de um futuro que queremos. Há reflexões sobre emergência climática, perda de biodiversidade, novos caminhos para pensar o futuro e uso de tecnologia.

André recorda como a adaptação tecnológica é uma questão em andamento. "O Masp ampliou significativamente as ações de mediação e programas públicos após a pandemia, migrando cursos, seminários e palestras para o formato virtual. Essa mudança permitiu alcançar um público mais diverso, incluindo pessoas de outros estados e países, além de manter parte das atividades presenciais no seu novo edifício.

"A gente tem tentado trazer o público mais diverso possível para as nossas exposições e para os nossos programas. Sobre a acessibilidade, todas as exposições do Masp contam com recursos acessíveis, que é um vídeo que a gente produz com uma consultoria e esse vídeo traz sempre análises de algumas obras da exposição. Em breve, a gente vai ter o conteúdo da Histórias da Ecologia, que fica disponível no YouTube e tem tanto a interpretação em Libras, como legenda, como a narração e a descrição de cada um desses trabalhos", finaliza André.

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O Masp fica aberto de terça-feira a domingo, e às terças a entrada é gratuita. Para visitar as exposições e o acervo, é necessário fazer o agendamento online pelo site do museu.

Fonte: Futuro Vivo
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