O que você faz com aquele look rasgado ou aquela lingerie velha? E o que acontece com as peças de roupa que não são vendidas nas lojas? No geral, o destino é o mesmo: tudo acaba virando resíduo têxtil. Com isso, pequenos retalhos de sobras de tecido nas etapas de produção das peças, por exemplo, acabam transformando-se em toneladas de lixo.
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“Estima-se que cerca de 40 mil toneladas de tecido são descartadas anualmente no deserto do Atacama, no Chile. Roupas não vendidas, em geral", explica a pesquisadora de moda sustentável e coordenadora de mobilização no Fashion Revolution Brasil, Marina de Luca. Segundo ela, no Brasil, a questão é, também, um problema.
“Apesar da política nacional de resíduos sólidos, hoje no Brasil não temos soluções institucionalizadas para o descarte têxtil, nem de empresas e nem de pessoas físicas. Cada um vai fazendo o que pode. É preciso que o poder público, unido ao poder privado, construa e ofereça possibilidades de tratamento e reinserção dessa sobra têxtil, de forma a começarmos a construir uma cadeia circular”, reforça a especialista.
De acordo com dados do Residômetro Têxtil, do Instituto Sustentabilidade Têxtil e Moda, só a cidade de São Paulo coleta, em média, 20 toneladas diárias de roupas pós-consumo e 35 toneladas de resíduos de corte.
Em paralelo, conforme apontado no último Índice de Transparência da Moda Brasil, publicado pelo Fashion Revolution no fim do ano passado, ainda falta transparência por parte das empresas do setor com relação à quantidade de resíduos têxteis que suas produções geram. O relatório reforça que ter acesso a isso é o primeiro passo rumo à criação de soluções de forma abrangente e sistêmica.
“Lembrando que o Brasil é um dos maiores produtores de vestuário do mundo, e o último País que ainda contém a cadeia completa desde a plantação ou extração do petróleo, passando pela produção do fio, corte e costura, e venda do produto final. Ou seja, esse é um tema essencial quando falamos de economia brasileira”, retoma Marina de Luca.
E o impacto ambiental da moda não se resume ao descarte. É preciso, também, se atentar às emissões geradas em torno das produções.
“Além da liberação de gases, a indústria da moda também é responsável pela poluição de aproximadamente 20% das águas totais do mundo, o tingimento de fios, lavagem de tecidos e curtimento de couro são grandes fontes de químicos altamente poluentes liberados na natureza. Além disso, há comprovações de desmatamento ilegal na Amazônia para criação de gado, com foco em venda de couro”, comenta a pesquisadora.
E o que fazer com as roupas?
O ideal, a princípio, é buscar manter a peça útil --seja a customizando, doando, revendendo ou algo nesse sentido. Se for o caso de, realmente, se tratar de resíduo têxtil, o material pode ser deixado em pontos de coleta especializados voltados ao que está sendo descartado. Em uma pesquisa rápida na internet é possível encontrar diversas iniciativas sustentáveis que fazem o reaproveitamento dos tecidos.