Falar sobre tecnologia é falar sobre paradoxos. E, no momento, a situação está dividida em 50% de desastre e 50% oportunidade. É o que avaliou a mestre em inteligência artificial e pesquisadora em tecnologia Nina da Hora durante o Encontro Futuro Vivo, que acontece nesta terça-feira, 26, com transmissão ao vivo pelo Terra. O painel também contou com a participação de Daniela Lerario, ambientalista e especialista em ação climática, Caio Vieira Machado, advogado especialista na interseção entre direito e tecnologia, e mediação de Victor Cremasco, sócio e CEO da Mandalah Brasil e host do podcast Futuro Vivo.
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Nina, como cientista da computação que debate inteligência artificial, considera como desastre o fato de a maior parte da implementação de tecnologias no Brasil já ter sido implementada em outros países há cerca de 10 anos. “O que vivenciamos no Brasil é resultado de outros países, que a maioria está no norte global”, explica.
Mas o fato de essas tecnologias estarem em evidência não significa que sejam únicas. Ela conta que há uma gama de tecnologias que não estão sendo faladas e que, em meio a isso, é preciso usar a tecnologia de forma decolonial. Diferente do norte global, na América Latina, o conhecimento não é construído em uma disputa de “quem é o melhor”, mas a partir da valorização do conhecimento local, avalia. E nisso, há muitas oportunidades.
Com relação à inteligência artificial, por exemplo, ela conta que o primeiro chatbot foi criado há mais de 35 anos. De lá pra cá, muita coisa mudou e a IA passou a ocupar um espaço muito maior na vida das pessoas em meio a um desenfreado avanço tecnológico e com pouca transparência. Para Nina, isso tem gerado riscos como a perda da noção de tempo, o bombardeio de informações e o impacto no pensamento crítico.
Ela evidencia, ainda, o risco de vieses – como os de gênero e raciais – pelo fato de as tecnologias em questão serem moldadas a partir de um olhar sobre um mundo específico, e normalmente sem deixar isso evidente. Nisso, há quem terceirize suas tomadas de decisões a partir de tecnologias sem nem saber quais são as regras por trás delas, e é a partir disso que violências costumam ocorrer.
“As pessoas que estão desenvolvendo [as novas tecnologias, como as IAs] são na maioria homens brancos com uma ideia de mundo e de sociedade, sendo a maioria do Vale do Silício”, diz, em referência à região que fica na Califórnia, nos Estados Unidos, conhecida como o centro global de inovações tecnológicas.
‘Soberania’
Uma forma de direcionar a situação é entender: qual é o problema para nós? É o que aponta Caio Vieira Machado, advogado especialista na interseção entre direito e tecnologia, doutor pela Universidade de Oxford e pesquisador de Harvard em justiça algorítmica e regulação de inteligência artificial. Para ele, essa soberania é muito relevante quando o assunto é o avanço tecnológico.
“Quando falamos de tecnologia, falamos de toda uma tecnologia de valores, e que agora está mais em disputa do que nunca”, pontua o especialista. E nisso, há um paradoxo. Mas ao passo que se quer desenvolvimento, não se pode “entregar a alma”, disse.
Além disso, em um contexto onde houve um retrocesso em âmbito de transparência, de acesso à informação das grandes empresas de tecnologia, ele ressalta a importância de regulamentação das big techs -- tema que segue em discussão no Brasil. “É pensar tudo isso na perspectiva do nosso interesse”, ressalta o advogado.
A tecnologia é emergente, mas Daniela Lerario alerta. Ela, que é bióloga ambientalista, especialista em ação climática, gestão de resíduos e economia circular, traz à tona a importância de se fazer presente no online e no offline. “Autonomia na tomada da decisão”, reforça.