Entre 1985 e 2024, a Amazônia perdeu 51,3 milhões de hectares de vegetação nativa, com o aumento da temperatura e a desregulação do clima, apesar da redução de 51% no desmatamento entre 2022 e 2024.
Nesta sexta-feira, 5, é comemorado o Dia da Amazônia. Mas não há tantos motivos para comemorar assim. Um levantamento feito pelo Terra mostrou que entre os anos de 1985 e 2024 a Amazônia perdeu uma área de vegetação nativa maior do que a Espanha e quase que o tamanho da França. Os dados foram extraídos da plataforma MapBiomas.
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Em 1985, a área de cobertura de mata nativa da Amazônia no Brasil correspondia a 380.786.853,81 hectares. Em 2024, esse número representava o total de 329.399.460,97 hectares.
Essa perda de 51.387.392,84 hectares de mata nativa corresponde a aproximadamente 513,9 mil km² de extensão. Maior que o território da Espanha, que tem 505 mil km², e bem próximo do tamanho da França (552 mil km²).
Apesar do histórico dos últimos 40 anos ser preocupante, entre 2022 e 2024, o desmatamento caiu 51%, atingindo seu menor valor em 2024, com 6.075 km² desmatados no período, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Os Estados do Pará, Amazonas, Rondônia Mato Grosso e Acre foram os que mais tiveram quedas expressivas no desmatamento. Já Roraima, Amapá e Maranhão foram os únicos a apresentar aumento do desmatamento do bioma entre 2022 e 2024.
Efeitos na desregulação do clima
No entanto, mesmo com o Brasil caminhando para uma redução considerável do desmatamento do bioma, é importante lembrar neste Dia da Amazônia, que a perda de floresta nativa influencia diretamente no aumento da temperatura e na desregulação do clima como um todo.
De acordo com um estudo publicado na revista científica Nature Communications, o desmatamento na Amazônia aumentou significativamente as temperaturas do ar na superfície e diminuiu a precipitação durante a estação seca no bioma.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) descobriram que, entre os anos de 1985 e 2020, a chuva na estação seca na Amazônia diminuiu 21 milímetros por década. Desse total, 74% é atribuído ao desmatamento, enquanto o restante está ligado a mudanças globais e ao clima como um todo.
Além disso, a temperatura máxima no bioma aumentou cerca de 2°C nos últimos 35 anos, sendo que 16,5% desse crescimento é atribuído diretamente ao efeito da perda florestal.
Como pontua Henrique Pereira, doutor em Ecologia e diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), a Amazônia tem papel fundamental no equilíbrio climático.
“Cerca de 20% da água doce que chega ao Oceano Atlântico sai do Rio Amazonas. Toda a chuva na região, em parte, é produzida pela própria floresta através do vapor do Oceano Atlântico que passa por uma reciclagem. Então, a floresta é uma grande ‘bomba d’água’ com a sua evaporação e transpiração, e parte dessa quantidade de vapor é exportada para outros biomas da América do Sul através dos rios voadores” -- Henrique Pereira
Na opinião do especialista, um ponto de preocupação em relação ao combate ao desmatamento é o recente debate ligado à Lei 15.190/2025 (Lei Geral de Licenciamento Ambiental). O Brasil pretende zerar o desmatamento até 2030, mas a falta de fiscalização na Amazônia pode representar um grande impasse nesse objetivo.
"A preocupação é de que a nova Lei do Licenciamento Ambiental fragilize este instrumento, abrindo caminho para que a reconstrução da estrada se dê sem a devida qualidade ambiental necessária. As medidas essenciais são redobrar as ações de fiscalização de órgãos federais, estaduais e municipais, mas não apenas com penalidades. É necessário também pensar em soluções de recuperação das áreas degradadas, reintegrando-as ao processo produtivo. E na Amazônia, [fortalecer] políticas de ordenamento territorial, regularização fundiária e a destinação das terras públicas”, conclui.