Bruno e Joyce Xavier, pais de Benício, que morreu aos seis anos após ser medicado com uma dose de adrenalina maior do que a indicada, disseram que notaram um despreparo da médica responsável pelo atendimento do filho e da equipe do Hospital Santa Júlia, em Manaus, ao lidar com a prescrição errada.
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Em entrevista ao Terra Agora, programa exibido no YouTube do Terra nesta quinta-feira, 4, os pais de Benício relembraram que levaram o garoto ao hospital porque ele estava com um quadro de tosse há cinco dias e havia tido um quadro de febre do dia anterior.
Segundo Joyce, o filho passou pela triagem e não foi considerado um caso de urgência. Benício foi atendido após uma hora de espera, e a médica Juliana Brasil Santos recomendou que ele receberia medicação, faria uma lavagem nasal e seria administrada adrenalina. Como Benício já havia feito inalação com adrenalina, ela imaginou que o procedimento se repetiria.
Porém, a médica prescreveu que Benício deveria receber 3 ml de adrenalina na veia. "A minha esposa, inclusive, questionou a técnica de enfermagem e perguntou onde estava a nebulização, porque ele nunca havia recebido adrenalina na veia. A técnica também comenta que nunca havia aplicado, mas que iria seguir como estava prescrito", contou Bruno.
"É uma dose cavalar para uma criança de 6 anos, pesando aproximadamente 21 quilos. Imediatamente, ele fica branco, o pé amarelado, começa a se contorcer. Ele fala: 'Mãe, meu coração está queimando'. A gente viu que algo não estava certo, o olho dele estava vermelho", contou o pai do garoto.
Bruno disse que a médica Juliana atendeu Benício quando o menino começou a passar mal, mas afirmou que ela ficou no celular durante a maior parte do atendimento. "Lembro dela em alguns casos estar muito no celular. Não me lembro dela ter alguma atitude e falar com alguém para fazer alguma coisa. A gente percebeu muito despreparo. Em nenhum momento, a gente viu alguma atitude concreta de uma ação para tentar salvar nosso filho."
Os pais do garoto contaram que ele foi levado a uma sala de emergência antes de ser transferido para a UTI, onde foi entubado após três tentativas. Na UTI, ele sofreu três paradas cardíacas antes de morrer no dia 23 de novembro.
"Não está sendo fácil, mas a gente tem que resistir. A gente fala que o nosso luto está virando luta perante a Justiça. Queremos que todos os envolvidos sejam punidos por tudo que não foi feito pelo nosso filho", disse Bruno.
"A gente não quer vingança, a gente quer justiça e que isso não aconteça com outras crianças. Que o Benício seja um marco para que os protocolos, a legislação e as regras sejam cumpridas. A gente não vê o poder público atuante para que haja fiscalização. A gente só vê fiscalização quando há uma morte como a do Benício. A gente não quer que isso aconteça com outra família, a dor que a gente sente hoje é de sagrar o coração", concluiu Bruno.