Sem turistas e em crise, Belém volta a celebrar o Natal após dois anos de guerra em Gaza

As celebrações de Natal e Ano Novo retornaram a Belém após dois anos de silêncio devido à guerra em Gaza. A violência não cessou nem na Faixa de Gaza nem na Cisjordânia, mas em 2025 Belém escolheu projetar esperança - num contexto em que seus habitantes sofrem com a maior crise econômica em décadas.

24 dez 2025 - 13h03

Janira Gómez Muñoz, correspondente da RFI em Jerusalém

O conflito afastou turistas e peregrinos da localidade histórica. Nos últimos dois anos, não houve celebrações, em solidariedade às vítimas da ofensiva israelense contra o Hamas em Gaza. A violência mergulhou a cidade na tristeza - 85% da economia de Belém depende do turismo.

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Este ano, os sinos voltaram a tocar. Em frente à basílica que abriga a gruta onde Jesus nasceu, um Papai Noel atrai as famílias, que posam para fotos diante da árvore de Natal de 15 metros de altura.

"Todos os dias, meu pai me dizia: 'Vá abrir a loja', e eu respondia: 'Mas pai, qual é o sentido, se não tem ninguém aqui?'. E ele então dizia: 'É pela esperança, pela nossa história!'", conta Rony Tabash, vendedor de artigos religiosos e lembranças natalinas.

Rony é um dos poucos vendedores de crucifixos e presépios de madeira de oliveira que ainda não fechou as portas. Seu avô abriu a loja em 1927 e agora ele herdou um negócio que emprega 25 famílias.

"Ninguém tem vindo a Belém, e tem sido muito difícil para nós e para todas as famílias que esculpem madeira de oliveira", diz ele.

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Vendas mais difíceis que no período da Covid

Na mesma rua, Jack Giacaman esculpe presépios, como faz há 35 anos. "Os últimos dois anos foram os piores das nossas vidas. Mesmo durante a Covid, passamos por momentos difíceis, não havia turistas, mas pelo menos conseguíamos fazer algumas vendas", compara.

Ele se mostra pessimista ao relatar que Israel aumentou o número de postos de controle. A medida afeta não só os lojistas, mas também os taxistas, donos de hotéis e guias turísticos.

"Israel transformou Belém em uma gigantesca prisão fechada. Estamos sofrendo muito e dependemos cada vez mais do apoio de familiares que moram no exterior. Meu irmão trabalhava comigo e foi para outro país sustentar a família", aponta.

Cerca de 4 mil pessoas emigraram da cidade, que tinha 32 mil habitantes. Em dois anos, a taxa de desemprego e pobreza aumentou 60%, segundo o prefeito Maher Nicola Canawati. Ele decidiu injetar "esperança" natalina como um primeiro passo para revitalizar a economia.

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"Quisemos trazer esperança, porque muitas pessoas a perderam - e quando isso acontece, é o fim. Sem esperança, não podemos seguir em frente", disse o prefeito à RFI.

Desfile de escoteiros

O governante afirma estar confiante de que Belém voltará a atrair peregrinos, por ser um lugar seguro e berço do cristianismo. Ao som de gaitas de foles e tambores, escoteiros palestinos desfilaram pelas ruas de Belém nesta quarta-feira.

Centenas de pessoas lotaram as ruas da cidade para assistir ao desfile na icônica Praça da Manjedoura, cantando canções natalinas tradicionais.

"Dá para sentir que o Natal realmente chegou", exclamou Milagros Anstas, de 17 anos, em seu uniforme azul e amarelo. "É um dia cheio de alegria, porque antes não podíamos comemorar por causa da guerra", disse ela à AFP.

Assim como em outros países do Oriente Médio, os cristãos representam uma minoria na Terra Santa, com uma comunidade de 185 mil pessoas em Israel e 47 mil nos territórios palestinos.

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Com AFP

A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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