IA, festas virtuais e avatares são usados para fugir da realidade no Natal

"No Natal, passo meu tempo navegando na internet." "Para as festas, terei um avatar." Refugiar-se no mundo virtual é o plano de muitas pessoas para evitar as celebrações de fim de ano. Agora, a inteligência artificial também entra na festa, integrada a curiosos animais de estimação virtuais que poderiam ajudar a lidar emocionalmente com o estresse do Natal.

24 dez 2025 - 12h30

Na França, dois milhões de idosos vivem em situação de isolamento e mais de 750 mil em estado de morte social (quase nunca interagem com outras pessoas). Esse número alarmante, em constante aumento, revela a violência da solidão enfrentada por essas pessoas, especialmente no fim do ano, segundo a organização beneficente Petits Frères des Pauvres (Pequenos Irmãos dos Pobres).

O boneco Ropet Kamomo tem inteligência artifical integrada.
O boneco Ropet Kamomo tem inteligência artifical integrada.
Foto: © https://ropetai.com/ / RFI

Para outros, porém, a solidão é uma forma de fuga durante esse período, que lhes causa mais sofrimento do que prazer. "O Natal traz consigo a obrigação social de amar uns aos outros. Temos de corresponder à imagem idealizada das festas, repletas de união", explica o psicólogo Sébastien Dupont. Quando a norma da alegria é imposta a todos, inevitavelmente surgem vítimas.

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Para escapar dessa situação, nada melhor do que abrir discretamente uma porta de saída virtual. Muitos — senão a maioria — passarão o Natal navegando em seus iPhones, olhando o feed do Instagram e do TikTok, apenas para perceber que todos parecem entediados ou que as festas são sempre melhores na casa dos outros. Essa "rolagem compulsiva" natalina, o ato de percorrer infinitamente o feed em busca de conteúdo, é às vezes descrita como "rolagem mórbida".

Com ou sem festas, o uso das redes sociais não apenas se intensificou, como também se tornou patológico, reproduzindo mecanismos semelhantes aos do vício, de acordo com um estudo publicado na ScienceDirect, que denomina esse problema de Transtorno de Uso de Redes Sociais (TURS). Esse comportamento pode ter repercussões significativas na saúde mental, aumentando níveis de estresse e ansiedade, segundo outro estudo sobre os impactos de vídeos de curta duração, realizado por pesquisadores da Universidade de Griffith, na Austrália.

Tamagoshi high tech

Para recuperar um pouco de doçura, o que poderia ser melhor do que uma IA amigável? Algumas marcas prometem uma nova arma contra a solidão, como o minirobô Ropet Kamomo, que emite um calor suave capaz de simular a sensação de abraçar um ser vivo, algo especialmente reconfortante durante uma véspera de Natal solitária. 

Os olhos do robô exibem objetos ou emojis relacionados ao que ele "vê": a árvore de Natal, os presentes. Ele também dança ao ouvir música, reconhece rostos e pode criar vínculos com a pessoa com quem passa mais tempo. O Ropet abre os braços para um abraço quando detecta uma emoção negativa — o que pode funcionar como apoio emocional durante a ceia de Natal.

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Outra proposta é o boneco Moflin, que já vem causando sensação. Criado no Japão, um país conhecido por sua fascinação por robôs e realidades virtuais, ele é incrivelmente fofo e se assemelha a um Tamagotchi moderno, reconhecendo seu dono por voz e gestos. Abraços frequentes o deixam feliz e calmo, enquanto a negligência provoca estresse e até tristeza.

"Temos que aceitar que o Natal pode ser doloroso"

No entanto, ninguém é realmente obrigado a celebrar, muito menos a trocar presentes.

Para muitas pessoas, o Natal pode representar um tormento psicológico no fim do ano. É isso que se observa em fóruns da rede social Reddit dedicados à comunidade dos "odiadores do Natal".

Enquanto alguns relatam traumas reais em suas postagens, outros expressam um medo profundo de passar o Natal com a família. Todos acabam lamentando a solidão que essa situação acarreta.

"Existe uma imposição social, uma pressão social e comercial para ser feliz durante esse período e não ficar sozinho, o que leva pessoas solitárias a se isolarem ainda mais, provocando um forte sentimento de vergonha e, em alguns casos, sensações injustificadas de abandono, fracasso na vida ou de não ter conseguido criar vínculos suficientes", explica a psicanalista Sophie Braun.

Avatares ou fotos de Natal

Outra opção são as festas virtuais. Elas acontecem online, com o uso de avatares, entre pessoas que estão sozinhas, moram no exterior ou vivem em comunidades digitais. No mundo virtual, não há limites claros para o consumo.

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Também é possível passar a véspera de Natal jogando videogame ou assistindo a uma série, em isolamento — na segurança do lar; acompanhando transmissões natalinas no Twitch ou no YouTube para sentir um espírito natalino virtual; ou participando de videochamadas com amigos e familiares, com jogos, concursos ou refeições compartilhadas à distância.

Em todos os casos, os avatares ou fotos de perfil dos participantes dessas celebrações costumam exalar a magia do Natal, com Papai Noel, elfos e suéteres natalinos.

A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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