Em Gaza, Natal foi celebrado antes da data pela igreja católica

Em Gaza, onde o acesso permanece restrito, o patriarca de Jerusalém celebrou a missa de Natal antes da hora, no último domingo (21). Seiscentos cristãos celebraram a festa em Gaza, apesar da guerra.

24 dez 2025 - 12h36

Rami El Meghari, correspondente da RFI na Faixa de Gaza, e Frédérique Misslin, correspondente em Jerusalém.

Cardeal Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalem, celebrou missa no último domingo, 21, em Gaza.
Cardeal Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalem, celebrou missa no último domingo, 21, em Gaza.
Foto: AFP - OMAR AL-QATTAA / RFI

O patriarca latino de Jerusalém obteve uma rara autorização para viajar ao enclave. O cardeal Pierbattista Pizzaballa visitou os fiéis católicos palestinos e celebrou a missa na Cidade de Gaza.

Publicidade

Dimitri Bolos, um paroquiano que participou da celebração na igreja em Gaza, lamenta as limitações que os cristãos enfrentam na localidade. "É muito difícil porque, antes, podíamos sair de Gaza duas ou três vezes por ano. Agora, não nos permitem mais participar de cerimônias em Jerusalém e Belém", disse ele.

O cardeal Pierbattista Pizzaballa chegou ao enclave palestino na sexta-feira (19). Ele celebrou a missa de Natal no domingo na Igreja da Sagrada Família, a única paróquia católica no território. "Não vamos esquecer o que aconteceu", declarou durante seu encontro com os fiéis no território devastado por mais de dois anos de guerra.

'Um dia doce' em meio à guerra

"O Natal é bom, mas a guerra nos afetou muito. Éramos felizes em casa", descreve o menino Hazem, de 9 anos. "Os israelenses nos disseram: 'Saiam daqui, vamos bombardear um prédio'. Então, nos refugiamos na igreja", conta ele.

Esther, de 13 anos, quer aproveitar o Natal. "Hoje foi o dia mais doce. Decoramos a árvore. A igreja está pronta e estamos todos juntos", exclamou a adolescente, radiante.

Publicidade

Após a missa, e enquanto um frágil cessar-fogo permanece em vigor, o patriarca de Jerusalém soltou duas pombas no céu sobre Gaza.

Cessar-fogo ameaçado

O cessar-fogo vigora na Faixa de Gaza desde 10 de outubro, mas Israel e o Hamas acusam-se mutuamente de violações. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, acusou o Hamas de romper o acordo e prometeu retaliar, após um soldado ter sido ferido por um dispositivo explosivo em Rafah, no sul do território palestino.

Em um comunicado, o gabinete do primeiro-ministro pediu ao Hamas que respeite integralmente o pacto de outubro, que inclui a desmilitarização do grupo islâmico e o proíbe de participar da administração do enclave. "Israel responderá de acordo", acrescentou o comunicado.

Segundo o Exército israelense, um dispositivo explosivo foi detonado contra um veículo militar na área de Rafah, ferindo levemente um oficial. A violência diminuiu, mas não cessou desde que a trégua entrou em vigor na Faixa de Gaza. De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, Israel matou mais de 400 pessoas no território desde a suspensão oficial das hostilidades.

Casa demolida na Cisjordânia

Nesta quarta-feira (24), o Exército israelense anunciou ter demolido, na Cisjordânia, a casa de um palestino acusado de participar de um ataque em julho, que matou um israelense. O jovem, de 22 anos, foi morto em uma área comercial perto do cruzamento de Gush Etzion, a cerca de 15 quilômetros de Jerusalém.

Publicidade

Tratores do Exército chegaram à vila de Bazzaryah, no norte da Cisjordânia ocupada, destruindo a casa, que já estava vazia, pertencente à família de Malek al-Jabar Salem — um dos suspeitos do ataque, que tinha 23 anos na época. Os dois suspeitos pela morte foram mortos, segundo as Forças Armadas de Israel. 

Hazem Yassine, chefe do conselho municipal de Bazzaryah, condenou o ataque como um "crime hediondo". Ele disse à AFP que as forças israelenses haviam isolado as entradas da vila ao amanhecer, em preparação para a demolição, que foi realizada por duas escavadeiras.

"As escolas foram fechadas por precaução", disse ele, acrescentando que a família havia se mudado após ser notificada, cerca de um mês antes, da decisão de demolir a casa.

Operador financeiro do Hamas

O Exército israelense também identificou como sendo um funcionário da área financeira do braço armado do Hamas o homem morto há duas semanas em uma de suas operações na Faixa de Gaza. Abdel Hay Zaqout morreu em 13 de dezembro em um ataque aéreo, "enquanto estava em seu veículo ao lado de Raed Saad", disse o porta-voz em árabe das Forças Armadas, Avichay Adraee.

Publicidade

Embora Raed Saad seja descrito pelas autoridades israelenses como "um dos arquitetos" do ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023 em Israel, Abdel Hay Zaqout "pertencia ao departamento financeiro do braço armado do Hamas", segundo um comunicado publicado no X por Avichay Adraee.

"Ao longo do último ano, Zaqout foi responsável por arrecadar e transferir dezenas de milhões de dólares para o braço armado do Hamas, a fim de garantir a continuidade da luta contra Israel", especifica o comunicado. O líder do Hamas na Faixa de Gaza, Khalil al-Hayya, confirmou no dia seguinte a morte do "comandante Raed Saad" e "seus companheiros".

Com AFP

A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se