Jérémie Lanche, correspondente da RFI em Genebra,
Segundo o balanço da entidade, o problema também atinge, sobretudo, o trabalho dos investigadores do Alto Comissário Volker Türk, responsáveis por apurar violações de direitos humanos.
"No momento, temos entre 50% e 60% dos fundos necessários. Isso significa que estamos menos capazes de documentar as violações dos direitos humanos. Por exemplo, para a República Democrática do Congo, não temos dinheiro para implementar a comissão de inquérito [criada no início do ano]. Portanto, sim, as consequências são muito graves", alerta Volker Türk.
Além disso, a falta de recursos afeta também a estrutura da organização, provocando uma espécie de efeito dominó que acarreta na precarização do trabalho de investigação.
O Alto Comissariado para os Direitos Humanos representa apenas 4% do orçamento da ONU. Mas, por falta de dinheiro, já teve que eliminar 300 postos de trabalho desde o início do ano. Outras demissões podem acontecer. Fala-se também em transferir os escritórios de Genebra, na Suíça, para Viena, capital austríaca, ou Nairóbi, capital do Quênia.
Financiamento para grupos anti-direitos humanos
Na contramão deste cenário, estão atores globais que se opõem ao trabalho do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Por consequência, esses adversários têm sido cada vez mais numerosos, mais visíveis e sem problemas em angariar fundos.
"Na Europa, os grupos anti-direitos humanos ou contra a igualdade de gênero receberam cerca de US$1,2 bilhão entre 2019 e 2023. Grande parte desse dinheiro vem de doadores na Europa, na Rússia e nos Estados Unidos", ressalta Volker Türk.
Diante de líderes que viram as costas aos direitos humanos, Türk aposta em uma aliança que reuniria os Estados, mas também as cidades, a sociedade civil e os filantropos, para colocar os direitos humanos no centro da ação pública.