"Nossa capacidade de dar o impulso final e chegar a um acordo depende do nosso trabalho e da vontade política da outra parte, em especial em um contexto em que Kiev e seus apoiadores, particularmente dentro da União Europeia, não favoráveis a um acordo, redobraram seus esforços para sabotá-lo", disse o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov.
"Sem uma solução adequada dos problemas que estão na raiz desta crise, será simplesmente impossível chegar a uma solução final", continuou Ryabkov. Ele pediu a adesão aos termos estabelecidos na cúpula entre os presidentes Vladimir Putin e Donald Trump no Alasca, em agosto de 2025. Caso contrário, alegou, "nenhum acordo poderá ser alcançado".
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apresentou na quarta-feira (24) a versão revisada do plano norte-americano, atualizada após negociações com Kiev, em comparação com a versão original apresentada há mais de um mês. Este novo documento de 20 pontos propõe um congelamento das linhas de frente sem oferecer uma solução imediata para as questões territoriais e abandona duas exigências-chave de Moscou: a retirada das tropas ucranianas da região de Donbas e um compromisso juridicamente vinculativo da Ucrânia de não aderir à Otan.
"Este plano, se é que podemos chamá-lo assim, difere radicalmente dos 27 pontos que temos desenvolvido nas últimas semanas, desde o início de dezembro, em colaboração com o lado norte-americano", observou Ryabkov nesta sexta-feira.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, indicou que um "contato telefônico" havia "ocorrido" entre russos e norte-americanos, mas se recusou a revelar os detalhes porque "a divulgação desta informação poderia ter um impacto negativo no processo de negociação".
"Foi acordado continuar o diálogo", insistiu ele, durante uma coletiva de imprensa. Peskov havia explicado anteriormente que seu país estava "formulando sua posição" em resposta ao plano norte-americano revisado com os ucranianos.
Zelensky voltará a se reunir com Trump
Volodymyr Zelensky terá um encontro com o norte-americano Donald Trump na Flórida, no domingo (28), para discutir a questão sensível dos territórios, indicou a presidência ucraniana.
O documento apresentado por Kiev pede o congelamento da atual linha de frente, sem oferecer uma solução imediata para as reivindicações territoriais da Rússia, que abrangem mais de 19% da Ucrânia. Zelensky disse que queria discutir essa questão pessoalmente com o presidente Trump.
"Temos uma agenda cheia", afirmou ele a repórteres. Segundo Zelensky, o encontro se concentrará em "questões sensíveis", como o destino de Donbas, uma região industrial e de mineração no leste da Ucrânia reivindicada por Moscou, e a usina nuclear de Zaporíjia, ocupada por soldados russos no sul.
Os dois também irão abordar as garantias de segurança que os países ocidentais poderiam fornecer à Ucrânia, como parte de um possível acordo de paz com a Rússia, continuou ele. "Há certas questões que só podemos discutir em nível de liderança", indicou o presidente ucraniano.
Ataque a Kharkiv
Enquanto se aguarda um avanço nas negociações, os combates e bombardeios continuam. Na sexta-feira, duas pessoas morreram e quatro ficaram feridas em um ataque aéreo russo a Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, no nordeste do país, anunciou o governador regional Oleg Synegubov no Telegram.
Os ucranianos, por sua vez, alegaram na quinta-feira ter atingido uma importante refinaria de petróleo no sul da Rússia com mísseis de longo alcance britânicos Storm Shadow.
Nas linhas de frente, o exército russo acelerou seus avanços nos últimos meses. Na terça-feira, as tropas ucranianas anunciaram sua retirada de Siversk, cidade no leste do país, diante dos ataques inimigos.
A conquista oferece aos militares russos a oportunidade de se aproximarem das últimas grandes cidades da região de Donbas ainda sob controle ucraniano: Kramatorsk e Sloviansk.
As negociações ocorrem em um contexto de apagões em muitas partes da Ucrânia, após uma série de ataques russos às infraestruturas energéticas do país.
Com AFP