Kosovo vota em eleições legislativas antecipadas, na esperança de superar estagnação política

Após meses de estagnação política, o Kosovo realiza eleições legislativas antecipadas neste domingo (28), a única solução que os partidos profundamente divididos conseguiram encontrar para romper o impasse. O atual primeiro-ministro, Albin Kurti, é o favorito, apesar de não ter conseguido formar uma coligação ao longo desse período de crise.

26 dez 2025 - 16h27

Marta Moreno Guerrero, correspondente da RFI em Pristina, com agências

Kosovo vota em eleições parlamentares antecipadas na esperança de superar estagnação política. (Imagem ilustrativa)
Kosovo vota em eleições parlamentares antecipadas na esperança de superar estagnação política. (Imagem ilustrativa)
Foto: © Armend NIMANI / AFP / RFI

Após mais de sete meses de impasse parlamentar, Albin Kurti, líder do partido Vetëvendosje (VV), que venceu as eleições em fevereiro deste ano, mas sem maioria, não conseguiu negociar com os outros partidos e formar um governo.

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Aapós uma segunda tentativa fracassada, o presidente do Kosovo, Vjosa Osmani, anunciou a realização de novas eleições marcadas para este domingo. "Há talvez muitas mágoas políticas, e eles não querem votar na pessoa que Albin Kurti propôs", disse à RFI Genta, uma jovem de 26 anos, moradora da capital Pristina.

O VV de Kurti tem uma vantagem, mas a perda de apoio ao partido nacionalista albanês, que conquistou a maioria nas eleições legislativas de 2021, não passou despercebida. Nesse sentido, o Vetëvendosje perdeu muito espaço entre os jovens, que lhe deram a vitória há quatro anos, insatisfeitos com o não cumprimento de promessas de campanha.

Seu mandato, que prometia focar nos "problemas reais" do país, como desemprego e serviços sociais, acabou se concentrando na situação dos municípios predominantemente sérvios, no norte, e nas tensões com Belgrado. Assim, Kurti mal conseguiu 42% dos votos em fevereiro, e neste domingo espera aumentar esse número com os votos de parte da população que retornou ao Kosovo para as festas de fim de ano.

Em 2021, o resultado foi positivo para sua coligação, que alia política social de esquerda e nacionalismo. Na ocasião, o partido de Kurti venceu as eleições antecipadas com mais da metade dos votos e a maioria no Parlamento.

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Questões históricas em jogo

Além de definir a futura formação do Parlamento kosovar, o pleito deste domingo é influenciado por questões diplomáticas com países vizinhos ao Kosovo, principalmente a Sérvia, que se recusa a reconhecer a independência da sua antiga província, proclamada em 2008. 

O cenário se torna ainda mais complexo porque a população de 1,8 milhão de habitantes no Kosovo, majoritariamente de origem albanesa, tem uma comunidade de origem sérvia de cerca de 120 mil pessoas. Este grupo minoritário considera o território como seu berço nacional e religioso, travando inúmeras batalhas ao longo dos séculos e recusando-se a prestar lealdade à Pristina, com o incentivo de Belgrado. 

É o que ocorre especialmente no norte do território, perto da fronteira com a Sérvia, palco de frequentes confrontos, manifestações e, por vezes, atos de violência.

Concorrentes de Kurti

Formando a base da oposição, estão o Partido Democrático do Kosovo (PDK) e a Liga Democrática do Kosovo (LDK), que esperam se tornar a segunda e a terceira maiores legendas, respectivamente, ao fim das eleições deste domingo. As duas coligações já declararam sua disposição de unir forças para tomar o poder de Kurti.

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O PDK é liderado por Bedri Hamza, economista e novo presidente do partido, considerado o principal rival de Kurti. Hamza, de 62 anos, formou-se na Faculdade de Economia da Universidade de Pristina e começou sua carreira no final da década de 1980 como chefe de contabilidade e finanças em uma fábrica em Mitrovica.

Mais de 30 anos depois, ele retorna como prefeito à capital, etnicamente dividida entre kosovares, sérvios e albaneses. Seu mandato é caracterizado pelo sucesso de projetos multiétnicos com o norte, que conta com uma minoria sérvia. Essa experiência poderá ser inestimável para construir a confiança dos sérvios, que se mantêm leais a Belgrado.

Já Lumir Abdixhiku, de 42 anos, é o presidente da Liga Democrática do Kosovo (LDK) e o candidato mais jovem, mas lidera o partido político mais antigo do país. O economista obteve um doutorado pela Universidade de Staffordshire, no Reino Unido, com uma dissertação sobre evasão fiscal em nações em transição. Abdixhiku chegou a dar aulas antes de entrar para a política e assumir o cargo de ministro da Infraestrutura, em 2020.

Com a terceira maior força em termos de cadeiras, a LDK poderá desempenhar um papel decisivo nestas eleições, já que tanto a esquerda, quanto a direita estão ansiosas para formar alianças com o partido. A coligação que representa os cidadãos sérvios em Kosovo, a Lista Sérvia, por sua vez, deverá conquistar as quatro cadeiras destinadas a esta minoria étnica no parlamento.

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