Brasil, Rússia e China criticaram duramente os Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU por ações contra a Venezuela, classificando-as como violações do direito internacional, enquanto o Brasil pediu diálogo e mediação para evitar conflito.
O Brasil, a Rússia e a China fizeram duras críticas aos Estados Unidos durante reunião no Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, na terça-feira, 23. Moscou e Pequim classificaram de "comportamento de caubói" e "intimidação" a pressão militar e econômica do governo americano sobre a Venezuela. Já o embaixador brasileiro Sérgio Danese defendeu no encontro que Washington viola a Carta da ONU.
"Os atos cometidos pelos Estados Unidos violam todas as normas fundamentais do direito internacional", apontou o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia. O diplomata descreveu as operações militares americanas perto da costa venezuelana como "uma agressão flagrante". "A responsabilidade de Washington também se evidencia nas consequências catastróficas dessa atitude de caubói", acrescentou.
Pequim expressou críticas similares por meio do embaixador chinês nas Nações Unidas, Sun Lei. "A China se opõe a todos os atos de unilateralismo e intimidação, e apoia todos os países na defesa da sua soberania e da dignidade nacional", declarou.
A reunião de emergência do Conselho de Segurança foi solicitada pela Venezuela após a intensificação dos ataques americanos contra embarcações no Mar do Caribe. Desde agosto, os Estados Unidos mobilizaram uma frota de guerra na região, com bombardeios a embarcações que já deixaram pelo menos 105 mortos.
Recentemente Washington também anunciou um bloqueio naval para impedir a exportação de petróleo venezuelano. O presidente americano, Donald Trump, afirma que Caracas usa a venda do produto para financiar "o narcoterrorismo, o tráfico de pessoas, os assassinatos e sequestros".
A Venezuela rejeita as acusações e afirma que os Estados Unidos querem derrubar seu presidente, Nicolás Maduro, para se apropriar dos recursos naturais do país.
Desrespeito da Carta da ONU
O Brasil voltou a criticar a atitude dos Estados Unidos baseando-se nos princípios da Carta da ONU. Durante a sessão no Conselho de Segurança, o embaixador brasileiro Sérgio Danese afirmou que atuação das forças americanas "nas proximidades da Venezuela", além do "bloqueio naval recentemente anunciado", violam os princípios das Nações Unidas.
"O Brasil convida ambos os países a um diálogo genuíno, conduzido de boa-fé e sem coerção. Como o presidente Lula já declarou publicamente, seu governo estará preparado para colaborar, se necessário e com o consentimento mútuo dos Estados Unidos e da Venezuela. O Brasil também estará preparado para apoiar quaisquer esforços do secretário-geral nessa mesma direção", reiterou o diplomata.
No sábado, 20, na abertura da cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu (PR), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que uma "intervenção armada" dos Estados Unidos na Venezuela seria "uma catástrofe humanitária". "As verdadeiras ameaças à nossa soberania se apresentam hoje na forma da guerra, das forças antidemocráticas e do crime organizado. Passadas mais de quatro décadas desde a guerra das Malvinas, o continente americano volta a ser assombrado pela presença militar de uma potência extrarregional", afirmou.
Na última quinta-feira, 18, Lula já havia se mostrado disposto a atuar como mediador em favor de uma "solução pacífica" entre os Washington e Caracas para evitar um conflito no continente americano, mencionando uma possível conversa com Trump.
"Maior extorsão da História"
O embaixador da Venezuela na ONU, Samuel Moncada, denunciou no Conselho de Segurança que o envio de navios de guerra ao Caribe e o bloqueio naval por parte dos Estados Unidos representam "a maior extorsão conhecida em nossa História". "Estamos diante de uma potência que atua à margem do direito internacional, exigindo que nós venezuelanos abandonemos nosso país e o entreguemos", acrescentou.
O vice-secretário-geral da ONU, Khaled Khiari, assegurou no encontro que o secretário-geral António Guterres "está disposto a apoiar todos os esforços diplomáticos, inclusive exercendo seus bons ofícios, se ambas as partes o solicitarem".
Após a reunião, durante uma visita a uma feira comercial em Caracas, Maduro afirmou que a Venezuela está recebendo "apoio incondicional" do Conselho de Segurança da ONU. O líder chavista destacou que "ninguém será capaz de derrotar" seu país.
As declarações foram feitas no mesmo dia em que Caracas votou uma lei contra pirataria e bloqueios navais. Aprovada por unanimidade pela Assembleia Nacional, a medida prevê penas de prisão de até 20 anos para quem promover ou financiar esses e outros crimes internacionais.
RFI com agências