Por Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York
A pedido da Venezuela, o Conselho de Segurança da ONU se reúne na tarde desta terça-feira em Nova York para discutir o aumento das ações militares e das ameaças feitas pelos Estados Unidos contra o país.
A iniciativa ocorre em meio a uma escalada de tensão liderada pelo governo do presidente americano, Donald Trump, que vem ampliando operações navais no Caribe e pressionando diretamente o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
Na segunda-feira (22), Trump afirmou que seria "inteligente" Maduro deixar o poder, após 12 anos no comando do país. Questionado por jornalistas em sua residência na Flórida se as ameaças americanas tinham como objetivo forçar a saída do presidente venezuelano, Trump respondeu que a decisão caberia a Maduro, mas fez um alerta que se ele "resolver jogar duro", "será a última vez que poderá fazer isso".
Maduro reagiu poucas horas depois, afirmando que Trump estaria "melhor ocupado" cuidando dos problemas internos dos Estados Unidos em vez de ameaçar a Venezuela. Caracas denuncia uma tentativa de intimidação e de intervenção indireta, especialmente após Washington anunciar um bloqueio a navios petroleiros sancionados que entram e saem do país.
Apoio da Rússia e da China
A reunião do Conselho de Segurança acontece com o apoio explícito da Rússia, principal aliada internacional do governo venezuelano. Em conversa telefônica na véspera do encontro, os chanceleres dos dois países, Sergei Lavrov e Yván Gil, criticaram duramente as ações dos Estados Unidos no Caribe.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que Moscou expressa "pleno apoio e solidariedade" à liderança venezuelana e alertou para o risco de consequências graves à estabilidade regional e à navegação internacional.
A China, que também mantém relações próximas com o país latino-americano, condenou os ataques dos EUA a navios venezuelanos, dizendo que eles infringem as leis internacionais. Em declaração nesta segunda (22), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, afirmou que "a China se opõe a sanções unilaterais sem base legal ou autorização do Conselho de Segurança da ONU e a qualquer ação que fira a soberania e a segurança de outros países".
Operações americanas contra embarcações
Desde setembro, forças americanas vêm realizando ataques a embarcações que Washington afirma, sem apresentar provas, estarem envolvidas com o tráfico de drogas no Caribe e no Pacífico Oriental. Na última noite, um novo barco foi bombardeado, deixando um morto.
Pelo menos 105 pessoas morreram nessas operações, segundo autoridades locais e familiares das vítimas, incluindo pescadores.
Nos últimos dias, os Estados Unidos também apreenderam dois navios petroleiros ligados à Venezuela e perseguiram um terceiro. Caracas considera os confiscos como atos de pirataria e "roubo descarado".
Questionado sobre o destino do primeiro petroleiro apreendido em 10 de dezembro, próximo à costa da Venezuela, Donald Trump declarou que "vamos ficar com ele". Isso vale tanto para o navio quanto para o petróleo que ele transportava. O presidente americano não descarta revender ou adicionar o produto às reservas estratégicas dos Estados Unidos.
Ao lado do secretário da Guerra americano, Pete Hegseth, Donald Trump comemorou o bloqueio imposto a Caracas e os ataques militares contra embarcações próximas às costas venezuelanas. Essa estratégia, segundo ele, teria reduzido a quantidade de drogas entrando em solo americano.
Nova frota americana
A escalada militar coincidiu com um novo anúncio feito por Trump nesta semana: a criação de uma nova classe de navios de guerra da Marinha americana, que ele chamou de "battleships".
O presidente afirmou que as embarcações terão tecnologia de inteligência artificial e que a produção será acelerada, num momento em que Washington amplia sua presença naval próximo à costa venezuelana.