O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, compareceu ao Congresso nesta quarta-feira (9) para se manifestar sobre o escândalo de corrupção que envolveu membros de seu partido. Pressionado a renunciar, o chefe de governo apresentou um plano com 15 medidas, entre elas, a criação de uma agência anticorrupção.
Com informações de Ray Sánchez, correspondente da RFI en Madri, e agências
"Vou continuar no cargo porque sou um político íntegro e não estava a par do esquema de corrupção", afirmou Sánchez em sua aguardada audiência no Congresso espanhol. O premiê se pronunciou sobre o escândalo que levou à prisão um de seus homens de confiança, Santos Cerdán.
Sánchez também afirmou ter cogitado renunciar, mas que "jogar a toalha não é a solução". "Quero dizer aos cidadãos e aos senhores que não vou desistir e que vamos continuar", reiterou.
O dirigente socialista fez um apelo aos partidos que sustentam sua frágil maioria parlamentar e anunciou cerca de quinze medidas para renovar a confiança dos aliados. Entre elas, a criação de uma agência contra a corrupção, a obrigatoriedade de que os partidos tenham suas contas examinadas por entidades independentes e a punição de empresas que pagam propina a políticos.
O premiê também mencionou o envolvimento do partido de oposição de direita, o Partido Popular, em casos de corrupção. Seu líder, Alberto Núñez Feijóo, fez duras críticas a Sánchez, ao "exigir novamente eleições antecipadas e a minha renúncia", disse o chefe de governo. "E devo dizer, senhores, que, francamente, eu mesmo considerei essas opções nos estágios iniciais desta crise", reiterou.
Distribuição de propinas
Cerdán e o ex-ministro do Transportes da Espanha, José Luis Ábalos, ambosdo PartidoSocialista Operário Espanhol (PSOE), são acusados de envolvimento em um esquema de subornos em troca de contratos de obras públicas. O aspecto mais prejudicial para o partido foi a divulgação de gravações em que os suspeitos discutem a distribuição de propinas relacionadas a obras públicas, além de fazerem comentários sobre profissionais do sexo.
No último fim de semana, também foi divulgada a renúncia de um colaborador próximo de Sánchez, Francisco Salazar, que integraria a nova liderança do partido na reestruturação após a saída de Cerdán. Ele foi acusado de "conduta inapropriada" de caráter sexual por várias políticas socialistas, em uma matéria publicada no site de notícias eldiario.es.
Além disso, o irmão do premiê, David, e a primeira-dama Begoña Gómez, são alvo de investigações judiciais por tráfico de influência e tratamento preferencial, caracterizando o período mais complicado desde que Sánchez chegou ao poder, em 2018.
"Organização criminosa"
O discurso do chefe de governo foi imediatamente rejeitado por Feijóo, que classificou o PSOE de "organização criminosa". Já Sánchez foi chamado de "político destruído". "Não veio para limpar nada, mas para sujar tudo: seu partido, a política e a nação da qual não é mais um representante digno", acrescentou o líder da oposição.
Para o primeiro-ministro, também era essencial convencer seus aliados no Congresso, que são indispensáveis para permitir que seu governo conclua a legislatura. Yolanda Díaz, líder da coalizão da esquerda radical Sumar, elogiou as declarações de Sánchez. Ela considerou que o discurso do premiê foi "honesto" e elogiou as medidas propostas.
Do lado dos independentistas catalães do partido Junts, o tom foi mais firme. "Vocês estão jogando na prorrogação, e prorrogações não duram uma legislatura inteira", declarou a deputada Miriam Nogueras.
Para o deputado do ERC (esquerda catalã) Gabriel Rufián, Sánchez deve continuar no cargo. "Mas se isso se espalhar (...) vamos obrigá-lo a fazer com que as pessoas escolham (...) o que deve ser o PSOE, o país e o governo", advertiu.