A Polônia solicitou nesta quinta-feira (11) uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança da ONU, após a intrusão de 19 drones russos em seu espaço aéreo na véspera. Varsóvia também informou, nesta manhã, que restringiu o tráfego aéreo no leste do país, cancelando todos os voos comerciais ao longo da fronteira com Belarus e Ucrânia. Em entrevista à RFI, a ex-embaixadora da França na OTAN Muriel Domenach disse que a Rússia "ficou desinibida na intensificação dos ataques contra a Ucrânia, especialmente desde o encontro entre Putin e Trump", há um mês.
A entrada de cerca de 20 drones no espaço aéreo da Polônia, vindos da Ucrânia e de Belarus durante a madrugada de quarta-feira (10), foi considerada deliberada por Varsóvia e seus aliados. Moscou negou a intenção de violar o espaço aéreo da Polônia, mas o episódio causou forte comoção no país, que exige o reforço das capacidades militares da União Europeia e da OTAN em seu território.
"A pedido da Polônia, uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança das Nações Unidas será convocada para tratar da violação do espaço aéreo polonês pela Rússia", informou o Ministério das Relações Exteriores da Polônia na plataforma X.
Segundo o ministro polonês das Relações Exteriores, Radoslaw Sikorski, o país quer "chamar a atenção do mundo inteiro para esse ataque sem precedentes realizado por drones russos contra um país que é membro não apenas da ONU, mas também da União Europeia e da OTAN".
Para ele, a intrusão "não é apenas um teste militar e político para a Polônia, como para toda a OTAN".
Tráfego aéreo limitado
Na manhã de quinta-feira, Varsóvia também anunciou a restrição do tráfego aéreo em sua fronteira oriental, medida tomada "para garantir a segurança nacional", segundo comunicado da Agência Polonesa de Navegação Aérea (PAZP).
A pedido do Exército polonês, o tráfego aéreo será fechado — com raras exceções — para voos civis ao longo da fronteira com Belarus e Ucrânia, a partir de quinta-feira até 9 de dezembro.
De acordo com Varsóvia, 19 drones entraram no espaço aéreo polonês entre a noite de terça e a madrugada de quarta-feira, sem deixar feridos. Pelo menos três aparelhos "de fabricação russa", segundo Sikorski, foram derrubados pelo Exército polonês com apoio de aliados da OTAN.
Uma casa e um carro foram danificados no leste do país. Os destroços de 16 drones foram encontrados, segundo balanço divulgado na noite de quarta-feira pelo Ministério do Interior da Polônia.
"Rússia desinibida"
Em entrevista à RFI, a ex-embaixadora da França na OTAN Muriel Domenach analisou o objetivo da Rússia com essa incursão de drones na Polônia. Ela avalia que a Rússia "ficou desinibida, especialmente desde a reunião entre Vladimir Putin e Donald Trump em Anchorage, no Alasca, em 15 de agosto passado, com a intensificação dos ataques contra a Ucrânia".
Muriel Domenach lembra que os ataques realizados com drones, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos "aumentaram" a partir de então. Só na última noite, mais de 400 drones foram enviados à Ucrânia.
A ex-embaixadora afirma que a Rússia utiliza "trajetórias que, para burlar as defesas aéreas ucranianas, seguem em todas as direções, inclusive em direção à Polônia". Essa estratégia "força a defesa aérea ucraniana a disparar potencialmente para o oeste, ou seja, em direção à Polônia".
"É isso que os russos estão tentando fazer: saturar as defesas aéreas ucranianas e complicar a defesa dos próprios aliados", alerta.
Para ela, essa postura da Rússia também representa "um teste para a credibilidade da OTAN".
Protestos
A intrusão no espaço aéreo polonês provocou uma onda de protestos de aliados da Polônia. Na quarta-feira, o chanceler alemão, Friedrich Merz, condenou a "ação agressiva" da Rússia. O presidente francês, Emmanuel Macron, alertou Moscou contra uma "fuga para frente".
"Apoiamos nossos aliados da OTAN diante dessas violações do espaço aéreo e defenderemos cada centímetro do território da Aliança", prometeu o embaixador dos Estados Unidos junto à organização, Matthew Whitaker.
A chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, denunciou "a mais grave violação do espaço aéreo europeu pela Rússia desde o início da guerra".
O Conselho do Atlântico Norte, principal órgão de decisão política da OTAN, ativou o artigo 4 do tratado constitutivo da organização ao realizar sua reunião semanal na quarta-feira, atendendo ao pedido de Varsóvia. Esse artigo estabelece que "as partes se consultarão sempre que, na opinião de uma delas, a integridade territorial, a independência política ou a segurança de uma das partes estiver ameaçada".
Na quinta-feira, a China — membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e aliada diplomática de Moscou — pediu "diálogo" para solucionar a crise. "A China espera que todas as partes envolvidas resolvam adequadamente suas divergências por meio do diálogo e da consulta", declarou Lin Jian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, em coletiva de imprensa.
(Com AFP)