Macron ameaça impor tarifas à China e alerta para risco da indústria europeia em meio a protecionismo de Trump

O presidente francês Emmanuel Macron elevou o tom contra Pequim ao afirmar que, "nos próximos meses", a União Europeia poderá adotar tarifas de importação sobre produtos chineses caso não haja medidas concretas para reduzir o déficit comercial crescente com o bloco. A declaração foi feita em entrevista ao jornal econômico francês Les Echos, após sua visita oficial à China.

7 dez 2025 - 08h09

Segundo Macron, a Europa enfrenta uma situação crítica: "Estamos entre os Estados Unidos, que redirecionam os fluxos chineses para nossos mercados com seu protecionismo, e a própria China, que atinge o coração do nosso modelo industrial e de inovação. É uma questão de vida ou morte para a indústria europeia".

O presidente francês Emmanuel Macron fala na Universidade de Sichuan, em Chengdu, província de Sichuan, durante uma visita de três dias à China, em 5 de dezembro de 2025.
O presidente francês Emmanuel Macron fala na Universidade de Sichuan, em Chengdu, província de Sichuan, durante uma visita de três dias à China, em 5 de dezembro de 2025.
Foto: via REUTERS - Sarah Meyssonnier / RFI

Washington mantém tarifas pesadas sobre produtos chineses, reduzidas recentemente de 57% para 47% após um acordo bilateral. Esse movimento, segundo Macron, agrava os problemas europeus ao deslocar ainda mais exportações chinesas para o mercado da União Europeia.

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O presidente francês destacou que setores tradicionais, como máquinas industriais e automóveis, estão sob forte pressão, especialmente diante da ofensiva chinesa em veículos elétricos e tecnologias emergentes.

Durante sua visita a Pequim, Emmanuel Macron defendeu que a Europa precisa buscar um equilíbrio nas relações comerciais com a China, aceitando investimentos chineses em território europeu como forma de reduzir o déficit crescente.

O presidente francês destacou que há setores estratégicos nos quais essa presença pode ser positiva, como baterias e refinamento de lítio, energia eólica e solar, veículos elétricos, bombas de calor, eletrônicos de consumo, tecnologias de reciclagem, robótica industrial e componentes avançados.

No entanto, Macron advertiu que tais investimentos não devem ser "predatórios", isto é, realizados com o objetivo de criar dependência ou estabelecer hegemonia, mas sim contribuir para uma cooperação equilibrada e sustentável que preserve a autonomia da indústria europeia.

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"Front comum" contra a China?

Macron reconheceu que a formação de um front europeu comum diante da China não é tarefa simples. A Alemanha, que mantém uma forte presença econômica em território chinês, ainda não está totalmente alinhada com a posição defendida por Paris.

Para o presidente francês, a resposta da União Europeia precisa ser abrangente e envolver a proteção de setores vulneráveis, como o automotivo, além de uma política de competitividade baseada na simplificação regulatória e no aprofundamento do mercado único.

Ele também destacou a necessidade de ampliar os investimentos em inovação, fortalecer a união aduaneira e promover ajustes na política monetária, de modo a garantir que o bloco esteja preparado para enfrentar os desafios impostos pela concorrência chinesa.

Em sua avaliação, apenas uma estratégia integrada permitirá que a Europa preserve sua autonomia industrial e assegure um futuro sustentável para sua economia.

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A ameaça de tarifas contra a China marca uma virada no discurso europeu, aproximando-se da postura norte-americana e revelando a crescente preocupação com a sobrevivência da indústria continental. Para Macron, o futuro da Europa depende de encontrar o equilíbrio entre abertura ao investimento estrangeiro e defesa de sua autonomia econômica.

Com AFP

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