Em meio a ataques, Hamas acusa Israel de deslocar as fronteiras em Gaza e reduzir território palestino

Apesar do cessar-fogo estabelecido desde 10 de outubro, o nível de tensão na Faixa de Gaza tem aumentado nos últimos dias. O Hamas está acusando Israel de ter deslocado a "linha amarela", que divide a região desde a implementação do acordo de paz, reduzindo o território palestino.

21 nov 2025 - 16h21

Informações de Rami el Maghari e Lucas Lazo, correspondentes da RFI em Gaza e Ramallah, com agências.

Crianças nos escombros do bairro de Zeitoun, em Gaza, após ataques israelenses, em 20 de novembro de 2025.
Crianças nos escombros do bairro de Zeitoun, em Gaza, após ataques israelenses, em 20 de novembro de 2025.
Foto: © OMAR AL-QATTAA / AFP / RFI

Nesta sexta-feira (21), cinco combatentes do Hamas foram mortos. Segundo o exército israelense, que os classificou como "terroristas", eles teriam emergido de um túnel que dava para o lado sob seu controle, ao sul da Faixa de Gaza.

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"Tropas do exército identificaram cinco terroristas que saíram de uma infraestrutura subterrânea no leste de Rafah [...] Eles se aproximaram das tropas [...] representando uma ameaça imediata para elas. Em seguida, a Força Aérea os eliminou", detalhou o comando militar de Israel.

A leste, o exército israelense ocupa 53% do território palestino, um espaço devastado, esvaziado de sua população e no qual consolida cerca de trinta posições militares. A oeste, o Hamas administra as zonas densamente povoadas.

O espaço é dividido atualmente por uma "linha amarela", que se materializa por meio de blocos de concreto amarelos, dispostos a intervalos de 200 metros, com um traçado incerto e impreciso. Entre os mais de 300 palestinos mortos pelo exército israelense desde o estabelecimento da trégua, muitos foram abatidos à margem dessa linha, cuja violação acarreta represálias imediatas.

O Hamas alega que tanques e soldados israelenses teriam avançado mais de 300 metros além da fronteira, a leste da cidade de Gaza. As informações foram corroboradas pelo correspondente local da emissora de televisão Al Jazeera, no que seria uma nova violação do acordo de cessar-fogo por parte de Israel.

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'Vi sete membros da mesma família mortos'

Além dos cinco combatentes do Hamas, mais de 30 pessoas foram mortas por ataques israelenses nos últimos dois dias na Faixa de Gaza. Os relatos de moradores ilustram o pânico vivido pela população sob ataque.

Abu Montasser ainda está em choque. Originário de Shijaiya, ao sul de Gaza, ele foi deslocado com a sua família para o bairro de Zeitoun, no sudoeste da cidade. No final de quarta-feira (19), ele estava ouvindo as notícias no rádio quando foi surpreendido pelo bombardeio.

"De repente, houve dois ataques ao prédio, a ponto de os armários caírem sobre nós. Graças a Deus, não fomos atingidos. Saímos do nosso quarto para ver os danos. Vi sete membros da mesma família, os Azzam, mortos. O pai, a mãe e seus filhos, mortos. Na sala ao lado, um menino e uma menina da família Keshko. Eles também foram encontrados mortos. Naquele momento, não consegui suportar a cena. Fiquei ali, parado", recorda.

O palestino Hassan, que tem uma pequena loja de peças de reposição no bairro, foi um dos moradores feridos no bombardeio. Ele conta que após os ataques, os vizinhos que se salvaram partiram em busca dos poucos pertences nos escombros da explosão.

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"Quando aconteceu, não conseguíamos nem nos ver, ficamos separados. Gritávamos: 'Estou procurando meu irmão!', mas não víamos nada. Nos encontramos perto do hospital Mamdani, para onde fui levado. Meus dois sobrinhos mais novos também foram levados para lá, eles foram atingidos por tijolos nas costas e na cabeça", relata o morador.

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