Em conflito com o Camboja, Tailândia destrói estátua hindu e causa indignação na Índia

Os confrontos militares entre os exércitos tailandês e cambojano continuam, apesar do início das negociações entre os dois países na quarta-feira (24). Os militares da Tailândia agora enfrentam críticas, inclusive na Índia, pela destruição de uma estátua sagrada em um território disputado da fronteira.

26 dez 2025 - 10h36

Valentin Cebron, correspondente da RFI em Bangkok, com AFP

Vídeo mostra escavadeira derrubando estátua sagrada dos hindus, na região de fronteira entre Tailândia e Camboja. (22/12/2025)
Vídeo mostra escavadeira derrubando estátua sagrada dos hindus, na região de fronteira entre Tailândia e Camboja. (22/12/2025)
Foto: © Capture d'écran X / @jacobincambodia / RFI

Um trator do exército tailandês derrubou uma estátua da divindade hindu Vishnu, erguida pelo Camboja no território disputado de Chong Anma. Durante a operação, soldados foram vistos comemorando enquanto a escultura sagrada desabava. A cena foi filmada e amplamente compartilhada nas redes sociais.

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As imagens da destruição provocaram indignação no Camboja, mas também na Índia, um país predominantemente hindu. As autoridades em Nova Délhi reagiram, denunciando os "atos desrespeitosos".

"Independentemente das reivindicações territoriais, tais atos desrespeitosos ofendem os sentimentos dos fiéis em todo o mundo e não devem ocorrer", declarou o Ministério das Relações Exteriores da Índia, citado pela televisão estatal. O governo indiano também pediu para que "ambos os lados retomem o diálogo" e "restaurem a paz".

Militares tailandeses falam em 'restaurar o controle de sua soberania'

O primeiro-ministro tailandês, Anutin Charnvirakul, tenta minimizar a controvérsia, afirmando que não houve intenção de desrespeito. "Uma estátua destruída não pode, de forma alguma, ser comparada às pernas que nossos soldados perderam, nem a um ato de profanação. Eu jamais faria tal comparação", declarou.

Os militares tailandeses justificam a destruição do monumento como um ato para "restaurar o controle de sua soberania". O Camboja sustenta que a estátua estava localizada em seu território, a algumas centenas de metros da fronteira.

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A disputa decorre de um conflito antigo sobre a demarcação de sua fronteira de 800 quilômetros, estabelecida durante a era colonial, e sobre diversos templos antigos localizados ao longo da divisa entre os dois países. Os ministros da Defesa de ambos os países se reunirão neste sábado (27), no quarto dia de negociações para uma possível trégua.

Charnvirakul expressou esperança de um cessar-fogo. "Se amanhã os ministros da Defesa chegarem a um acordo aceitável para a Tailândia e o Camboja, o documento que assinarem reiterará em grande parte os quatro pontos principais", disse ele, referindo-se aos termos delineados em uma declaração conjunta anterior, emitida após uma rodada de combates no início deste ano.

A declaração de outubro estipulava que ambos os lados realizariam operações de desminagem ao longo de sua fronteira, retirariam suas armas pesadas e permitiriam o acesso de observadores do cessar-fogo. "O mais importante é que respeitemos nosso compromisso de não invadir, ameaçar, provocar ou agravar as tensões entre os dois países", disse o primeiro-ministro a repórteres, em uma coletiva de imprensa.

"Podem confiar na Tailândia. Sempre respeitamos os nossos acordos e compromissos. Que esta seja a última assinatura, para que a paz possa ser restaurada e o nosso povo possa voltar para casa", acrescentou.

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Hostilidades continuam

O conflito fronteiriço entre os dois países vizinhos, que já dura muitos anos, reacendeu este mês, rompendo uma trégua anterior e deixando mais de 40 mortos, segundo dados oficiais. Cerca de um milhão de pessoas também foram deslocadas.

Enquanto as autoridades cambojanas e tailandesas realizavam o terceiro dia de negociações num posto fronteiriço nesta sexta-feira, o Ministério da Defesa do Camboja acusou a Tailândia de realizar intensos bombardeios em áreas disputadas na província de Banteay Meanchey. "Das 6h08 às 7h15, os militares tailandeses mobilizaram caças F-16 para lançar pelo menos 40 bombas, a fim de intensificar o bombardeio na área da aldeia de Chok Chey", afirmou o Ministério da Defesa do Camboja, em um comunicado.

Já a imprensa tailandesa informou nesta sexta-feira que as forças cambojanas lançaram intensos ataques durante a noite, ao longo da fronteira na província de Sa Kaeo, onde várias casas foram danificadas por fogo de artilharia.

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