O promotor argentino Alberto Nisman, encontrado morto com um tiro na cabeça depois de acusar o governo de proteger os acusados de um atentado contra uma associação judaica em 1994, foi sepultado nesta quinta-feira num cemitério localizado no oeste da grande Buenos Aires.
Ocorrida em 18 de janeiro, a morte de Nisman ocupa desde então a primeira página dos jornais, já que ainda não está claro se foi um suicídio ou um assassinato, em meio a uma trama obscura que envolve os serviços de inteligência do país.
Dias antes da sua morte, o promotor, responsável pela investigação da explosão na Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), que deixou 85 mortos, havia acusado a presidente argentina, Cristina Kirchner, de ter participado de um complô para ocultar os iranianos acusados do atentado.
"Venho enterrar um pedaço da República, porque o que aconteceu é muito sério e muito grave", declarou a deputada opositora Patricia Bullrich a jornalistas na entrada do cemitério pertencente à comunidade judaica.
Bullrich disse que fez vários contatos com Nisman no dia anterior à sua morte para combinar os detalhes do seu testemunho perante uma comissão do Congresso Nacional em 19 de janeiro para explicar os fundamentos de sua denúncia contra o governo.
Nisman, de 51 anos, alegou que a assinatura de um memorando de entendimento entre Argentina e Irã em 2013, que iria possibilitar interrogar os acusados do atentado contra a Amia, foi na verdade uma manobra para "desincriminar" o Irã e promover o comércio bilateral.
Cristina classificou a denúncia de Nisman como "absurda".
O governo acredita que agentes de inteligência demitidos há pouco tempo e que colaboravam com Nisman podem ter lhe passado informações falsas e instigado sua morte.
As duas filhas do promotor e sua ex-mulher destacaram em dois anúncios fúnebres publicados nesta quinta-feira no jornal La Nación seu compromisso com o trabalho na promotoria, criada em 2004 exclusivamente para a investigação do atentado.
"Hoje te damos adeus, sabendo de tua dedicação ao trabalho. Esperamos que possa estar em paz", escreveram suas filhas, Iara e Kala.
"Te dou adeus desejando que encontre a paz que a tua entrega ao trabalho não te permitiu usufruir plenamente”, disse sua ex-mulher, a também advogada Sandra Arroyo Salgado.
O cortejo com o corpo do promotor foi acompanhado por dezenas de pessoas que se despediram com aplausos, pedidos de justiça e cartazes com a frase "Todos somos Nisman".
(Reportagem de Eliana Raszewski)