Caça a meteoritos vira febre entre nômades do deserto africano; grama é vendida por mais de R$ 5 mil

Na Mauritânia, país do noroeste da África, entre o Saara e o Atlântico, caçar meteoritos virou febre entre nômades do deserto. Fragmentos vindos da Lua ou de Marte podem alcançar US$ 1.000 (cerca de R$ 5.300, na cotação atual) por grama, mas no mercado local valem pouco. Sem centros de avaliação locais, os caçadores recorrem a redes sociais e pesquisadores estrangeiros. O planetólogo Ely Cheikh Mouhamed Navee pede regras claras e até um museu para preservar esse patrimônio.

15 nov 2025 - 15h48

Juliette Dubois, enviada especial da RFI a Nouakchott

Caçadores nômades de meteoritos examinam as pedras que encontraram no deserto do Saara.
Caçadores nômades de meteoritos examinam as pedras que encontraram no deserto do Saara.
Foto: © Juliette Dubois/RFI / RFI

Na Mauritânia, caçar meteoritos se tornou uma atividade em expansão, mas ainda pouco regulamentada. Nômades percorrem quilômetros no deserto do Saara, acompanhando seus rebanhos e com os olhos fixos no chão, em busca de fragmentos vindos do espaço. A esperança é encontrar uma pedra rara — talvez caída da Lua ou de Marte — e vendê-la por milhares de dólares.

Publicidade

Na capital Nouakchott, o caçador Hame Ould Sidi Othmen exibe orgulhoso as peças que recolheu no deserto. "Eu procuro meteoritos em toda a Mauritânia", afirma. Ele explica que aprendeu a reconhecer uma condrita, tipo comum de meteorito, pela crosta que se forma quando a rocha atravessa a atmosfera. "Às vezes usamos apenas os olhos, outras vezes uma lupa", diz.

Venda explode nas redes sociais

A febre começou há cerca de dez anos, após a descoberta no Marrocos do famoso meteorito marciano de Tissint. Desde então, os caçadores se multiplicaram em todo o Saara. Os preços variam muito: alguns fragmentos podem alcançar US$ 1.000 por grama, mas no mercado local muitas vezes não passam de US$ 10, o que leva muitos a recusar a venda.

Grande parte das transações migrou para plataformas digitais como WhatsApp e TikTok, ou para intermediários no norte do país, em Bir Moghrein, que inspecionam as pedras antes de revendê-las ao exterior.

O problema é que a Mauritânia não possui centros oficiais de avaliação nem legislação específica para o setor. "Os nômades confiam apenas no olho treinado, ou enviam amostras para pesquisadores estrangeiros", explica o Dr. Ely Cheikh Mouhamed Navee, primeiro planetólogo mauritano. Ele lamenta que o país não trate os meteoritos como patrimônio nacional, como já ocorre em vizinhos como o Marrocos.

Publicidade

Navee defende a criação de um sistema de monitoramento com câmeras para registrar quedas de meteoritos no deserto e a instalação de um museu nacional para preservar e expor essas pedras vindas do espaço.

A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se