Juliette Dubois, enviada especial da RFI a Nouakchott
Na Mauritânia, caçar meteoritos se tornou uma atividade em expansão, mas ainda pouco regulamentada. Nômades percorrem quilômetros no deserto do Saara, acompanhando seus rebanhos e com os olhos fixos no chão, em busca de fragmentos vindos do espaço. A esperança é encontrar uma pedra rara — talvez caída da Lua ou de Marte — e vendê-la por milhares de dólares.
Na capital Nouakchott, o caçador Hame Ould Sidi Othmen exibe orgulhoso as peças que recolheu no deserto. "Eu procuro meteoritos em toda a Mauritânia", afirma. Ele explica que aprendeu a reconhecer uma condrita, tipo comum de meteorito, pela crosta que se forma quando a rocha atravessa a atmosfera. "Às vezes usamos apenas os olhos, outras vezes uma lupa", diz.
Venda explode nas redes sociais
A febre começou há cerca de dez anos, após a descoberta no Marrocos do famoso meteorito marciano de Tissint. Desde então, os caçadores se multiplicaram em todo o Saara. Os preços variam muito: alguns fragmentos podem alcançar US$ 1.000 por grama, mas no mercado local muitas vezes não passam de US$ 10, o que leva muitos a recusar a venda.
Grande parte das transações migrou para plataformas digitais como WhatsApp e TikTok, ou para intermediários no norte do país, em Bir Moghrein, que inspecionam as pedras antes de revendê-las ao exterior.
O problema é que a Mauritânia não possui centros oficiais de avaliação nem legislação específica para o setor. "Os nômades confiam apenas no olho treinado, ou enviam amostras para pesquisadores estrangeiros", explica o Dr. Ely Cheikh Mouhamed Navee, primeiro planetólogo mauritano. Ele lamenta que o país não trate os meteoritos como patrimônio nacional, como já ocorre em vizinhos como o Marrocos.
Navee defende a criação de um sistema de monitoramento com câmeras para registrar quedas de meteoritos no deserto e a instalação de um museu nacional para preservar e expor essas pedras vindas do espaço.