Mãe de jovem presa injustamente por seis anos desabafa após morte por câncer: 'Tratamento foi negado'

Damaris Kremer, de 26 anos, morreu por complicações de um câncer do colo do útero, diagnosticado enquanto estava na cadeia

3 nov 2025 - 22h36
(atualizado às 23h52)
Resumo
Damaris Kremer, presa injustamente por seis anos, faleceu de complicações de um câncer do colo do útero 74 dias após ser absolvida, após ter o tratamento negado pelas autoridades, segundo sua mãe.
Damaris Vitória Kremer da Rosa ficou preso injustamente por seis anos
Damaris Vitória Kremer da Rosa ficou preso injustamente por seis anos
Foto: Reprodução/kremer_2106/Instagram

A mãe da mulher que foi presa injustamente por seis anos e morreu de câncer 74 dias após ser absolvida fez um emocionante desabafo sobre a conduta das autoridades para com a filha, Damaris Vitória Kremer da Rosa, 26. Para a mãe, Claudete Kremer Sott, 51, a jovem teve o tratamento negado. 

Damaris Vitória morreu no dia 26 de outubro em Balneário Arroio do Silva (SC), em decorrência de complicações de um câncer do colo do útero, descoberto já em estágio avançado enquanto ela estava presa. 

Publicidade

"Se ela tivesse sido julgada em dois anos, já teria sido absolvida e não teria passado por tudo isso. Quando descobrimos, já não tinha mais o que fazer", disse Claudete à jornalista Gabriela Plentz, da Rádio Gaúcha. 

"Deveria ter sido diferente. A maior dor não é dela ter tido um câncer. Câncer pode ser removido, tratado; tem cura, quando tratado de início. Para minha filha, o tratamento foi negado", desabafou a mãe. 

Ela relembra que a filha passou pelo menos um ano sofrendo com as dores provocadas pela doença, sem receber tratamento adequado, além de que Damaris não teria sido encaminhada para exames pré-câncer no presídio. 

Claudete revelou, também, que outras reeducandas chegaram a repassar medicamentos para sua filha: "Outras presas diziam que estavam morrendo de dor. Iam lá pedir medicamento e repassavam para ela, porque não aguentavam vê-la gritando de dor". 

Publicidade

Com a justificativa do estado de saúde, a defesa de Damaris pediu a revogação da prisão em diferentes ocasiões, uma vez que ela apresentava sangramento vaginal e dores na região do ventre, mas os pedidos acabaram negados pela Justiça. . 

"Eu entrei na Justiça, pedindo para levarem a um ginecologista particular. Dois dias antes, a levaram para o posto de saúde. Quando o médico fez o exame, bateu o pé e disse que ela só sairia dali para o hospital", contou. 

Damaris teve a prisão preventiva convertida em domiciliar em março passado, após seu quadro clínico se agravar. 

"Ela tentou ser forte até os últimos dias, só queria viver. Ela tinha muita fé, muita esperança de viver, cheia de sonhos. Ela saiu de lá, fez a sua inscrição numa universidade. Falava vários idiomas, era muito inteligente", disse a mãe. 

Damaris Vitória Kremer da Rosa ficou preso injustamente por seis anos
Foto: Reprodução/kremer_2106/Instagram

A absolvição e morte de Damaris

Publicidade

A jovem morreu por complicações do câncer 74 dias após ser considerada inocente pelo Tribunal de Júri, no Rio Grande do Sul. Damaris ficou presa injustamente por seis anos e veio a óbito no último dia 26 de outubro, em Balneário Arroio do Silva.

O Terra teve acesso ao processo ao qual ela foi acusada de envolvimento no homicídio de Daniel Gomes Soveral, ocorrido em 30 de novembro de 2018, em Salto do Jacuí (RS). Outras duas pessoas também responderam pelo crime: Henrique Kauê Gollmann, que foi condenado, e Wellington Pereira Viana, que também absolvido. 

A denúncia contra os três foi oferecida pelo Ministério Público em 2019, e Damaris foi presa preventivamente. Durante o curso do processo, ela descobriu um câncer de colo de útero e a defesa dela pediu a revogação da prisão, que foi negada pelo judiciário em dezembro de 2024. 

Em março de 2025, os advogados Rebeca Canabarro e Mateus Porto novamente pediram que o Tribunal a soltasse, já que ela estava em fase terminal da doença, acamada e passando por cuidados paliativos com quimioterapia e radioterapia para diminuir as dores. Além disso, ela estava dependente de transfusão de sangue e de terceiros para manutenção de suas necessidades básicas.

Publicidade

O MP confirmou em um parecer que ela recebeu atendimento médico constante dentro do presídio após sentir fortes dores no ventre. Em abril, o juízo concedeu a prisão domiciliar com o uso da tornozeleira e a autorizou a ficar na casa da mãe, em Balneário Arroio do Silva (SC). 

O caso da jovem foi a julgamento em agosto deste ano e o Conselho de Sentença a absolveu das acusações de ter matado a vítima e ateado fogo no veículo em que o corpo estava, baseada na negativa da autoria por falta de provas. 

No último dia 26, ela morreu em decorrência de complicações do câncer de colo de útero. A jovem foi sepultada na última segunda-feira, 27, em Balneário Arroio do Silva.  Em nota, os advogados de Damaris afirmaram que ela foi vitimada pela negligência e “cegueira Estatal”, lamentando a morte da vítima.

Fonte: Portal Terra
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se