Neste domingo, 9, mais de 3 milhões de estudantes de todo o Brasil participaram do 1º dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Sem polêmicas ou vazamentos --comuns em anos anteriores--, a edição foi marcada por estudantes afetados por um tornado, pelo resgate de uma prova cancelada, pela participação de ex-atriz de Pantanal, citações a Paolla Oliveira e por um leve aumento no índice de abstenções. Veja abaixo os principais destaques:
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- Reaplicação para afetados por tornado
Candidatos de Rio Bonito do Iguaçu, cidade paranaense devastada pelo tornado que passou pela região na sexta-feira, 7, assim como todos os estudantes afetados pela tragédia, terão direito de pedir a reaplicação da prova entre os dias 17 e 21 de novembro.
O benefício também é válido para todos os candidatos que tiveram problemas de saúde e/ou logísticos. As novas provas serão aplicadas nos dias 16 e 17 de dezembro.
- Leve aumento na abstenção
O primeiro dia do Enem 2025 teve taxa de abstenção de 27%, segundo o Ministério da Educação. Dos 4,8 milhões de candidatos inscritos, cerca de 1,2 milhão não compareceu às provas. O índice foi levemente superior ao registrado em 2024, quando a taxa era de 26,6%. Na edição de 2023, 28,1% dos 3.934.242 inscritos não compareceram ao primeiro dia do exame.
- 3,2 mil candidatos eliminados
Ao todo, 3.240 candidatos foram eliminados, segundo o ministro da Educação, Camilo Santana. As eliminações foram causadas por deixar o local de prova portando o caderno de questões antes dos 30 minutos finais da aplicação; portar equipamento eletrônico; ausentar-se antes do horário permitido (15h30); utilizar impressos; e não atender orientações dos fiscais.
- Envelhecimento em foco
Neste ano, o tema da redação abordou as "perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”. Especialistas consultados pelo Terra apontam uma "contramão" em relação a outras edições do Enem, alertam para uma "possível pegadinha", mas ressaltam que se trata de uma temática muito discutida.
A escolha também chamou a atenção por lembrar um episódio marcante na história do exame: o vazamento do Enem de 2009, que teria trazido como proposta a 'Valorização do Idoso'. Naquele ano, a prova precisou ser cancelada poucos dias antes da aplicação, depois que um exemplar do caderno de questões foi furtado da gráfica responsável pela impressão. O caso veio à tona após o jornal O Estado de S. Paulo ser procurado por um homem que afirmava ter o exame e tentou vendê-lo por R$ 500 mil.
- Leia exemplo de redação nota mil com o tema da redação deste ano
- Citação a Paolla Oliveira
A atriz Paolla Oliveira apareceu em uma das 90 perguntas. De acordo com Thatiane Hecht, Professora de Linguagens do Elite Rede de Ensino, a atriz foi citada como "exemplo de figura pública alvo de comentários que evidenciam a padronização da beleza feminina, destacando as pressões estéticas impostas às mulheres e a crítica social a esse tipo de comportamento."
Nos últimos anos, Paolla passou a ser voz importante na luta contra os padrões da beleza feminina e falou abertamente sobre a pressão que sofre para cuidar da forma física. Ela costuma expor comentários maldosos que recebe nas redes sociais.
- Trechos da Bíblia e do Alcorão, variações de 'canjica' e Clarice Lispector
Com trechos da Bíblia, do Alcorão e de Clarice Lispector, as provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Ciências Humanas apresentaram questões que discutiram variação linguística --uma delas da palavra canjica--, representatividade negra, mitologia grega, direitos dos povos originários e pressão estética sobre mulheres.
- Ex-atriz de Pantanal
Aos 61 anos, a atriz Giovanna Goldfarb foi uma das17.192 inscritas com mais de 60 anos a participar do Enem 2025. "Minha versão aluna merece ser melhor", disse ela, que ficou conhecida por ter interpretado Zefa na primeira versão da novela Pantanal, em 1999.
Ao jornal O Globo, ela explicou que traçou alguns objetivos: "Gabaritar História, Geografia, Literatura e Inglês; Tirar 800 na redação; Acertar alguma coisa de Matemática e Física; Acertar algumas de Biologia e Química; Passar na faculdade que pretendo".
- Abraços às cegas e 'cantinho do desabafo'
Projetos de apoio emocional estiveram em uma escola na Zona Oeste da capital paulista para oferecer abraços às cegas, 'cantinho do desabafo', mensagens motivacionais e até entregar água e caneta preta para candidatos que foram fazer o Enem 2025.
Um deles, o projeto Help, que existe há 8 anos, é formado por voluntários psicólogos e pessoas que superaram questões emocionais. "Hoje, que é o Enem, viemos aqui compartilhar uma mensagem de superação, dizer que eles são capazes de fazer a prova, que precisam acreditar neles e mostrar que nós estamos aqui na torcida", explica o coordenador do projeto, Felipe Santos, 38 anos, ao Terra.
O grupo estava com uma van, onde montaram um 'cantinho do desabafo'. "Aqui é se eles quiserem conversar, deixar toda a ansiedade, medo, preocupação, e ir fazer uma prova com a cabeça fria e aí ter um bom resultado", diz Felipe. "As pessoas chegam muito ansiosas, nos deparamos com alunos que estão prestes a ter uma crise de ansiedade", acrescenta.
- 13h de estudo por dia para o 2º Enem
A estudante Maria Eduarda Alves Silva, de 18 anos, participou pela segunda vez "para valer" do Enem com o objetivo de alcançar uma nota alta e conquistar a tão sonhada vaga no curso de Arquitetura na Universidade de São Paulo (USP).
"Venho tranquila porque estudei o ano inteiro e espero que dê tudo certo. A gente nunca sabe", afirma a jovem em entrevista ao Terra. Ela afirma que estudou muito o ano todo com a ajuda de um cursinho pré-vestibular. "Ia para as aulas pela manhã, mas agora, mais perto da prova, ficava até à noite estudando". A jovem conta que estudava ao menos 13 horas por dia, inclusive aos sábados. Aos domingos, descansava quando não tinha simulado.
- De volta ao Enem após 7 anos
Em busca de uma boa nota para tentar uma vaga no curso de Direito, Karoline Cardoso Campos, de 27 anos, voltou a participar do Enem sete anos depois de ter realizado o exame pela primeira vez.
Em conversa com o Terra, Karoline, que mora no bairro Brasilândia, contou que realizou o Enem pela primeira vez em 2018, conseguiu uma vaga em Direito, chegou a cursar por um ano, mas, por questões pessoais, não conseguiu continuar a faculdade. Agora ela deseja retomar esse sonho.
Ao longo do ano, a jovem, que atualmente trabalha em uma banca de pastel das 9h às 21h, diz que precisou conciliar o trabalho com a preparação para o Enem. Ela estudava sozinha e por meio de plataformas online gratuitas todos os dias quando chegava em casa à noite. "Separava sempre duas, três horas, para estudar. Às vezes virava à noite. Domingo, que não trabalho, estudava de três a quatro horas."