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O papel da família no processo de aprendizagem

A participação da família é fundamental tanto na retomada das aulas quanto ao longo do ano escolar para o desenvolvimento dos estudantes

26 fev 2024 - 11h00
Foto: iStock

Chegada a volta às aulas, pais e responsáveis comemoram a hora de retomar a rotina. Para algumas famílias, o momento significa que crianças e adolescentes estarão ocupados com as atividades escolares e, portanto, não precisam da mesma atenção que demandam no período de férias. Para os estudantes, é um recomeço, hora de reencontrar os amigos e se preparar para novos desafios. A participação da família é fundamental tanto na retomada das aulas quanto ao longo do ano escolar para o desenvolvimento dos estudantes.

O mais recente resultado do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), de 2022, apontou que crianças que conversam com suas famílias sobre a escola têm maior probabilidade de obter notas mais altas nas avaliações. Em matemática, a pontuação de quem teve interações regulares com a família foi até 28 pontos maior do que a daqueles que não tinham esse hábito. O mesmo relatório, entretanto, traz dados preocupantes: a participação dos pais e responsáveis no processo de aprendizagem dos alunos tem diminuído nos últimos anos. Entre 2018 e 2022, nos países que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que coordena a pesquisa, a quantidade de familiares de alunos que procurou espontaneamente professores para falar sobre desempenho escolar caiu, em média, 10 pontos percentuais.

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Considerando a realidade brasileira, não é difícil entender a queda desse interesse. Além das questões de ordem prática, relacionadas à falta de tempo, por exemplo, fatores como condição socioeconômica e letramento dos pais interferem no envolvimento das famílias no processo de aprendizagem de seus filhos.

Em geral, pais e responsáveis atuam de forma mais participativa nos anos da Educação Infantil, que é quando as crianças têm menos autonomia. Conforme avançam, a tendência é que essa dedicação diminua, motivada por fatores que variam de acordo com a formação dos responsáveis. Um estudo do Itaú Social, com escolas públicas de seis estados brasileiros, identificou que o aumento da complexidade no Ensino Fundamental é um dos fatores que afetam a relação das famílias com os estudantes, quando pais ou responsáveis têm menos recursos para acompanhar e apoiar a escola. Muitas vezes, quando chegam ao Ensino Médio, o envolvimento familiar é praticamente nulo.

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Escola e professores devem buscar esse envolvimento ao longo da trajetória dos alunos. Estimular a participação de pais e responsáveis requer mantê-los atualizados sobre as atividades que vem sendo desenvolvidas, assegurando um canal aberto de comunicação. Esse esforço, no entanto, deve ser uma via de mão dupla: é fundamental que as famílias estejam disponíveis e genuinamente dispostas a integrar a vivência escolar de suas crianças e adolescentes. O processo de educação começa nos primeiros contatos do bebê com os adultos e continua nas interações da primeira infância. A escola complementa a formação do indivíduo, acrescentando conhecimento e desenvolvimento do raciocínio. A educação, portanto, é uma responsabilidade compartilhada, uma vez que compreende a formação do indivíduo como um todo, incluindo a transmissão de valores e conhecimento, além do desenvolvimento de habilidades intelectuais.

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Nesse contexto, a tecnologia é uma importante aliada, pois ajuda a manter as famílias atualizadas sobre o que acontece na escola – e vice-versa. A possibilidade de realizar reuniões online, por exemplo, aumenta os pontos de contato com as famílias. Pais e responsáveis podem, entretanto, ir além e acompanhar a vida escolar dos estudantes de outras maneiras, como ter o hábito de falar sobre o dia a dia na escola e comparecer às reuniões e eventos ou criar o hábito de leitura.

Em 2012, o estudo “Vamos ler uma história para eles! O fator dos pais na Educação”, do PISA, já apontava que iniciativas simples, que não exigem muitas horas de dedicação, fazem a diferença no processo de aprendizagem. Por exemplo, ler para uma criança nos anos iniciais da alfabetização e conversar com adolescentes sobre questões políticas ou sociais são medidas eficientes para melhorar o desempenho na leitura.

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Vivemos uma época em que tudo acontece de forma rápida e dinâmica, num mundo cada vez mais digital, especialmente com a evolução da inteligência artificial. Para as gerações mais novas, as interações com máquinas são comuns: bebês que mal sabem falar já “conversam” com a assistente virtual. Nesse contexto, tanto a casa como a escola devem ser espaços para alunos criarem relações humanas, onde encontram um respiro emocional, acolhimento e escuta. Reservar o momento das refeições para conversar, ouvir com atenção e presença o que dizem essas crianças e adolescentes, com respeito às suas opiniões, por exemplo, pode reverberar e formar seres humanos emocionalmente mais bem preparados para aprender o que a escola tem para oferecer e, por consequência, mais bem preparados para o mundo. O processo de formação não é um caminho a ser percorrido de forma individualizada: pais, responsáveis e professores devem estar cientes de seus papéis para estabelecerem, de forma colaborativa, uma parceria que favoreça o aprendizado dos estudantes.

Diretora-presidente da Fundação Telefônica Vivo. Formada em Administração Pública pela FGV-EAESP e com mestrado na área de Desenvolvimento Econômico e Político pela SIPA-Columbia University. Na Fundação Telefônica Vivo, já liderou a área de Educação, promovendo iniciativas inovadoras e o uso de tecnologia para apoiar o desenvolvimento de crianças e jovens. As opiniões da colunista não representam a visão do Terra.
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