Em 2024, o Investimento Social Privado (ISP) atingiu R$ 5,8 bilhões no Brasil, o segundo maior valor da série histórica iniciada há 13 anos. Os dados, consolidados pelo Censo GIFE 2024–2025, indicam a maturidade de um campo que se estrutura cada vez mais para responder a desafios sociais complexos.
A liderança no aporte de recursos permanece nas mãos dos institutos e fundações empresariais, responsáveis por R$ 3,2 bilhões do total investido em 2024. Esse protagonismo reforça o papel central do investimento social conduzido pelo setor corporativo. Os dados também revelam uma mudança de postura, em que o pilar Social da estratégia
deixa de ser um elemento complementar para se tornar eixo fundamental das políticas de responsabilidade socioambiental.
O levantamento mostra, ainda, que a educação segue como a principal frente apoiada pelo ISP, concentrando o foco de 67% das organizações respondentes. Trata-se do campo que mais recebe recursos e que mais estabelece diálogo com a gestão pública. E esse movimento vai além do apoio a iniciativas isoladas: empresas e fundações têm atuado cada vez mais em parceria com redes municipais, estaduais e programas federais, contribuindo para o desenvolvimento de soluções integradas às políticas educacionais.
Essa articulação é estratégica porque o apoio do Investimento Social Privado às políticas públicas permite dar continuidade e escala às ações, tornando possível chegar a escolas e comunidades historicamente vulneráveis. Dessa forma, garantimos que melhorias no ensino não se restrinjam a projetos piloto, mas avancem para transformações duradouras.
Publicações e estudos do próprio GIFE demonstram como práticas de avaliação, monitoramento e transparência desenvolvidas no setor privado podem aprimorar a gestão educacional e orientar decisões baseadas em evidências.
Outro aspecto relevante é o avanço do grantmaking, quando as organizações apoiam financeiramente quem já atua nos territórios, como ONGs, coletivos e organizações da sociedade civil (OSCs). Em 2024, 83% das organizações apoiaram OSCs e 72% realizaram repasses financeiros, totalizando R$ 1,3 bilhão, o maior volume desde o período pré-pandemia. Esse movimento amplia a capilaridade das ações, fortalece organizações atuantes nos territórios e permite que iniciativas de ensino sejam implementadas com maior aderência às realidades locais, reforçando a ponte entre setor privado, sociedade civil e gestores públicos.
O Censo também registra mudanças no perfil dos investidores. As organizações independentes, por exemplo, ultrapassaram pela primeira vez a marca de R$ 1 bilhão investido, revelando a expansão de novos arranjos institucionais e modelos de sustentabilidade. Ao mesmo tempo, observa-se uma diversificação temática significativa: inclusão produtiva, equidade racial, iniciativas climáticas e respostas emergenciais passaram a ocupar espaço relevante na agenda – ainda que, como disse anteriormente, a educação permaneça como eixo estruturante.
Os dados mais recentes reforçam a urgência de manter o foco em políticas educacionais como principal vetor de avanço social. Em um país marcado por desigualdades profundas, investir estrategicamente na educação pública significa investir no futuro econômico, democrático e social do Brasil.
Se empresas e fundações já têm papel protagonista na alocação de recursos, sua atuação pode ser ainda mais transformadora ao fortalecer a colaboração com governos, apoiar iniciativas inovadoras e ampliar o alcance de programas que comprovadamente melhoram a aprendizagem. Esse é o caminho para que a filantropia empresarial complemente e impulsione transformações estruturantes na educação brasileira.