Após experiência de quase morte, ela deixou cargo de liderança no Google e encontrou ‘missão de vida’ na fotografia subaquática

Fabi Fregonesi ganhou o ‘Oscar da fotografia’ e assumiu isso como um dos sinais para começar uma transição de carreira

12 dez 2025 - 04h59
Fabi Fregonesi e cardume de Black Salemas - Galápagos
Fabi Fregonesi e cardume de Black Salemas - Galápagos
Foto: Arquivo Pessoal/Raphael Gatti

Fabi Fregonesi nunca mais foi a mesma depois que ouviu de um médico que poderia morrer a qualquer momento. Ela estava em um cargo de liderança no Google, empresa onde ficou por quase 20 anos, quando teve um quadro grave de diverticulite com perfuração intestinal. A situação a fez repensar a vida, a rotina e a mensagem que queria deixar para o mundo. Em busca da ‘vida que queria viver’, em uma mudança radical e corajosa, ela abriu mão do mundo corporativo e encontrou sua missão de vida na fotografia subaquática: "Não me arrependo nenhum segundo".

Fabi, agora com 41 anos, é natural do Rio de Janeiro e mora em São Paulo. A conexão com o mar existe desde que nasceu, como contou ao Terra. Mesmo assim, mergulhar não é algo que ela imaginava que seria o que faria da vida. Longe disso: na adolescência, uma situação traumática a fez ficar com medo de peixe.

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Tudo começou a mudar quando, por volta de seus 25 anos, ela tinha uma viagem para Fernando de Noronha programada e decidiu fazer um curso de mergulho com uma amiga. “Nem pensei direito, só fiz”, relembra. Na hora, quando se deu conta de que estava no mar, teve uma crise de pânico e foi prontamente acolhida. Isso mudou tudo. Mais calma, ela conseguiu enfrentar o medo, finalizar o mergulho e entender o poder de estar ali, nas profundezas.

Isso aconteceu em 2009, quando ela já trabalhava no Google. Depois, num primeiro momento ainda como um hobby, começou despretensiosamente a fotografar nos mergulhos. Ela queria conseguir mostrar para as pessoas tudo que via. Mesmo sem muitos recursos, sua máquina a acompanhava nas viagens e assim foi pegando gosto pela coisa.

Dois lobos marinhos brincando com uma estrela do mar, em uma cena que parece que estão nos convidando para brincar com eles. Foto tirada em Los Islotes, México.
Foto: Arquivo Pessoal/Fabi Fregonesi

Enquanto isso, profissionalmente, Fabi crescia na área de vendas das soluções de publicidade do Google. Ela conta ter participado de projetos incríveis, e que convivia com pessoas que levará para o resto da vida. Mas a rotina era extremamente intensa, e o estresse do trabalho foi um dos fatores que a levou ao quadro de diverticulite com perfuração intestinal.

Foi uma emergência médica grave, e aconteceu quando ela estava em uma viagem a trabalho na África do Sul, em abril de 2023. Foram 11 dias internada no país, e lá que ela soube que poderia morrer devido à gravidade do caso. “Eu nunca tinha parado para pensar que talvez não tivesse mais os 50 anos pela frente que pensava que teria”, e aí que ela começou a pensar de forma mais concreta em onde queria continuar a criar raízes.

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A partir desse primeiro episódio, ela seguiu tendo crises da doença com espaçamento de um mês e meio entre elas. Foram quatro ao longo do ano. Até que, em 2024, ela foi informada que sua vaga em um dos maiores times de vendas do Google não existiria mais devido a uma reestruturação  --a opção, para continuar na empresa, seria a recolocação para outra vaga em um cargo que ela já havia estado anos atrás. O que, para ela, não fazia mais sentido.

Esse foi um dos sinais. O outro foi ter ganhado o pódio do Underwater Photographer of the Year, considerado o “Oscar da fotografia subaquática”, no mesmo ano. Tudo isso a encorajou. Ela chegou a considerar outros formatos de carreira, como trabalhar com consultoria ou em conselhos de empresas, mas entendeu que isso não seria a resposta para como ela queria viver o resto de sua vida.

Peixe palhaço em uma cena rara de se ver e fotografar, com um camarão na sua cabeça. Foto tirada no Estreito de Lembeh, Indonésia.
Foto: Arquivo Pessoal/Fabi Fregonesi

Seu último dia no Google foi em julho de 2024, e foi quando ela saiu do escritório e passou a ter a fotografia como trabalho -- e também como missão de vida. Essa missão, como conta, tem a ver com os tubarões. 

"São animais ainda muito incompreendidos, então uma das coisas que eu quero é desmistificar, através da foto, como que esses animais são vistos. É uma coisa que eu tenho como missão. Se eu conseguir fazer uma pessoa temer um pouco menos os tubarões, por uma questão cultural, midiática, enfim, eu já entendo que meu trabalho está sendo feito ali de alguma forma", acredita.

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Fabi se preocupa muito com a questão da conscientização, e busca passar informações de forma simples e clara ao público com o seu trabalho. Nas redes sociais, por exemplo, por meio do perfil @fabi_dive, ela compartilha diversos conteúdos explicando questões ambientais, o contexto por trás de suas fotos e mais. Seu trabalho, no Instagram, é acompanhado por mais de 17 mil seguidores.

‘Não vivemos de sonho’

Fabi tinha carteira assinada e uma vida financeira confortável nos anos que seguiu no mundo corporativo. A vida era agitada e chegou em posições que nunca nem imaginava. Quando ainda estava internada, ela começou a colocar tudo na ponta do lápis e quis entender as possibilidades. “Não vivemos de sonhos”, reconhece.

Desde que começou a refletir sobre seu futuro, criou uma poupança, mapeou possíveis fontes de renda no ramo da fotografia subaquática e, quando chegou o momento de 'mergulhar de cabeça', se sentiu segura em arriscar sabendo que, se não desse certo, conseguiria se manter por algum tempo com a reserva que fez --o que reconhece ser um privilégio. 

“Quando tomei a decisão foi um pouco assustador. A gente tem medo do desconhecido. Mas, no final das coisas, hoje em dia é libertador. Saber que eu estou fazendo algo que faz meu corpo pulsar”, relata a fotógrafa.

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Por mais que, por enquanto, ela não ganhe o mesmo que ganhava no setor corporativo, ela vê sua vida mais equilibrada. Fabi analisa a questão a partir do que chamou de “sete saúdes”: física, mental/emocional, social, financeira, profissional, familiar e espiritual. Enquanto a vida finaeira está menos estável, as demais estão em maior equilíbrio. E, no momento, é o que importa para ela.

Tubarão limão de frente pra câmera, dando a sensação de estar sorrindo para a foto. Imagem feita nas Bahamas.
Foto: Arquivo Pessoal/Fabi Fregonesi
Fonte: Portal Terra
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