O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, se reuniu por mais de uma hora com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, na Casa Branca. O encontro, articulado em caráter de urgência, dá sequência às tratativas abertas após a recente conversa telefônica entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente americano, Donald Trump.
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Ao deixar a reunião, Vieira afirmou que Rubio e outros representantes do governo Trump presentes mostraram “muita disposição para trabalhar em conjunto para traçar uma agenda bilateral de encontros para tratar de temas específicos de comércio”, disse.
Durante conversa com jornalistas na embaixada brasileira em Washington, o chanceler evitou confirmar se houve progresso na definição da data e do local do primeiro encontro oficial entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump — compromisso que ambos acertaram realizar “em um futuro não tão distante” em videoconferência há cerca de dez dias.
“Está mantido o objetivo de que (os líderes) se reúnam proximamente, mas isso ainda vai ser definido pelas partes e de acordo com as agendas dos presidentes para (a escolha de) um local que seja conveniente para ambos os lados”, disse Vieira. “Há um interesse de ambas as partes de que os presidentes se encontrem em breve”, completou
A audiência teve como ponto central o tarifaço anunciado por Donald Trump, que ameaça exportações brasileiras e reacende a tensão comercial entre os dois países.
Interlocutores afirmam que o Brasil cobrou explicações sobre as novas barreiras impostas a produtos do agronegócio e da indústria nacional, classificadas pelo governo Lula como “injustificadas e desproporcionais”. O clima, segundo diplomatas, foi de “cordialidade estratégica” — expressão usada para descrever a tentativa de manter o diálogo aberto sem ampliar a crise.
Rubio foi designado por Trump para conduzir o diálogo direto com o governo brasileiro após a recente ligação entre os dois presidentes. Na ONU, Trump brincou dizendo que havia “pintado uma química” entre ele e Lula durante um rápido encontro pessoal, ao que o brasileiro respondeu que, após o telefonema, se tratava de uma “indústria petroquímica”.
Em Brasília, a avaliação é de que o governo americano busca retomar influência sobre a América do Sul sob o argumento de combater o narcotráfico, mas com foco político em enfraquecer o regime de Nicolás Maduro. O Planalto teme que qualquer ofensiva militar provoque uma nova onda migratória e atinja diretamente a fronteira norte do Brasil.
O Itamaraty ainda avalia o impacto político da conversa, vista como o primeiro teste real da relação Lula-Trump desde a retomada das negociações bilaterais. A percepção entre auxiliares do presidente é de que o “tom petroquímico” da relação segue em construção — entre atrito e pragmatismo.