Governo Bolsonaro pediu análise de dados que relacionassem Lula à facção criminosa, diz testemunha ao STF

Analista de audiência falou sobre o assunto em audiência sobre trama golpista; entenda

14 jul 2025 - 14h52
(atualizado às 22h06)
Durante as eleições de 2022, servidor diz que recebeu pedido da gestão Bolsonaro para relacionar áreas dominadas por facção criminosa à municípios onde Lula teve mais votos
Durante as eleições de 2022, servidor diz que recebeu pedido da gestão Bolsonaro para relacionar áreas dominadas por facção criminosa à municípios onde Lula teve mais votos
Foto: Ricardo Stuckert / PR

Em audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a trama golpista, o analista de inteligência e policial militar Clebson Ferreira de Paula Vieira afirmou que a gestão Bolsonaro lhe pediu uma análise de dados que relacionassem votos ao então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a áreas dominadas por uma facção criminosa. A declaração foi dada na manhã desta segunda-feira, 14.

Ele depôs como testemunha de acusação do núcleo 2, composto por seis réus -- acusados de elaborar a “minuta do golpe”, assim como monitorar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, e articular ações com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) para atrapalhar o voto de eleitores do PT do Nordeste nas eleições passadas.

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Na época, durante a gestão de Anderson Torres, no governo Bolsonaro, Vieira estava na Coordenação-Geral de Inteligência do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP)

Segundo ele, o pedido em questão foi para “tentar ver análise de correlação estatística da concentração de votos em territórios do CV [Comando Vermelho] no Rio de Janeiro, para saber se havia correlação, para ver se o candidato à época, Lula, tinha maior concentração de votos em área dominada por facção criminosa".

Ele contou sobre a questão via WhatsApp, em troca de mensagens com sua então esposa. Em 21 de outubro de 2022, entre o primeiro e o segundo turno das eleições presidenciais, ele escreveu à mulher que tinha "surgido uma demanda daquelas, diretamente da diretora" e que estava "muito mal, mas tenho que acelerar".

Ao Supremo, ele negou que a demanda tenha vindo de sua então superiora, Marília Ferreira de Alencar, que é delegada, ex-diretora de Inteligência da Polícia Federal e ré na ação penal. Segundo a testemunha, o pedido estava "num bolo" de outros pedidos de análises referentes ao segundo turno das eleições.

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Além de Marília, compõem o núcleo 2 como réus:

  • Fernando de Sousa Oliveira (delegado da Polícia Federal);
  • Filipe Garcia Martins Pereira (ex-assessor internacional da Presidência da República);
  • Marcelo Costa Câmara (coronel da reserva do Exército e ex-assessor da Presidência);
  • Mário Fernandes (general da reserva do Exército);
  • Silvinei Vasques (ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal).

Os seis respondem pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

"[Eu me declarei muito mal com essa situação] porque a gente, que trabalha na atividade de inteligência, luta por uma atividade de inteligência imparcial, ética, e quando vê pessoas com um mínimo de autoridade tentando destoar disso, a gente fica triste, perdido, nossos líderes com um comportamento que vai de encontro à nossa doutrina de inteligência", declarou Vieira, no STF.

O STF começou as oitivas das testemunhas de defesa e de acusação dos núcleos 2, 3 e 4 da tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 nesta segunda-feira. A audiência segue até 24 de julho, sendo realizadas por videoconferência. 

*Com informações do Estadão Conteúdo

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Fonte: Redação Terra
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