Governo Bolsonaro corta verba de livro didático e atrasa compra para 12 milhões de alunos

Bloqueio de recursos do Programa Nacional do Livro e do Material Didático alcançou R$ 796,5 milhões este ano; FNDE diz, no entanto, que programa está em plena execução

13 out 2022 - 06h57
(atualizado às 07h32)
Jair Bolsonaro (PL) participa de missa no Santuário de Aparecida nesta quarta, 12
Jair Bolsonaro (PL) participa de missa no Santuário de Aparecida nesta quarta, 12
Foto: Gilson Junio/AGIF via Reuters Connect

A menos de três meses do fim do ano, o governo Jair Bolsonaro (PL) ainda não comprou cerca de 70 milhões de livros didáticos para alunos e professores dos primeiros anos do ensino fundamental da rede pública do País. O bloqueio de recursos do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) este ano alcançou R$ 796,5 milhões.

Especialistas em educação que acompanham o programa afirmaram ao Estadão, reservadamente, que os livros dos estudantes podem não chegar a tempo do início do ano letivo de 2023 pelo atraso no cronograma de compra. Por conta disso, cerca de 12 milhões de alunos correm o risco de começar as aulas sem o material didático.

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Questionado sobre os bloqueios no orçamento do Ministério da Educação, incluindo os R$ 800 milhões do programa do livro, o presidente Jair Bolsonaro disse que "vai ser pago no fim do ano". "O orçamento da Educação do corrente ano é R$ 900 milhões maior do que o anterior. Em certos momentos, eu tenho que postergar o pagamento", disse. "Nunca deixamos de empenhar tudo. Apenas vai ser pago em dezembro. Nada mais do que isso."

O valor que foi autorizado pelo governo (ou empenhado, no jargão técnico) para os livros dos estudantes é o menor dos últimos quatro anos, considerando o período de janeiro a setembro. O economista Gil Castello Branco, secretário-geral da Associação Contas Abertas, explica que o empenho é a garantia para as empresas de que existem recursos disponíveis no Orçamento para pagar os serviços prestados. Sem o governo fazer essa reserva, as fabricantes não começam a produção das obras.

Congelamento

O orçamento do programa do livro didático para este ano é de R$ 2,2 bilhões. O valor, no entanto, ainda não pode ser totalmente usado. Para cumprir o teto de gastos, a regra que atrela o crescimento das despesas à inflação, foram bloqueados R$ 796,5 milhões.

Até esta sexta-feira, 7, o Ministério da Educação tinha R$ 1,1 bilhão disponíveis para começar a contratar os livros didáticos, mas esses valores ainda não tinham sido empenhados. O Estadão apurou que o FNDE e as editoras têm conversado sobre a situação, mas o processo de compra do material não começou. O fundo precisa enviar para as editoras as informações sobre a quantidade de cada obra, para que as empresas enviem os preços e, então, a negociação dos valores seja iniciada.

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O orçamento do programa do livro é bancado, quase em sua totalidade, com recursos controlados pelo próprio governo. Em três anos de funcionamento de orçamento secreto, nenhuma verba foi destinada pelos parlamentares à compra de livros escolares.

Ao Estadão, o Ministério da Economia afirmou que o bloqueio total do Ministério da Educação é de R$ 1,3 bilhão, o que inclui outros programas. A pasta comandada por Paulo Guedes registrou que foi a pasta da Educação que "apontou" a ação orçamentária do programa do livro "como passível de bloqueio". Segundo a Economia, desbloqueios "podem ser realizados futuramente".

Procurado, o Ministério da Educação não se pronunciou.

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