Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral da Polícia Civil de SP e reconhecido por combater o PCC, foi executado em uma emboscada e velado na Alesp com presença de autoridades; parlamentares discutem maior proteção para ex-policiais em situações de risco.
A despedida do ex-delegado geral da polícia civil de São Paulo, Ruy Ferraz, reuniu familiares e colegas da corporação em um funeral na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). O velório aconteceu nesta terça-feira, 16, e reuniu autoridades como o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), o secretário de Segurança Pública da cidade, Guilherme Derrite, e o presidente da Casa, André do Prado (PL).
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O corpo deixou o Instituto Médico Legal (IML) no Centro de São Paulo por volta das 7h30, e chegou na Alesp às 11h10 em um carro da funerária. A cerimônia durou até as 15h. Depois, o cortejo seguiu para o Cemitério da Paz, no Morumbi, zona Sul da Capital.
Autoridades policiais de todo o Estado vieram prestar homenagem ao colega. Segundo o atual delegado-geral da corporação, Artur Dian, o inquérito deve ouvir pessoas próximas da vítima para analisar as ameaças que o oficial vinha sofrendo.
Os colegas avaliam que os criminosos por trás do assassinato planejavam o ato com detalhes, dado o armamento pesado e o esquema de emboscada “profissional”. Para o também delegado Marco Antônio Desgualdo, o atentado representa um ato de ousadia dos criminosos.
Na homenagem, pairava um clima de indignação e tristeza. Grupos de oficiais comentavam que os criminosos do PCC na Baixada Santista têm adotado táticas de combate e intimidação similares ao do Comando Vermelho, presente no Rio de Janeiro. “Foi enfrentar o sistema, deu disso”, repetiam os ex-colegas de Ferraz.
Histórico de combate ao crime
Ferraz era reconhecido por sua luta contra a facção criminosa PCC e já vinha recebendo ameaças da facção há anos. Ele era considerado como um dos principais inimigos da facção, segundo colegas.
Ele dedicou 40 anos de sua vida à Polícia Civil. O policial ocupou importantes cargos na corporação e no Estado ao longo da carreira, como o de diretor do Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital), do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa), do Denarc (Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico) e no Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).
Em 2019, o Ministério Público de São Paulo revelou uma carta em que o líder máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, teria ordenado a morte de três integrantes da Polícia Civil de São Paulo — entre eles o delegado Ferraz. Os atentados planejados seriam resposta à transferência de Marcola e outros 21 integrantes do PCC para prisões federais.
Proteção para ex-policiais
Vereadores do município de São Paulo e deputados estaduais discutiam a necessidade de se aprovar um projeto de lei que garanta a segurança de agentes policiais que enfrentam o crime organizado, mesmo quando deixarem as instituições.
“O presidente da República ou os governadores não deixam de ter segurança quando saem dos cargos e recebem escolta para o restante de suas vidas. Mas um delegado, que passou a vida combatendo o crime, não tem proteção nenhuma”, argumenta o deputado Paulo Batista dos Reis (PT).
Segundo o parlamentar, o Estado não pode abandonar um colaborador sabendo que, muitas vezes, o crime jura vingança contra agentes.
Deputados da Assembleia disseram ao Terra, sob condição de anonimato, que ainda não há um projeto de proteção a policiais capaz de unir a oposição e os governistas na Casa. Os políticos, entretanto, pretendem ser rápidos na tramitação do projeto.