Uma forte chuva de granizo atingiu Ponta Grossa, no Paraná, no dia 24 de novembro de 2025, cobrindo a cidade com gelo e causando danos; o fenômeno, que impressionou pelas semelhanças com neve, foi causado por uma supercélula combinada a fatores climáticos e geográficos.
Imagens aéreas da cidade de Ponta Grossa, no Paraná, viralizaram nas redes sociais, na última segunda-feira, 24, após uma forte chuva de granizo atingir a região. Do alto, o município parecia ter sido encoberto por neve.
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Usuários do X compartilharam vídeos e fotos feitos do alto de prédios da cidade. Um chegou a dizer que o vídeo parecia ter sido criado por inteligência artificial. Mas, apesar da beleza, a chuva de pedras de gelo provocou estrago para muitos moradores, com muitos danos causados às casas.
Segundo o coordenador de operações do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), Marco Jusevicius, houve um evento de granizo de alta intensidade em Ponta Grossa no final da tarde de segunda.
Parece uma imagem de IA, mas na verdade é a cidade de Ponta Grossa, no Paraná, depois de uma chuva de granizo. pic.twitter.com/e9tAKp7KQR
— honovus (@honovus) November 24, 2025
"Ela foi causada por uma tempestade muito severa, uma supercélula que se formou ao sul da cidade. Ela atravessou a cidade entre as 17h15 e as 17h50, provocando um grande volume de precipitação de granizo em basicamente toda a área urbana da cidade", afirmou. Supercélula é como são chamadas as nuvens que carregam granizo.
"As gotas de água dentro da nuvem chegam às áreas mais frias da nuvem com temperaturas abaixo de zero grau e se solidificam formando pedras de gelo que são conhecidas como granizo. Quando elas ficam pesadas o suficiente e não conseguem mais ser sustentadas dentro da nuvem, elas precipitam até a superfície da terra na forma de gelo", disse Jusevicius.
A meteorologista Júlia Crepaldi Munhoz, também do Simepar, acrescentou que quatro fatores levaram à formação do granizo incomum na cidade. Foram eles:
- Mudança de velocidade e/ou direção do vento com a altitude: Essa alteração mantém a célula convectiva (onde ocorre processo de transferência de calor entre fluidos causado por diferentes temperaturas) ativa por mais tempo. Dessa forma, a tempestade consegue permanecer organizada e intensa, favorecendo a formação de granizo maior.
- Queda abrupta da temperatura entre 3 km e 6 km de altitude (700 hPa a 500 hPa): Nesta camada, a temperatura decresce rapidamente com a altitude, proporcionando condições favoráveis para a formação de cristais de gelo dentro da nuvem. À medida que a água super-resfriada sobe, ela congela e, com as correntes ascendentes sustentando seu movimento, cresce até formar pedras de granizo.
- Valores elevados de CAPE (Energia Potencial Convectiva Disponível): A CAPE indica a quantidade de energia disponível para a convecção. Na ocasião, havia valores significativos de CAPE na camada da nuvem, inclusive entre aproximadamente 3 km e 6 km de altitude, o que proporcionou correntes ascendentes fortes para sustentar o movimento do ar dentro da nuvem. Isso permitiu que as partículas de gelo permanecessem suspensas por tempo suficiente para crescer e formar granizo de tamanho considerável.
- Altitude e orografia do município de Ponta Grossa (950 m a 1.170 m, média ~975 m): Devido à proximidade de serras, o ar foi forçado a subir, potencializando a convecção (efeito orográfico) e contribuindo para a formação do granizo. Além disso, as pedras de gelo não tiveram espaço suficiente para derreter totalmente antes de atingir o solo, por conta da altitude elevada do município, chegando praticamente intactas à superfície.
Outras cidades do Brasil também registraram chuva de granizo esta semana. Em Santa Catarina, seis municípios decretaram situação de emergência por causa do fenômeno e dos temporais.