Famílias de vítimas de operação na Penha protestaram em frente ao IML no Rio, denunciando falta de informações e atrasos na liberação de corpos, sendo dispersadas pela polícia com spray de pimenta.
A quinta-feira, 30, foi mais um dia em que familiares de pessoas vitimadas na megaoperação acontecida no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio, apresentaram queixas sobre a falta de informações para o reconhecimento e liberação dos corpos.
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Ao longo do dia, centenas de pessoas circularam entre o posto do Detran, onde recebem orientações, acolhimento social e jurídico da Defensoria Pública-RJ, e o Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto (IML), na área central da cidade. A reportagem do Terra acompanhou diversos diálogos de familiares frustrados com a situação e alegando que sequer recebiam atendimento. "Para pobre e favelado é sempre assim", disse uma das mulheres presentes.
Uma outra cidadã relatou ter ido ao local por achar que o marido estava morto e, dessa maneira, chegou até mesmo a preencher uma documentação para a liberação do corpo. Entretanto, de acordo com ela, antes de deixar a unidade, ela revelou ter sido informada que tratava-se de um erro do sistema do IML e que o nome do companheiro não constava na relação de vítimas. Assim, a mulher permaneceu no local sem saber a real situação do esposo.
Uma das maiores preocupações dos parentes das vítimas era em relação ao estado de conservação dos cadáveres, considerando que muitos dos corpos chegaram ao IML há dois dias. O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) esteve no local e questionou a direção do instituto sobre a solicitação dos familiares. Segundo o parlamentar, o IML informou que todos os corpos já periciados, ou seja, aqueles que já haviam passado pela necropsia, encontravam-se em refrigeração em câmaras frias.
Além de Braga, outros representantes do congresso também estiveram no instituto e conversaram com os jornalistas. A deputada Benedita da Silva (PT) demonstrou revolta com a limitação do acesso dos parlamentares aos corpos dos vitimados, para que pudessem fornecer detalhes da situação para as famílias. "Primeira vez na vida em que somos impedidos de entrar em um órgão público para fazer uma identificação", declarou. "É uma nebulosidade total (...) parece que não são gente, e isso não é admissível. Até nas guerras há o direito de sepultar e ter os corpos", disparou o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).
Familiares protestam e fecham a avenida
Com as queixas pela morosidade no atendimento e dificuldades para reconhecer e liberar os corpos, no final da tarde, familiares dos vitimados na megaoperação optaram por protestar fechando a avenida em frente ao IML.
Cerca de 30 mulheres ocuparam a Avenida Francisco Bicalho. Emocionadas e de braços dados, além do sentimento de revolta, elas denunciavam descaso por parte de funcionários do instituto. "Sabemos que eles estão mortos, nós só queremos justiça pra liberar os corpos e podermos fazer um enterro digno", desabafou uma das mulheres, ajoelhada ao chão no meio da avenida.
"Chacina! Isso é uma covardia! Eles são bandidos, nós não! Pelo menos, liberar o corpo. Libera o corpo", gritou uma outra cidadã durante a mobilização.
A manifestação durou cerca de 25 minutos e gerou impactos no trânsito. Um motorista alegava estar com a avó idosa em casa e desejava seguir o caminho. Em determinado momento, o homem ameaçou avançar com o carro sobre os parentes das vitimas, até ser contido pelas autoridades.
Por fim, o protesto foi dispersado pelos policiais. Os agentes atiraram spray de pimenta sobre as mulheres e também sobre os profissionais de imprensa que acompanhavam o ato. Então, de maneira truculenta, acabaram por liberar as vias.