Renault Geely: antes de fechar o ano, vale prestar atenção nesta parceria

Por que a associação mais silenciosa do mercado pode ser a que mais bem traduz a transição elétrica possível no Brasil

29 dez 2025 - 07h59

O setor automotivo brasileiro termina mais um ano olhando para os mesmos polos de sempre. De um lado, quem aposta em volume. Do outro, quem aposta em ruptura tecnológica. No meio disso tudo, algumas parcerias passam quase despercebidas – e talvez seja justamente aí que esteja o erro de leitura.

Antes de virar o calendário, vale olhar com mais atenção para a associação entre Renault e Geely. Não porque ela seja barulhenta, disruptiva ou espetacular. Mas porque ela parece ser, hoje, a mais coerente com a realidade brasileira.

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Enquanto muitas alianças globais nascem infladas por discurso, essa nasce de uma combinação simples e rara: a Renault conhece profundamente o Brasil – fábrica, fornecedores, custo, consumidor, posicionamento. A Geely domina a eletrificação como poucos grupos no mundo – plataformas maduras, escala real, custos já amortizados na China. Uma sabe onde pisa. A outra sabe o que entrega. Essa soma não promete milagres. E talvez funcione justamente por isso.

Em conversa recente que tive com o presidente da Renault Geely do Brasil, Ariel Montenegro, ele confirmou algo que passou quase sem alarde: o Geely EX2 elétrico será produzido no Brasil. Não será o primeiro modelo da parceria a sair da linha, mas estará lá. Antes dele, o plano prevê o Geely EX5 híbrido plug-in nacional, movimento que ajuda a entender a estratégia adotada – gradual, pragmática, sem saltos retóricos.

Essa escolha diz muito. Ao invés de apostar tudo em um elétrico puro como símbolo, a Renault Geely constrói uma transição possível. Híbrido plug-in primeiro. Elétrico compacto depois. Produto certo, no momento certo, com custo controlado. Não é empolgante no discurso, mas costuma ser eficiente no resultado. Especialmente porque não despreza o que mnuitos desprezam: o potencial dos compactos elétricos de criar uma nova onda de consumidores para as marcas.

O mais interessante é que a Renault já chega a esse novo ciclo com um tabuleiro razoavelmente organizado. Kwid, inclusive elétrico, Kardian bem posicionado, Boreal como próxima peça-chave no segmento C-SUV, que até agora é uma disputa particular entre Jeep Compass e Toyota Corolla Cross. Falta escala em eletrificação, não coerência de gama. E é exatamente aí que a Geely entra, não como salvadora, mas como complemento.

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O Geely EX2 não é um conceito experimental. É um carro de volume na China (Geome Xingyuan), testado, aceito e produzido em larga escala. O Geely EX5 segue a mesma lógica em um segmento que o consumidor brasileiro já entende e deseja. Nada disso é improviso, nem aposta cega em tendência.

Geely EX2: carta na manga da estratégia industrial da associação
Geely EX2: carta na manga da estratégia industrial da associação
Foto: Rodolpho Buhrer / Renault Geely

Quando se olha adiante, o desenho começa a ganhar corpo. Picape Niagara. Híbrido plug-in nacional. Elétrico compacto nacional. Um portfólio que conversa com o Brasil real, não com o Brasil idealizado de apresentações globais.

Talvez essa parceria não renda manchetes empolgantes como outros movimentos do mercado. Agora. Talvez não seja a mais comentada nas redes nem a mais celebrada em eventos. Mas, se há algo que o mercado automotivo ensina, é que transformações relevantes nem sempre começam fazendo barulho.

Por isso, para quem gosta dos movimentos industriais do setor automotivo, antes de fechar o ano e projetar o próximo, vale guardar essa combinação na memória. Renault Geely não parece querer correr. Parece querer chegar. E, muitas vezes, é exatamente isso que faz toda a diferença. A ver.

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