À primeira vista, Shadow Labyrinth não se parece em nada com aquilo que você esperaria de um jogo da franquia Pac-Man. O clássico personagem da bolinha amarela, conhecido por correr atrás de fantasmas em labirintos coloridos, agora protagoniza uma aventura sombria e repleta de ação ao estilo metroidvania — algo que, sem dúvida, chama a nossa atenção.
Inspirado em um episódio da série animada Secret Level, da Amazon Prime Video, o título adota um tom bem diferente do tradicional. O episódio em questão chegou a ser alvo de críticas por sua abordagem mais sombria, e isso gerou certa resistência quando o jogo foi anunciado como parte oficial das comemorações de 45 anos da série. Mas, ao invés de tentar agradar pela nostalgia, o game aposta na reinvenção — e surpreende justamente por isso.
Confira a seguir aqui no Game On o que esperar desse Pac-Man sombrio.
Aventura no planeta hostil
Se Shadow Labyrinth já soa misterioso pelo nome, a sensação só se intensifica ao iniciar o jogo. A narrativa nos joga em um mundo estranho, sombrio e opressor, onde cada passo carrega mais perguntas do que respostas. No centro dessa jornada está o nosso protagonista sem memória, chamado simplesmente de Espadachim Nº 8, perdido em um planeta alienígena hostil, guiado apenas por fragmentos de passado e uma estranha figura familiar: uma bolinha amarela chamada Puck, que parece mais manipuladora do que amigável.
A mudança na abordagem de Pac-Man é ousada, e surpreendentemente eficaz. Longe dos labirintos coloridos, do visual fofo e do apelo arcade, o jogo adota um clima pesado, quase melancólico, que remete aos clássicos Metroid em sua melhor forma. Tudo aqui é carregado de atmosfera: o silêncio dos corredores, a sensação de isolamento e a constante dúvida sobre quem está realmente ao seu lado.
Mesmo com uma trama que se desenvolve de maneira lenta e que não empolga tanto quanto poderia, Shadow Labyrinth conquista pela reinvenção de um ícone dos videogames. Essa nova versão de Pac-Man - enigmática, ambígua e cheia de camadas, desperta curiosidade, não pela nostalgia, mas pela ousadia de ser algo completamente diferente.
Combate intenso e mecânicas criativas
A estrutura segue a cartilha dos metroidvanias, com caminhos ramificados em corredores 2D que exigem decisões rápidas: esquerda, direita ou para baixo? O foco está mais na ação e na exploração do que na repetição de rotas (o famoso backtracking) - mas elas, claro, estão presentes também.
O novo Pac-Man não apenas luta, como também se transforma. O personagem tem acesso a ataques variados, pode rebater projéteis e até assumir uma forma robótica inspirada em mechas de animes, usada tanto em batalhas quanto para alcançar áreas secretas.
Em certos trechos, ele retorna brevemente à sua forma clássica — a bolinha amarela comedora — para atravessar passagens estreitas, em uma espécie de minigame de física com saltos e ricochetes (alguns bem difíceis). Há também pequenos quebra-cabeças pelo caminho, simples, mas eficientes.
Chefões marcantes e um visual caprichado
Em Shadow Labyrinth, os inimigos não são apenas obstáculos, são peças essenciais para compor a atmosfera tensa e misteriosa do jogo. Longe dos fantasmas coloridos e caricatos que marcaram os primórdios de Pac-Man, aqui cada criatura reflete o novo tom sombrio da franquia. O design, o comportamento e até os nomes dos adversários carregam uma estranha familiaridade, como se tudo fosse uma distorção de algo que já conhecemos.
Os inimigos comuns em Shadow Labyrinth seguem uma lógica mais agressiva e estratégica do que apenas “encher tela”. Desde os primeiros minutos, fica claro que cada criatura tem um padrão próprio de movimentação e ataque. Alguns perseguem o jogador como se fossem predadores, outros se camuflam ou criam armadilhas no cenário. A variedade é boa e ajuda a manter a exploração dinâmica, obrigando o jogador a adaptar sua abordagem em diferentes áreas a todo o tempo.
Os chefões de Shadow Labyrinth são, sem dúvida, os maiores destaques do combate. Cada um ocupa boa parte da tela, com padrões de ataque intensos e designs que impressionam pela criatividade e pela fidelidade ao tom sombrio do jogo. A curva de aprendizado é real: morrer faz parte do processo de entender os movimentos e encontrar brechas para atacar nas tentativas seguintes.
Visualmente, o game não chega a impressionar, mas ele apresenta visuais e cenários com designs marcantes, especialmente os inimigos. O jogo aposta em uma direção de arte fortemente inspirada em clássicos como Metroid e Hollow Knight, com cenários alienígenas detalhados, cheios de profundidade e textura. Corredores orgânicos, ruínas tecnológicas e estruturas colossais compõem um mundo que parece ter sido abandonado por algo maior - e essa sensação de vazio e desolação permeia cada ambiente.
Onde o Pac-Man tropeça
Apesar de seus méritos, Shadow Labyrinth comete um erro difícil de ignorar: seu level design. O mapa, embora ambicioso, peca por ser confuso, pouco intuitivo e recheado de áreas alongadas para prolongar o tempo de jogo. A sensação não é de imersão, mas de exaustão. Cada ida e volta entre áreas soa menos como uma jornada e mais como um teste de paciência.
A falta de checkpoints bem distribuídos só agrava o problema, penalizando a curiosidade do jogador com longas caminhadas de volta após uma derrota, comprometendo o ritmo de exploração. A navegação é dificultada por um mapa visualmente caótico, que tenta ajudar, mas muitas vezes atrapalha.
O jogo cobra do jogador uma atenção constante e uma disciplina quase paranoica. E quando a derrota chega, é difícil não sentir que parte da frustração vem mais do labirinto mal desenhado do que das suas escolhas.
Shadow Labyrinth oferece um desafio consistente e, por vezes, implacável — especialmente para quem espera uma experiência mais acessível por se tratar de um jogo ligado ao universo Pac-Man. Apesar de suas origens, o jogo não alivia: seu nível de dificuldade é voltado para jogadores com familiaridade com o gênero metroidvania e que apreciam combates exigentes, exploração cuidadosa e punições severas por erros.
O combate exige reflexos rápidos e leitura precisa de padrões. Inimigos comuns já apresentam comportamentos estratégicos e, em muitos casos, podem eliminar o jogador com facilidade se subestimados. Chefes são verdadeiros testes de resistência e aprendizado, com ataques complexos e poucas margens para erro - e como eu já disse antes, é comum morrer várias vezes antes de compreender por completo suas mecânicas.
Conclusão
Shadow Labyrinth é sem dúvida um experimento ousado dentro do universo Pac-Man, que mostra como velhas franquias ainda têm fôlego para se reinventar. Com uma jogabilidade sólida, combates empolgantes e um visual bem trabalhado, o jogo não apenas honra os 45 anos do personagem — ele também aponta novos caminhos possíveis para sua evolução.
No entanto, ele não escapa de alguns tropeços que se tornam cansativos com o tempo, como um level design mal elaborado com seções vazias, repetitivas e esticadas, que parecem existir apenas para prolongar a duração da campanha. A sensação de ritmo irregular percorre toda a experiência, com poucos checkpoints e um mapa que, por vezes, parece lutar contra o jogador.
Mas, para quem estiver disposto a encarar um Pac-Man diferente e desafiador, há boas chances de encontrar aqui uma das surpresas mais intrigantes do ano.
Shadow Labyrinth está disponível para PC, PlayStation 5, Switch, Switch 2 e Xbox Series X|S.
Esta análise foi feita no PlayStation 5, com uma cópia gentilmente cedida pela Bandai Namco.