Depois de um tempo em acesso antecipado, Cross Blitz enfim chega na sua versão 1.00, mostrando aquela virada que só acontece quando o jogo finalmente encontra seu ritmo. Dá para sentir que ele está mais seguro do que quer entregar, sem depender de comparação com outros card games para chamar atenção.
Essa nova fase também deixa claro como o jogo cresceu durante o acesso antecipado. As ideias ficaram mais redondas, os modos conversam melhor entre si e a experiência como um todo tem mais personalidade. É um começo sólido para quem gosta de jogos de cartas que apostam em estilo próprio.
Confie no coração das cartas
Falar da história de Cross Blitz é um pouco difícil, já que ele possui cinco personagens para escolher quando começamos o modo Fables, que é onde o título desenvolve sua narrativa. Na tela de escolha preferi jogar com a Mereena, uma espécie de druida que vem de uma linhagem nobre, mas todos os personagens chamam atenção pelo visual e pela descrição das histórias. O Redcroft é o melhor exemplo disso, um leão pirata que vive atrás de tesouros.
Cada personagem tem três capítulos, e algo que o jogo faz muito bem é nunca punir ou bloquear o jogador caso ele queira ver as histórias dos outros personagens depois de iniciar com alguém específico.
A narrativa é contada como se fosse um livro, literalmente. Dentro de cada um deles existe um pequeno mapa que mostra onde a história do personagem acontece. Esse mapa tem vários objetivos que funcionam como pontos de parada, bem no estilo dos Mario 2D. Cada ponto abre um mini-mundo com movimentos limitados que vão aumentando conforme conversamos alguém, visitamos lojas para comprar cartas ou enfrentamos inimigos.
No geral, o modo Fables é divertido, principalmente para aprender o básico de Cross Blitz. A narrativa de cada personagem, o visual deles e o fato de cada história se passar em um continente diferente aumentam bastante a vida útil do jogo e prendem o jogador. O único ponto negativo é a ausência de localização para o português do Brasil. A leitura durante o combate é pouca, mas o modo história tem muitas interações entre personagens e fez falta ter essa acessibilidade para o público daqui.
Além do modo Fables, o título conta com um modo secundário chamado Tusk Tales. Aqui não existe narrativa. É só seguir caminhos até o chefe daquela rota, funcionando bem para testar decks diferentes. O diferencial é que ele tem bastante de roguelite. A vida não recupera a cada vitória, então é preciso pensar bem antes de cada jogada e torcer para chegar rápido em uma fogueira para recuperar parte da vida. Também é importante parar nas lojas para comprar cartas novas e fortalecer o deck.
O combate é simples e divertido. Ele segue o padrão dos jogos de carta, exigindo montar o deck certo para ter vantagem. Cada carta tem um custo de mana. As mais fortes, na quais algumas possuem seis mana para ser utilizado. As mais fracas, apenas um. Isso permite colocar lacaios fracos logo no primeiro turno, mas eles não atacam de imediato porque precisam de um pequeno cooldown antes de agir.
Antes de começar o combate podemos trocar uma carta da mão inicial, mas o jogo não mostra qual carta entrará no lugar. Vale pensar bem, porque às vezes vem algo pior. Também dá para evoluir o personagem e isso libera novas cartas no processo, inclusive algumas bem poderosas.
Meu único problema no combate é a falta de controle sobre os alvos. Em alguns momentos o oponente tinha apenas um ponto de vida, mas como havia cartas na mesa, meus lacaios atacaram as cartas dele em vez de finalizar a partida. Isso acabou adiando o combate por mais um turno de forma meio desnecessária.
Por fim, o título roda super bem. Pude jogar por boas horas no Steam Deck sem me preocupar com a bateria. O desempenho ficou estável nos 60 quadros por segundo o tempo todo, deixando claro que é um jogo perfeito para quem gosta de jogar em portáteis como o da Valve.
Considerações
Cross Blitz chega na versão 1.00 com a confiança que faltava no período em Acesso Antecipado. Os modos se encaixam melhor, a progressão faz mais sentido e o jogo ganha aquela personalidade que faz diferença em card games que querem ficar na cabeça do jogador. O modo Fables funciona bem como porta de entrada, Tusk Tales segura a parte mais desafiadora e a variedade de personagens ajuda a manter o ritmo sempre interessante.
Ainda tem pontos que poderiam melhorar, como algumas escolhas automáticas no combate e a ausência de localização para o português, mas nada que atrapalhe o que o jogo entrega no geral. No fim, Cross Blitz se firma como um card game leve, criativo e cheio de boas ideias para quem gosta do gênero.
Cross Blitz está disponível para PC.
Esta análise foi feita com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela The Arcade Crew.