Em sua primeira lista como treinador da seleção brasileira, Dorival Júnior anunciou novidades e, ao mesmo tempo, ignorou jogadores que mereciam continuidade ou oportunidade. Entre os estreantes na seleção principal estão o atacante Savinho, destaque do surpreendente Girona, da Espanha, o zagueiro Beraldo (PSG) e o volante Pablo Maia, que trabalham com o técnico no São Paulo.
Por outro lado, Dorival cometeu algumas injustiças ao desprezar nomes como o zagueiro Murillo, do Nottingham Forest, mais afirmado na Europa que o recém-chegado Beraldo, os laterais Carlos Augusto (Inter de Milão), Samuel Lino (Atlético de Madri) e Lucas Piton (Vasco), que vivem melhor momento que Ayrton Lucas, único representante do Flamengo na convocação.
Outra ausência sentida é a de João Pedro, do Brighton, que merecia continuar sendo testado na referência de ataque. Apesar dos bons valores esquecidos, Dorival mantém o ciclo de renovação iniciado por Fernando Diniz, apostando na juventude de jogadores expoentes e muito promissores, a exemplo de Endrick, João Gomes e André.
Não há como dizer que Dorival encontra terra arrasada. Apesar de 2023 ter sido um ano tenebroso para a seleção em termos de resultado e credibilidade institucional, o trabalho de Fernando Diniz deixou, no mínimo, o rascunho de um caminho promissor.
Responsável por abrir portas para revelações como Endrick, João Pedro e Paulinho, o técnico do Fluminense iniciou o necessário processo de renovação da equipe, embora não tenha tido o tempo ideal para ajustar sua filosofia de futebol ao perfil dos jovens convocados.
Ao contrário do que muita gente possa imaginar após a decepcionante campanha da seleção no Pré-Olímpico sob o comando de Ramon Menezes, que custou a vaga nos Jogos de Paris, o Brasil conta com uma safra interessante de jogadores com potencial para se firmarem como protagonistas no cenário internacional. Qualidade e variedade não faltam. A grande questão é como desenvolver uma ideia de jogo que contemple tantos talentos sem comprometer o equilíbrio de um time que se tornou frágil na defesa desde a saída de Tite.
Dorival dá pistas de como pretende implementar sua proposta nesta primeira convocação. Nos amistosos contra Espanha e Inglaterra, adversários europeus que Tite tanto reivindicava enfrentar durante seu reinado, o técnico pode montar o meio-campo a partir do retorno de Lucas Paquetá, centralizado, e dois volantes criativos (Douglas Luiz ou Casemiro ou André e Bruno Guimarães ou João Gomes ou Andreas Pereira) e, quem sabe, formar o futuro trio de ataque do Real Madrid: Vinicius Jr., Rodrygo e Endrick.
Para ter sucesso na seleção, o técnico que conquistou títulos importantes justamente no formato de mata-mata por Flamengo e São Paulo precisa acelerar o passo de consolidação da equipe já para a Copa América, no meio do ano, que será apenas sua segunda convocação. E com essa urgência em mente, a chance oferecida aos mais jovens nos amistosos ganha contornos de vestibular para a disputa do torneio.
Lidar com as demandas imediatistas do futebol não é algo novo na carreira de Dorival, que tem rodagem suficiente para entender o tamanho do desafio até a próxima Copa do Mundo — e as cascas de banana que o caminho lhe reserva. O que pode ser inédito em sua trajetória é a parte burocrática e, por que não, política do cargo.
A partir de agora, além de cuidar do time e das convocações, Dorival também passará a enfrentar os bastidores sempre tortuosos da CBF, ainda mais sob a presidência de Ednaldo Rodrigues, que, reconduzido pela Justiça ao poder após sofrer uma tentativa de golpe, optou por trocar de treinador para satisfazer a opinião pública e, consequentemente, abafar os movimentos de oposição dentro da entidade.
Com a gestão em xeque, nada garante que o dirigente — ou qualquer um que venha a substituí-lo em outra possível manobra — não resolva adotar o mesmo expediente em caso de resultados negativos do time de Dorival.
Juntamente com nomes consolidados na seleção, casos de Ederson, Danilo, Marquinhos, Casemiro, Vini, Rodrygo e Gabriel Martinelli, a nova geração tem a missão de reoxigenar uma equipe castigada pelo mau desempenho recente e pela crise administrativa da CBF. A ocasião e o ambiente não são dos melhores, mas há opções de sobra para que Dorival consiga formar um time novamente respeitável.