Solidários, até a página 2. Assim, os cinco clubes que se opuseram à paralisação do Campeonato Brasileiro por causa das enchentes no Rio Grande do Sul atravancavam o legítimo pleito dos times gaúchos em prol da suspensão completa de rodadas, finalmente acatado pela CBF.
Corinthians, Flamengo, Palmeiras, Red Bull Bragantino e São Paulo foram as equipes da Série A que não apoiaram a pausa do campeonato. Na semana passada, dirigentes sugeriram que Grêmio, Internacional e Juventude mandassem seus jogos em outros estados, ignorando a situação de calamidade pública que mantém alagados aeroportos, estádios e centros de treinamento e inviabiliza tanto a locomoção quanto a prática do futebol em quase todo o território gaúcho.
Leila Pereira, presidente e patrocinadora palmeirense, ofereceu seu avião para ajudar a levar suprimentos ao Rio Grande do Sul, mas foi contrária à suspensão dos jogos. Julio Casares, presidente do São Paulo, promoveu campanha de arrecadação no Morumbi, mas foi contrário à suspensão dos jogos. Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, fez leilão de camisas para destinar recursos aos desabrigados, mas também foi contrário à suspensão dos jogos.
O conceito flexível de empatia pregado pelos cartolas que se opuseram à urgente e necessária paralisação do Brasileiro fica bonito no discurso de responsabilidade social, mas se dissipa quando envolve a questão esportiva. Imunes ao impacto da tragédia, clubes como Flamengo, Palmeiras e São Paulo usaram um suposto pretexto solidário como muleta para desprezar a isonomia da competição.
Com o restante do ano comprometido por danos irreparáveis, tanto financeira quanto esportivamente, os times gaúchos reivindicavam a pausa temporária para entender a proporção dos estragos causados pelas enchentes e não serem ainda mais prejudicados em relação aos concorrentes no campeonato. Desde o primeiro momento, sobretudo quando o rio Guaíba inundou Porto Alegre, já havia motivos – humanitários, socioeconômicos e esportivos – suficientes para a suspensão provisória do futebol.
Antes tarde do que nunca, a sensatez da maioria dos clubes prevaleceu e obrigou a CBF a paralisar o campeonato nacional por duas rodadas. Um respiro providencial para um debate justo de medidas que minimizem a disparidade esportiva gerada pela tragédia, que soa como revés para dirigentes que apostaram na solidariedade pela metade em defesa de uma indefensável continuidade do calendário.