Donald Trump instaurou uma tarifa de 50% a produtos brasileiros após declarações intimidatórias relacionadas ao Brics, ao julgamento de Jair Bolsonaro e críticas ao STF, enquanto Lula rechaçou interferências e prometeu medidas de reciprocidade.
A tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a produtos vindos do Brasil, foi recebida com espanto por autoridades e especialistas. Mas as declarações com cunho intimidatório feitas pelo republicano no decorrer da última semana já davam a entender que o País não sairia ileso em sua guerra comercial.
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Em publicações na sua rede social, a Truth Social, Trump falou diretamente sobre e ao Brasil algumas vezes -- nas primeiras declarações, tinha como foco o Brics (bloco econômico encabeçado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), e, nas últimas, mencionou especificamente o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), alvo de um processo que investiga o planejamento de um golpe de Estado após as eleições de 2022.
Após as declarações de Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) publicava sua resposta ou falava à imprensa sobre o assunto.
Veja a linha do tempo da escalada das intimidações:
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Domingo, 6 de julho - Ameaça aos Brics
Após o primeiro dia de reunião da cúpula do Brics, Trump publicou em sua rede social que qualquer país alinhado ao bloco seria taxado em mais 10% por causa de suas "políticas antiamericanas".
Mais cedo naquele mesmo domingo, os líderes do Brics publicaram a Declaração do Rio de Janeiro. Mesmo sem citar nominalmente os Estados Unidos, o texto faz referência ao país ao condenar ataques realizados contra o Irã e a Rússia, dois membros plenos do bloco.
Também no mesmo dia, Lula logo criticou o posicionamento do republicano. "Eu não acho uma coisa muito responsável e séria um presidente da República de um país do tamanho dos EUA ficar ameaçando o mundo através da internet. Não é correto. Ele precisa saber que o mundo mudou. Não queremos imperador", disse.
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Segunda-feira, 7 de julho - Trump defende Bolsonaro
No dia seguinte, Trump começou a publicar quais seriam as taxas aplicadas sobre as importações dos países no geral. O Brasil acabou não aparecendo nessa leva, mas o nome do país foi citado em uma publicação em que o republicano defende Bolsonaro.
Usando letras em caixa alta, Trump chama o processo judicional contra o ex-presidente de "caça às bruxas" e pede para que ele seja deixado em paz.
"Ele não tem culpa de nada, exceto de ter lutado pelo povo. Conheci Jair Bolsonaro, e ele foi um líder forte, que realmente amava o seu País", diz trecho da publicação.
O texto provocou uma resposta através da via institucional por parte do presidente Lula, que publicou uma nota oficial por meio do Palácio do Planalto.
"A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Possuímos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei. Sobretudo, os que atentam contra a liberdade e o estado de direito", escreveu o petista.
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Terça-feira, 8 de julho - Repostagem de defesa a Bolsonaro
Trump republicou a defesa que fez a Bolsonaro no dia anterior, pedindo novamente que o ex-presidente fosse deixado em paz. Mais uma vez escreveu, em letras maiúsculas: "Caça às bruxas".
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Quarta-feira, 9 de julho - Taxação de 50%
No final da tarde da última quarta-feira, 9, Trump anunciou, então, a taxação de 50% sobre os produtos vindos do Brasil. O republicano iniciou a carta endereçada ao governo brasileiro mencionando a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele também criticou as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra plataformas de mídias sociais, acusando de serem ilegais e censuras.
Leia na íntegra a carta publicada por Trump sobre a taxação de 50% ao Brasil.
Também no mesmo dia, o presidente Lula publicou uma nota em que diz que "qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica".
Ou seja, o Brasil poderá rebater a nova tarifa com restrições a importações, suspensão de concessões e até mesmo aumento de alíquotas.
Leia na íntegra a nota de Lula em resposta à taxação de Trump.