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Tarifa de 50% é 'inviável', 'impraticável' e deve impactar revisões do PIB, dizem economistas

Especialistas revelam perplexidade diante do elevado percentual e apontam tarifaço como possível reação de Trump ao discurso de Lula na cúpula do Brics

9 jul 2025 - 20h24
(atualizado às 23h41)
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A tarifa de 50% a produtos importados do Brasil pelos Estados Unidos a partir de 1º de agosto, anunciada pelo presidente Donald Trump nesta quarta-feira, 9, é inviável para as exportações brasileiras, praticamente inviabilizando o comércio de manufaturas, e ainda pode ter impacto negativo na revisão do PIB, ainda em 2025.

Em linhas gerais, essas são as avaliações de economistas e especialistas em comércio exterior que confessaram perplexidade diante de um percentual tão elevado — a expectativa era de, no máximo, 20%.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, considera que a tarifa é inviável para as exportações.

Segundo Borsoi, as exportações brasileiras não estão indo bem, vide déficit comercial com os EUA, e não há muito para onde o País direcionar os produtos que deixarão de ser absorvidos pela maior economia do mundo.

Os Estados Unidos são o segundo maior mercado para as exportações do Brasil. Em 2024, as vendas aos norte-americanos somaram US$ 40,368 bilhões, mas ficaram bem atrás dos US$ 94,372 bilhões em exportações feitas à China, principal mercado para os produtos brasileiros, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).

Comércio de manufaturas pode ser inviabilizado

A tarifa inviabiliza o comércio de manufaturas com os Estados Unidos, comenta José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Ele diz que as empresas, numa primeira reação à medida, devem suspender vendas aos Estados Unidos, até que se tenha uma definição sobre a tarifas. Conforme Castro, agora é a hora de a diplomacia entrar em campo na tentativa de reversão.

Apesar da agressividade da política comercial do governo Donald Trump, o anúncio desta quarta-feira foi recebido com perplexidade. Em vez de ficar no piso das tarifas (10%), como chegou a anunciar o presidente americano no dia do tarifaço, 2 de abril — o que na época, trouxe alívio a exportadores —, o Brasil vai pagar a taxa mais alta para entrar nos Estados Unidos, observa Castro.

O presidente da AEB diz que esperava uma elevação da tarifa, mas para no máximo 20%. "Os 50% estavam fora de cogitação. Além do impacto direto nos embarques aos EUA, a tarifa máxima transmite uma imagem negativa aos demais parceiros comerciais", avalia Castro.

"Deixa a impressão de que o Brasil cometeu algo gravíssimo e que, por isso, está sendo penalizado. Na dúvida, ninguém vai querer fazer negócio com a gente. É um cenário que ultrapassa todos os limites."

Segundo Castro, os produtos manufaturados, que já têm dificuldades para competir nos EUA, tornam-se praticamente inviáveis no mercado americano. "Buscar novos destinos é a estratégia de todas as economias afetadas pelo tarifaço de Trump, mas, no caso do Brasil, essa possibilidade é dificultada pelos elevados custos de produção do País".

Na visão do presidente da AEB, o capital estrangeiro pode deixar o País, e a captação de recursos tende a ficar mais difícil. Já as commodities, cujos preços são definidos no mercado internacional, têm perspectivas mais favoráveis.

Tarifa deve trazer revisões 'baixistas' para o PIB

A tarifa de 50% é impraticável e, a princípio, pode puxar revisões baixistas para a atividade econômica, na visão de Marcos Moreira, sócio da WMS Capital.

"Inicialmente, a leitura é que essas tarifas devem ter impacto, com uma revisão baixista para o PIB ainda em 2025", afirma, lembrando que é necessário, porém, aguardar qual será a posição do governo brasileiro, caso seja anunciada qualquer tipo de postura retaliatória.

A sessão dos mercados nesta quinta-feira deve ser de forte estresse, avalia. "Amanhã é um dia que vamos ter dólar para cima, curva de juros também subindo e Bolsa para baixo. Principalmente porque o mercado já vai tentar antecipar o possível impacto que essas tarifas poderão ter na economia brasileira", explica.

"O dólar mais alto pressiona os juros e a inflação. E, consequentemente, juros e dólar têm uma correlação negativa com a Bolsa", complementa.

Discurso na cúpula do Brics pode ter deflagrado taxação

O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a cúpula do Brics - permeado por críticas aos Estados Unidos (EUA) - deflagrou a taxação anunciada hoje, avalia José Augusto de Castro. Para ele, o Brasil passou a ser tratado como um país que cometeu algo grave, prejudicando sua imagem no exterior.

"Sem Rússia e China na cúpula do Brics, o Brasil cresceu e politizou o discurso, com críticas aos EUA, talvez pensando num ganho político-eleitoral, e gerou esse impacto. Mas ninguém imaginava que a tarifa viria nesse patamar", comentou.

Para Castro, a imposição da cobrança não estava prevista - prática comum nas medidas de Donald Trump. "As declarações de Lula no Brics ajudaram a moldar a imagem negativa do Brasil. E ele aproveitou a oportunidade."

Esse também é o entendimento do economista-chefe da Nova Futura. "Lula aparentemente irá usar Trump como muleta. Se a economia desacelerar? Culpa do Trump. Interferência na justiça brasileira? Culpa do Trump. Interferência no processo eleitoral? Culpa do Trump."

Castro ressalta, contudo, que a decisão pode ser revertida, como ocorreu diversas vezes durante o governo Trump.

Borsoi tem opinião diferente e considera que uma eventual reversão parece mais difícil no caso do Brasil do que em relação a outros países. "Nossas importações não são tão essenciais para EUA e, obviamente, a nossa questão política é importante para o Trump", acrescenta.

"(A taxação) Parece ainda pior do ponto de vista de aversão a risco, porque a justificativa da taxa é, essencialmente, política. E nosso cenário não está dando sinais na direção de moderação - pelo contrário, o presidente Lula parece estar utilizando o embate com Trump para alavancar a disputa eleitoral de 2026", considera Borsoi.

Estadão
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