Moda tem papel na mudança de mentalidade do consumidor

Marcas podem ser indutoras de comportamentos alinhados à sustentabilidade e preservação do meio ambiente

15 jun 2021 - 19h15
(atualizado em 16/6/2021 às 17h46)

Tornar sustentáveis as empresas de moda ainda esbarra no desafio de educar a sociedade para que se reconheça o valor de peças produzidas sob o cuidado da preservação do meio ambiente. A boa notícia é que as próprias empresas podem ser agentes da mudança de mentalidade dos consumidores. E cada vez mais cumprem esse papel.

O Summit ESG, evento realizado pelo Estadão, trouxe nesta terça-feira, 15, discussões sobre boas práticas para a moda sustentável. Participaram do debate Mauro Mariz, diretor de Gente, Gestão e Sustentabilidade da Riachuelo; Oskar Metsavaht, fundador da Osklen e do Instituto-E e embaixador da Unesco para Sustentabilidade; e Felipe Guimarães Fleury, docente dos cursos de Negócios da Moda e Design de Moda da Universidade Anhembi Morumbi. A mediação foi de Alice Ferraz, empresária, fundadora da Fhits e colunista do Estadão.

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Painel online do Summit ESG discutiu boas práticas para a moda sustentável.
Painel online do Summit ESG discutiu boas práticas para a moda sustentável.
Foto: Reprodução / Estadão

Mariz destacou que hoje as empresas são cobradas não só pelo lucro, mas principalmente sobre como fazem esse lucro. Nesse sentido, ganham cada vez mais relevância as discussões sobre cadeias de produção sustentáveis e atenção às pessoas que participam do processo produtivo. "As empresas precisam ser agentes de mudanças, educando o consumidor."

Para Fleury, se no passado as empresas ligadas à moda atendiam aos parâmetros ambientais por medo de multa, hoje grandes corporações já trabalham nessa lógica por convicção. Uma das principais referências na moda associada à sustentabilidade, Metsavaht pondera, no entanto, que o desenvolvimento sustentável demanda inovação e que, por isso, não ocorre de uma hora para outra. "Demora para a sociedade entender e valorizar."

Como toda inovação, peças produzidas sob esses parâmetros podem custar um pouco mais caro. É preciso que os consumidores vejam que há um valor ligado a uma confecção que não destrói florestas e que fomenta o desenvolvimento de comunidades pobres. "Quem consome ajuda aquele pequeno povo que vive da extração ou o projeto de um biólogo. Esse é o ponto de virada", diz Metsavaht.

Mariz aponta ainda que o custo das peças tende a ficar menor. Segundo ele, hoje boa parte das matérias-primas são mais sustentáveis, sem que isso leve a nenhum custo adicional. Na Riachuelo, há exemplos de redução do volume de água para produzir jeans, uso de energia renovável e o apoio à capacitação de profissionais no sertão do Nordeste para atuar na costura.

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A utilização do couro do pirarucu é uma das iniciativas sustentáveis da Osklen
Foto: Divulgação/ Instituto-E / Estadão

Consumidores devem ficar atentos e verificar se os produtos da moda atendem, de fato, à urgência de preservação ambiental, alerta Fleury. O professor citou o exemplo da fibra de algodão, propagandeada por empresas como sustentável. A produção, no entanto, pode esconder o uso de agrotóxicos, com contaminação do solo, ou de combustíveis fósseis para o transporte.

Outro desafio, segundo os debatedores, é garantir o upcycling na moda, ou seja, o reaproveitamento de materiais. Para Fleury, o processo depende da educação dos consumidores e Metsavaht diz que a logística reversa que promove o upcycling ainda é cara. Alguns passos nesse sentido estão sendo dados, segundo Mariz, para prolongar a vida útil dos produtos. O diretor da Riachuelo citou parceria com a Liga Solidária para facilitar a doação de peças ou a reciclagem de roupas.

Mais do que nunca, segundo os debatedores, parcerias no mundo da moda têm de ganhar força para garantir a sustentabilidade dos projetos. A conexão pode ser feita com cientistas, organizações da sociedade civil e até com outras empresas. "Temos de sair da competição e ir para um modelo colaborativo", diz Metsavaht.

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