O ano de 2025 está se aproximando do fim, e para começar 2026 bem, é preciso entender o que movimentou o mercado neste ano e quais são as perspectivas para o ano que vem. Em cartas enviadas aos cotistas, AZ Quest, Fator e Kinea revelam algumas de suas estratégias de investimento e opinam sobre os cenários que se desenham para os próximos meses.
Para o ano que vem, de acordo com as três casas, um dos principais faotres de risco e volatilidade está relacionada à política fiscal dos Estados Unidos.
A Kinea descreve o cenário americano como um "cerco prolongado", ressaltando que os estímulos contínuos, que vão da política industrial ao apoio ao consumo, chegaram ao limite da eficiência, mas continuam politicamente necessários.
A Fator vai na mesma linha, citando 2026 como o ano em que o Fed enfrentará o dilema entre atividade e inflação.
"O consumidor americano já dá sinais de fadiga, especialmente nas camadas de renda mais baixa", diz a casa, em um sinal que, historicamente, antecede cortes de juros. Por outro lado, a gestora pondera que a resiliência do mercado de trabalho ainda impede movimentos bruscos.
Já a AZ Quest reforça que a inflação de serviços continua pressionada e que a política fiscal deve manter a curva longa dos EUA inclinada. Em sua visão, o risco é assimétrico: qualquer estímulo adicional pode reacender a inflação.
Brasil: desaceleração, inflação em queda e disputa eleitoral
Por aqui, as gestoras relembram que 2025 foi marcado pela atividade perdendo tração, a inflação surpreendendo para baixo e o mercado de trabalho sinalizando leve enfraquecimento.
"A economia opera em velocidade reduzida, e o ambiente de crédito segue mais restritivo do que o desejado", diz a Fator.
A AZ Quest destaca que a inflação corrente abre espaço para cortes de juros ao longo de 2026, enquanto o fiscal permanece como o principal freio ao entusiasmo das estratégias de investimento.
A Kinea, por sua vez, chama a atenção para as eleições de 2026, afirmando que a disputa será determinante para o prêmio de risco.
"O Brasil precisa de credibilidade fiscal para destravar o potencial da renda variável", opina a gestora, que afirma que o equilíbrio entre responsabilidade fiscal e ambição eleitoral será o fio condutor do comportamento dos juros longos.
Corte de juros no radar
Há consenso de que o Banco Central brasileiro deverá iniciar cortes na Selic no primeiro trimestre de 2026, possivelmente mais profundos do que o mercado precifica hoje.
"Se o mercado estiver certo de que a inflação irá para perto do centro da meta, o espaço para corte do BC deverá ser maior", diz a Kinea.
No câmbio, a AZ Quest enfatiza o papel do diferencial de juros, que deve se estreitar ao longo do ano, enquanto a Fator destaca a resiliência do fluxo de investidores estrangeiros como elemento-chave para o real.
Ibovespa: potencial elevado, mas dependente da âncora fiscal
A maior assimetria positiva apontada pelas casas está na renda variável doméstica. A inflação baixa e os juros em queda criam um pano de fundo favorável para o Ibovespa, mas a eleição é o fator determinante para as estratégias de investimento.
A Fator fala em "um prêmio de risco ainda elevado, mas justificável pelo ambiente político". A AZ Quest é mais direta: "Se o fiscal se mantiver sob controle, a bolsa brasileira pode ter um dos melhores desempenhos entre emergentes em 2026."
Já a Kinea fecha o argumento com uma metáfora homérica: "Assim como Troia dependia da força de suas muralhas, o Brasil depende da precisão do discurso fiscal para reduzir o prêmio de risco."
O que esperar para 2026?
Em comum, as três casas apontam que o início de 2026 não deve ser marcado por uma ruptura abrupta. O desafio, portanto, será gerir a transição entre cenários.
Para AZ Quest e Fator, o principal vetor de curto prazo segue sendo a política monetária, com atenção redobrada aos sinais do Banco Central sobre o ritmo e a extensão do afrouxamento a partir do primeiro trimestre.
Já a Kinea amplia o horizonte e chama atenção para o peso crescente da política na formação de preços, ao apontar que as eleições de 2026 tendem a influenciar diretamente juros longos, moedas, fluxo de capitais e o apetite por risco.
O consenso implícito é que 2026 exigirá disciplina e capacidade de navegar assimetrias. Em um ambiente em que decisões fiscais, monetárias e políticas estão muito interligadas, as gestoras indicam que as oportunidades existirão, mas que as estratégias de investimento serão mais sensíveis a erros de diagnóstico. O próximo ano, portanto, não deve premiar apenas quem busca retorno, mas quem consegue equilibrar proteção e flexibilidade diante de um cenário ainda em construção.