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'Fomos pegos de surpresa': Setores exportadores do Brasil lamentam tarifa de 50% de Trump

Representantes dos setores de carnes e sucos criticaram a decisão do presidente americano

9 jul 2025 - 18h46
(atualizado às 19h21)

Representantes de diferentes setores exportadores lamentaram a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre todos os produtos importados do Brasil e apontaram para os impactos negativos para o comércio global e para o País.

Carnes vão buscar negociar

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) afirmou nesta quarta-feira, 9, que a medida representa um "entrave ao comércio internacional" e ameaça a segurança alimentar global. O anúncio da medida foi feito pelo presidente americano Donald Trump, que justificou a decisão com base em questões políticas e comerciais.

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"Qualquer aumento de tarifa sobre produtos brasileiros impacta negativamente o setor produtivo da carne bovina", disse a entidade, em nota, acrescentando que "questões geopolíticas não devem se transformar em barreiras ao abastecimento global".

Carne brasileira está entre os afetados pelo tarifaço de Trump
Carne brasileira está entre os afetados pelo tarifaço de Trump
Foto: Frigorífico Astra/Divulgação / Estadão

 A alíquota de 50% começa a valer em 1º de agosto e atinge "qualquer e todo produto brasileiro", segundo carta divulgada por Trump. Ele também instruiu o Escritório do Representante de Comércio dos EUA a abrir uma investigação formal contra o Brasil com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974.

 A Abiec, que representa os principais frigoríficos exportadores do País, reforçou estar "à disposição para contribuir com o diálogo", com o objetivo de evitar que medidas como essa afetem tanto os produtores brasileiros quanto os consumidores americanos. Os Estados Unidos "recebem nossos produtos com qualidade, regularidade e preços acessíveis", destacou a associação.

 No primeiro semestre de 2025, o Brasil exportou 3,68 milhões de toneladas de produtos agropecuários ao mercado americano. Em valor, as exportações somaram US$ 5,589 bilhões, segundo os dados do Agrostat. No caso específico da carne bovina, os EUA foram o segundo principal destino das exportações brasileiras no primeiro semestre deste ano, com 181,5 mil toneladas e US$ 1,04 bilhão em receita.

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Representantes de sucos lamentam

O diretor executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto, disse que o setor exportador de suco de laranja do Brasil foi "pego de surpresa" com a tarifa de 50% sobre as exportações aos Estados Unidos anunciada hoje. O presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou a taxação sobre todos os produtos brasileiros que adentrarem os EUA a partir de 1º de agosto. "Ainda vamos analisar os impactos, mas é uma notícia péssima para o setor como um todo", disse Netto ao Estadão/Broadcast. "Entendemos que essa medida afeta não apenas o Brasil, mas toda a indústria de suco nos Estados Unidos, que emprega milhares de pessoas e tem o Brasil como principal fornecedor externo há décadas."

Com base fechamento do suco de laranja na Bolsa de Nova York (ICE Futures) de hoje, de cerca de US$ 5.480 por tonelada, já se aplicava uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada, lembra o diretor executivo. Com a taxação no início do governo Trump, de 10%, já em vigor, somam-se mais US$ 308 por tonelada. E, com a tarifa de 50% anunciada agora, o total de tarifas pode alcançar cerca de US$ 2.260 por tonelada, diz Netto, da CitrusBR. "Não se sabe, novamente, se essa tarifa de 50% será cumulativa ou não", completou.

O Brasil é o maior exportador global de suco de laranja e o principal fornecedor da bebida para os Estados Unidos. Em 2024, faturou US$ 1,193 bilhão com embarques de sucos em geral para os EUA, sendo o principal o suco de laranja, conforme dados do Agrostat, do Ministério da Agricultura do Brasil. Em volume, foram 1,326 milhão de toneladas.

Na balança comercial brasileira com os Estados Unidos, o segmento de sucos figura em quarto lugar no ranking de produtos agropecuários brasileiros exportados para o país da América do Norte, atrás apenas de produtos florestais (US$ 3,72 bilhões em 2024 e 4,87 milhões de toneladas exportados em 2024); café (US$ 2,07 bilhões e 472,5 mil toneladas) e carnes (US$ 1,411 bilhão e 248 mil toneladas).

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Setor siderúrgico pode buscar alternativas

A tarifa de 50% deve afetar principalmente as empresas do setor siderúrgico, segundo Malek Zein, analista de ações da Eleven Financial. Ele ressalta, no entanto, que é preciso analisar "caso a caso" o efeito da medida, porque empresas brasileiras têm fábricas em outros países e podem exportar aos EUA a partir destes territórios.

"Muitas vezes o Brasil vai ser tributado, mas você exporta para os Estados Unidos de outra fábrica, e a fábrica daqui exporta, por exemplo, para a Europa. Dá para ser contornado em alguns casos", afirmou, mencionando que a tarifa também pode prejudicar os setores automotivo e aeronáutico do Brasil.

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