Cannabis: empreendedor deve fugir do medicinal e buscar mercado auxiliar

Especialista alerta para oportunidades nas mais de 25 mil aplicações da planta

28 mar 2024 - 06h20
Marcel Grecco
Marcel Grecco
Foto: Divulgação

O uso medicinal da cannabis no Brasil nem era um assunto tão difundido quando Marcel Grecco criou a aceleradora The Green Hub, em 2018. O primeiro contato que ele, CEO da organização, teve com o tema foi em 2016, em uma viagem para os Estados Unidos e Canadá.  

"Identifiquei que não era uma questão de se iria acontecer no Brasil, mas quando iria acontecer no Brasil", disse Marcel em entrevista ao podcast Vale do Suplício

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Cerca de cinco anos depois, o que mais compromete o bom resultado de startups que apostam no desenvolvimento de produtos ligados a cannabis no Brasil é educacional: tanto falta de informação sobre o setor quanto de conhecimento sobre negócio, produto e oportunidade.

"A gente vê uma movimentação grande de empresas querendo achar o seu espaço dentro de um mercado que ainda está em desenvolvimento", conta. Esse desenvolvimento passa não somente pelo avanço das pesquisas científicas e aculturamento tanto de profissionais de saúde quanto de pacientes, mas do próprio órgão regulador. Em julho de 2023, por exemplo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu a Nota Técnica 35 (NT 35/2023) proibindo a importação de cannabis in natura, bem como de flores e partes da planta. A decisão sufocou um mercado que o próprio órgão havia regulado ao lançar a Resolução de Diretoria Colegiada 660 (RDC 660/2022) um ano antes, gerando um deságue de processos judiciais. 

Apesar de o terreno que sustenta a venda de produtos medicinais à base de cannabis ainda estar instável, outro fator dificulta o empreendedorismo no setor: concorrência. "O que era há três, quatro anos atrás, um oceano azul se torna um oceano vermelho. Nesse hype da cannabis, todo mundo queria ter uma empresa de CBD [cannabidiol] num intervalo de tempo muito curto, e muitas empresas não conseguiram colocar seu plano em prática e já têm um movimento de saída desse mercado", continuou, explicando que a chegada das grandes farmacêuticas aumentou ainda mais as barreiras de entrada. "O risco do negócio cresce."

Mercado auxiliar

Se o nicho de fins medicinais está obstruído, outros, que Marcel chama de "mercado auxiliar", guardam oportunidades. "A maconha tem 25 mil aplicabilidades. Estamos na infância dessa indústria", justifica. 

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Um deles é o de cosméticos, mas há ainda o cânhamo industrial e soluções de tecnologia e serviços É preciso avaliar, contudo, regulação: muitas dessas atividades ainda não são permitidas no Brasil. É ficar de olho no que está acontecendo lá fora, escolher o nicho que melhor se aplica ao objetivo e, assim como Marcel, apostar no "quando" vai acontecer no Brasil, e não "se" vai acontecer no Brasil. Para ele e o The Green Hub, que já captou milhões de reais e acelerou 14 startups, essa tática deu certo. 

(*) Adriele Marchesini é jornalista especializada em TI, negócios e Saúde e cofundadora da agência essense, que já apoiou mais de 100 empresas na construção de conteúdo narrativo e multiplataforma para negócios. Junto de Silvia Noara Paladino, criou o podcast Vale do Suplício, que traz histórias de empreendedores que falam pouco, mas fazem muito. Ouça no Spotify.                   

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