Se a economia não deve ser um peso para o governo na disputa eleitoral do ano que vem, o mercado financeiro vai acompanhar de perto os possíveis sinais que o presidente Lula pode mandar em relação à condução da política fiscal num eventual quarto mandato — se é que haverá algum tipo de sinalização.
Em 2027, é certo que o País vai precisar de um ajuste fiscal. E haverá pouco tempo para encaminhá-lo. Sem conseguir estabilizar a dívida ao longo dos últimos anos, o gradualismo brasileiro não convence mais. Parte da agenda já é conhecida. Será necessário alterar a regra do salário mínimo, rever as despesas com saúde e educação atreladas ao comportamento da receita e fazer uma apuração minuciosa nos benefícios tributários.
Por ora, no entanto, não há uma sinalização clara de que o PT vá abraçar parte ou a totalidade dessa agenda num novo eventual novo governo. Ela não é certa nem mesmo com uma vitória da oposição.
O presidente Lula entra no seu último ano com a economia em desaceleração —, mas turbinada por uma série de medidas que devem levar o Produto Interno Bruto (PIB) a crescer entre 1,5% e 2% —, mercado de trabalho aquecido, inflação em 4% e dentro do intervalo da meta e taxa básica de juros (Selic) a 15% ao ano.
A Selic não está no maior patamar em quase 20 anos à toa. No seu terceiro mandato, Lula não foi capaz de trazer estabilidade para as contas públicas — é bem verdade que o Brasil lida com um Congresso gastador e pouco disposto a qualquer tipo de ajuste fiscal.
Com o arcabouço fiscal, a dívida bruta terá alcançado quase 84% no final do governo, o que marcará um crescimento de 12 pontos porcentuais entre 2023 e 2026. É um patamar muito alto para uma economia em desenvolvimento, como é o caso da brasileira, e isso amplia a percepção de risco entre os investidores.
Em 2022, quando Lula foi eleito para o terceiro mandato, o trio, formado por Geraldo Alckmin, Fernando Haddad e Simone Tebet, conseguiu dar alguma credibilidade para a política fiscal do governo. Agora, faltam nomes para assumir esse papel diante da perda de credibilidade com o rumo das contas públicas. O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, tem sido elogiado pela Faria Lima, mas, pelo cargo que ocupa, não pode nem deveria se envolver nos debates durante a disputa eleitoral.
Com base nas últimas pesquisas eleitorais, o presidente Lula aparece bem posicionado e tem um ligeiro favoritismo na disputa presidencial, sobretudo depois que o ex-presidente Jair Bolsonaro indicou o filho Flávio Bolsonaro (PL) para ser seu candidato, tirando a força do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o preferido da Faria Lima na disputa, no campo da direita.
Se eleito para mais quatro anos, Lula terá uma agenda difícil pela frente — criada pela sua própria gestão, que optou por empurrar problemas espinhosos para frente. Nos próximos quatro anos, num cenário de nova reeleição, se ele e o Congresso não enfrentarem o problema das contas públicas com um debate sério e profundo vão deixar um País não apenas mais endividado, mas sem um Orçamento capaz de oferecer um projeto de Brasil para as próximas gerações brasileiras.