O ‘GloboNews Debate’, com Julia Duailibi, recebeu a jornalista e ativista feminista Manuela d’Ávila, ligada à esquerda, e a influenciadora e escritora Cíntia Chagas, associada ao discurso da direita elitista.
No momento mais surpreendente do programa, a apresentadora perguntou a Cíntia se ela recebeu apoio de esquerdistas após a revelação da violência doméstica praticada por seu então marido.
“Eu fui muito, muito bem acolhida”, respondeu. “Mais do que pela direita?”, perguntou Julia. “Infelizmente, mais”, afirmou a convidada após segundos de hesitação.
“Não que eu não tenha recebido apoio da direita. Recebi apoio de muitas seguidoras, abraços em palestras, até em três que fiz em Portugal. Recebi muito apoio, sim, mas as críticas vorazes que teceram contra mim vieram de mulheres de direita. Mas não tenho ressentimento porque eu fui uma delas.”
A influenciadora explicou por que algumas vezes usou as redes sociais para “acabar com a raça das feministas”.
“Agora, talvez mais madura, eu olho para trás e vejo que a raiva que eu tinha das feministas vinha da raiva que eu tinha daquilo que eu vivia na minha casa, no meu casamento. Então, eu precisava externar isso. Era um processo de negação”, explicou.
“O tempo todo eu falava bem do meu casamento para que eu mesma acreditasse que eu tinha dado certo. Por que o que a mulher conservadora quer? Ela quer dar certo na família, dar certo no casamento. Os piores vídeos que fiz contra feministas foram subsequentes a dias de agressões mais graves que eu sofri.”
A entrevistada defendeu que “a pauta do feminismo é suprapartidária, está acima de ideologia, está acima da política”.
Manuela d’Ávila disse compreender a professora de oratória. “Essa coragem da Cíntia é talvez o fato mais importante que tenha acontecido para a gente debater a violência doméstica no Brasil no ano que passou. Primeiro porque ela conecta aqui uma dimensão que nós, mulheres públicas, temos nos esforçado muito para fazer as pessoas compreenderem.”
A ex-deputada prosseguiu na análise. “Eu entendo as mulheres conservadoras, porque há uma construção social de que a nossa felicidade se dará dentro de um relacionamento. O que nós, feministas, afirmamos não é que essa não é uma possibilidade, mas que existem outras possibilidades e é preciso explorá-las.”
Em suas redes sociais, Cíntia Chagas recebeu numerosas mensagens de apoio, mas também críticas de quem a viu ‘trair’ a direita na GloboNews, canal demonizado pelos conservadores radicais.