Um clássico no universo corporativo: ser demitido ao voltar de férias. No início de agosto, Daniela Lima estava pronta para reassumir o ‘Conexão’ quando recebeu o comunicado da dispensa.
“Se você me perguntar: ‘O que te disseram?’, nada. Falaram: ‘A gente vai fazer uma reformulação. De tempos em tempos, fazemos isso.’”, relatou a apresentadora em entrevista a Tati Bernardi no UOL.
O argumento do canal soa frágil diante das estatísticas. São raras as demissões de apresentadores baseadas na alegada reestruturação.
Nos últimos 10 anos, poucos jornalistas com status de âncora foram dispensados na emissora. Entre eles, Sidney Rezende (2015), Thais Herédia (2017) e Leila Sterenberg (2023).
Na imprensa e nas redes sociais, comentou-se que o motivo do desligamento seria por Daniela encarnar a esquerda na TV ou devido a uma pesquisa com telespectadores conservadores que não gostam da GloboNews (nem da jornalista).
O provável é que ela tenha sido demitida por ficar maior do que o canal. Diante das câmeras, Daniela gosta de liderar, valorizar as notícias exclusivas conseguidas com as fontes, inserir ironia nos comentários.
Faz longas explanações, eventualmente interrompe e rebate a opinião de parceiros de programa, não esconde a vaidade inerente a um comunicador.
Tal comportamento incomoda — mais a alguns colegas e chefes do que ao público. Talvez incomodasse menos se ela fosse um jornalista homem próximo da centro-direita no espectro político.
Esta própria coluna a julgou, tempos atrás, por se sentir “dona” do telejornal enquanto as outras apresentadoras pareciam coadjuvantes.
Sob a ótica da psicanálise, a postura imponente de Daniela desperta rivalidade, narcisismo e ressentimento.
As reações dos desafetos têm a ver com o rompimento da sensação de igualdade e previsibilidade do coletivo. Ninguém quer ficar à sombra.
A revisão crítica suscitada pelo tempo indica que a jornalista estava certa em conduzir com paixão e liderança o seu trabalho.
Daniela Lima foi demitida, provavelmente, por se destacar, ofuscar, se empoderar, ganhar autonomia em relação ao canal. Surge o questionamento: são razões para mandar um profissional embora?
A GloboNews, como qualquer outra empresa, tem o direito de demitir quem quiser, quando desejar. O controverso está na maneira fria e incoerente como aconteceu neste caso.
Que ninguém se iluda: somos todos descartáveis quando ferimos egos e interesses.