Quem julga o SBT por receber Lula esquece que Bolsonaro deu valioso presente à Globo no fim do mandato

Entre altos e baixos, presidentes da República e donos de TVs sempre mantiveram relação de interdependência

16 dez 2025 - 09h43
(atualizado às 09h43)

Direitistas que aderiram à onda de cancelamento do SBT e da família Abravanel pela presença de Lula, Janja e Alexandre de Moraes em festa na sede da emissora, precisam rememorar o que aconteceu em 20 de dezembro de 2022.

Naquele dia, o então presidente Jair Bolsonaro surpreendeu aliados e opositores ao assinar a renovação por 15 anos da concessão pública da Globo. Uma decisão a apenas 10 dias do fim do mandato.

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Ao longo de quatro anos, o líder da direita e extrema direita insinuou que poderia não estender a outorga cedida pelo governo federal ao canal da família Marinho, chamado por ele de “inimigo” na mídia.

O decreto no Diário Oficial foi recebido na Globo como um presente de Natal. Conforme a coluna destacou à época, Bolsonaro tinha a opção de não assinar o documento e empurrar a decisão para Lula, que assumiria a Presidência pouco depois.

Mas, provavelmente, ele quis ganhar algum crédito com a emissora líder de audiência, para a qual solicitou várias vezes uma entrevista ao vivo — sem nunca ter sido atendido.

Assim como outros presidentes, Bolsonaro sabia da importância de manter a Globo no ar, até para sustentar a narrativa eleitoral de ser um político perseguido pela grande imprensa.

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A direção da emissora, por sua vez, sempre manteve o tom diplomático ao rebater as acusações lançadas pelo presidente conservador. Tinha convicção de que não seria prudente declarar guerra contra o chefe do Executivo. 

A mesma estratégia de autopreservação adotada por Silvio Santos desde a fundação da TVS (renomeada SBT) e, agora, por suas herdeiras em relação a Lula e ao mais poderoso ministro do STF.

Comportamento semelhante ao do bispo Edir Macedo, dono da Record, que abandonou o discurso anti-Lula após o início do terceiro mandato do esquerdista. Para quem é bilionário, em primeiro lugar vêm os negócios.

As redes de televisão querem as verbas de propaganda do governo e os presidentes da República anseiam a visibilidade gigantesca das emissoras mais influentes do país.

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Essa relação de interdependência atravessa partidos, afinidades pessoais e ideologias. Neste momento, enquanto muitos brasileiros agem de maneira passional na internet (uns tantos por mero engajamento) execrando o SBT, o grande jogo do poder é negociado discretamente nos bastidores.

Jair Bolsonaro em entrevista ao 'Jornal Nacional' na campanha eleitoral de 2022: no fim, renovou a concessão da 'inimiga' Globo
Jair Bolsonaro em entrevista ao 'Jornal Nacional' na campanha eleitoral de 2022: no fim, renovou a concessão da 'inimiga' Globo
Foto: Reprodução/TV
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