O SBT virou SPT. É o que afirmam nas redes sociais os fãs revoltados do canal. Eles não aceitam a recepção de honra da família Abravanel a Lula, Janja e comitiva do governo na festa de lançamento do SBT News.
As fotos do presidente de mãos dadas com Patrícia Abravanel e beijando a testa de Íris Abravanel provocaram indignação nos bolsonaristas.
As imagens são realmente surpreendentes, porém, não indicam que o clã fundado por Silvio Santos tenha aderido à esquerda. O que se vê nas entrelinhas é o pragmatismo de interesses.
O próprio apresentador era um fiel adepto deste conceito: buscava cultivar relação amistosa com quem estivesse no poder, independentemente de ser um político conservador ou progressista.
“Eu sou concessionário, um office boy de luxo do governo”, disse à ‘Folha’ em 1988. Ele pensava com a cabeça de dono de empresa: precisava garantir a renovação da concessão do SBT e verbas de propaganda do governo para a emissora, não importava quem fosse o presidente da República.
Assim, cortejou todos os chefes do Executivo desde que fundou a TVS graças à canetada do último presidente do regime militar, João Batista Figueiredo, de quem ficou amigo.
Na campanha presidencial de 1989, quando Lula ainda era visto como um radical, Silvio o levou para ser entrevistado no ‘Show de Calouros’. Quando o esquerdista chegou ao Palácio do Planalto, o dono do SBT o visitou em Brasília para convidá-lo ao Teleton. Tiveram outros encontros, sempre cordiais.
O lendário comunicador jamais disfarçou o pensamento conservador nem autocensurou as declarações politicamente incorretas, mas evitou demonizar o outro lado do espectro político para evitar inimigos e possível retaliação contra seu negócio.
As filhas que agora comandam o SBT aprenderam a lição: mesmo evangélicas e à direita, deixam de lado as crenças e preferências pessoais e agem com a diplomacia e a objetividade do mundo empresarial ao tratar Lula com deferência. Afinal, ele comanda o país e poderá conquistar um quarto mandato.
As herdeiras não querem ver a emissora passar pela experiência negativa da Jovem Pan News, que apoiou fortemente Jair Bolsonaro e transformou Lula em alvo de ataques incessantes.
Após a eleição de 2022, o canal ficou quase sem nenhum investimento publicitário da Presidência petista. Fez até uma reclamação pública para tentar reverter a situação.
Rapidamente recuou na militância jornalística, demitiu comentaristas considerados radicais e abandonou a linha editorial associada à extrema direita. As verbas publicitárias federais voltaram.
Na análise fria do fato, o SBT segue fiel ao manual silencioso deixado por Silvio Santos: preservar pontes, evitar confrontos desnecessários e reconhecer o peso de quem ocupa o Palácio do Planalto.
Não se trata de traição ideológica nem uma nova paixão política, é tão somente cálculo para manter o patrimônio da família.
